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Aposta de Eike, brasileiro Felipe Nasr empolga europeus e adota caminho sem atalhos até a F-1

Piloto brasileiro Felipe Nasr posa com a equipe campeã da Fórmula 3 Inglesa em 2011 - Divulgação/Site oficial Felipe Nasr
Piloto brasileiro Felipe Nasr posa com a equipe campeã da Fórmula 3 Inglesa em 2011 Imagem: Divulgação/Site oficial Felipe Nasr

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

24/02/2012 06h00

O torcedor nacional que vem acompanhando a Fórmula 1 nas últimas temporadas acusa um certo desânimo em relação aos pilotos do país na categoria. No entanto, apesar de preferir distância estratégica do rótulo, um jovem desponta na Europa descrito como a nova "esperança brasileira". Trata-se de Felipe Nasr, brasiliense de 19 anos, que trilha caminho cuidadosamente estudado visando a F-1, evitando atalhos mais óbvios, e tem como um dos financiadores o bilionário Eike Batista.

FICHA TÉCNICA DO PILOTO

Nome: Luiz Felipe de Oliveira Nasr
Nascimento: 21/08/1992, em Brasília
Residência: Brasília e Woking (Inglaterra)
Corridas: 82
Vitórias: 17
Poles: 17
Piloto favorito: Ayrton Senna
Circuito predileto: Spa-Francorchamps

Campeão da Fórmula 3 Inglesa na última temporada (categoria que teve Fittipaldi, Senna, Piquet e Barrichello campeões), Felipe Nasr acaba de migrar para a GP2, disputa considerada a última etapa antes do ingresso convencional na F-1.

Depois de correr por três temporadas na Europa sem patrocínio, Nasr conseguiu para 2012 a parceria com o Banco do Brasil e com a OGX, braço do grupo EBX, de Eike, no setor de exploração e produção de petróleo e de gás.

A empresa de Eike Batista acertou uma parceria de longo prazo com Nasr, em parte do recente aporte financeiro do oitavo homem mais rico do mundo em negócios ligados ao universo do esporte. O magnata que ajudou a bancar a entrada de Bruno Senna na Williams enxerga no novato da GP2 uma esperança de sucesso dentro da Fórmula 1 no futuro.

"É um trabalho feito há algum tempo, não foi da noite para o dia. Esperamos o momento certo de ter empresas brasileiras com o Felipe. Com o Banco do Brasil e a OGX a gente atinge esse espírito. Nada mais que brasileiro que o grupo EBX, do Eike Batista, um desses orgulhos desse Brasil que dá certo", diz Amir Nasr, tio de Felipe, um dos responsáveis pela condução da carreira do sobrinho.

A equipe que cuida do piloto não chegou a ter uma reunião com a presença de Eike. No entanto, o estafe de Nasr trabalha com a orientação e inspiração do bilionário.

APRESENTAÇÃO PELO JORNAL NACIONAL

Há duas semanas, o noticiário de televisão mais popular do Brasil apresentou Felipe Nasr para o país. O jovem de Brasília foi descrito pelo Jornal Nacional da Globo como o principal destaque do país no automobilismo internacional em 2011, em reportagem que encerrou a atração.

O anúncio do ingresso de Nasr na GP2 em rede nacional representa um início de torcida da emissora, que hoje em dia conta com um produto caro em baixa, em termos de atenção no país - com o cenário do possível desligamento de Rubens Barrichello da F-1 e mais temporadas seguidas de irregularidade de Felipe Massa, o brasileiro remanescente da categoria.

"Estava na hora de o Felipe aparecer. A gente não tinha nenhum contato da Globo. Eles foram atrás, apareceram para cobrir algumas etapas da Fórmula 3. Ouvimos da Globo que o Felipe virou noticia. É importante, sim. Até para os patrocinadores terem retorno", afirma Amir Nasr.

Além da atenção da principal emissora de TV do país, ligada historicamente ao mundo da F-1, Nasr terá a oportunidade de aparecer correndo em uma categoria que conta com transmissões ao vivo para o Brasil, já que o Sportv exibe a GP2.

"Eike deixou bem claro a preocupação dele de ter um brasileiro fazendo sucesso lá fora. Isso mostra bem o espirito do Eike, ajudando brasileiros a ter mais chances no exterior", afirma Amir, que acompanha o sobrinho Felipe em todos os passos na carreira pela Europa.

Quase desconhecido em seu país, Nasr tem tratamento de futuro nome da Fórmula 1 na Europa, graças ao sucesso na F-3 e na F-BMW, disputa em que foi campeão em 2009.  

O jovem foi o único brasileiro presente na lista de 50 melhores pilotos de 2011 elaborada pela revista especializada Autosport, com a 32ª colocação (Michael Schumacher foi o número 38). A relação que reúne representantes de diversas categorias do automobilismo teve o alemão Sebastian Vettel como vencedor.

"O Felipe ficou conhecido primeiro lá fora, depois aqui dentro. É tratado por jornalistas da Europa como um futuro nome da Fórmula 1. Nos últimos dez anos todo piloto que surgiu aqui foi tratado como uma promessa, mas nenhum vingou. A gente tinha o receio de ter nosso projeto confundido assim", afirma o tio do piloto, sobre a estratégia de aparecer no Brasil somente depois de alguma experiência internacional.

NASR TROCA PROJETOS PARA JOVENS DA F-1 POR RODAGEM CONSERVADORA

Ainda em 2009, quando corria na F-BMW europeia, Felipe Nasr foi patrocinado pela empresa que comanda a Red Bull e recebeu convite para participar do programa de jovens pilotos da equipe, o mesmo que revelou o bicampeão mundial Sebastian Vettel. No entanto, a equipe que cerca o brasileiro recusou a oportunidade e fechou com o agente inglês Steve Robertson.

COMENTÁRIO DE FÁBIO SEIXAS

Os desafios de Nasr - "O fato de o anúncio ter sido em horário nobre global diz muito. Para a emissora, é bom que exista um brasileiro-promissor-no-caminho-da-F-1. Ajuda a vender um produto meio em baixa, as corridas nas manhãs de domingo."

Aos cuidados do mesmo manager de Jenson Button (que também já cuidou dos interesses de Kimi Räikkönen), Nasr teria ainda descartado oportunidades em programas semelhantes de McLaren e Ferrari para desenvolvimento de talentos. Tudo em nome de rodagem em categorias de preparação e de uma formação mais sólida antes de uma eventual chance na F-1.

"Existe uma atenção [da F-1] desde que o Felipe pisou na Europa, em 2009. Tivemos várias propostas, mas a gente definiu seguirmos um caminho próprio. Vimos que era importante o Felipe se desenvolver como gente também, respeitamos muito as fases da vida dele. O foco maior é a formação como piloto. A ideia é que ele treinasse muito, corresse muito. Se estivesse em um programa de Fórmula 1 teria tanta coisa paralela, não seria uma boa ideia", diz o tio do piloto, mentor de sua carreira.

"Existe [uma projeção], mas a gente nunca trabalhou com esse controle, essa precisão. A expectativa mais otimista é estar na F-1 em 2013. A mais realista é em 2014", acrescenta Amir.

Em 2012, Nasr estreia na GP2 com expectativas controladas, apesar da oportunidade de começar na equipe campeã do último ano. A Dams venceu em 2011 com o francês Romain Grosjean (atualmente na Lotus, na F-1) e tem nesta temporada o italiano Davide Valsecchi como companheiro do brasileiro e mais experiente da escuderia.

A estreia oficial de Felipe Nasr na GP2 acontece no final de semana de 24 e 25 de março, no circuito de Sepang, na Malásia.