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Piloto que morreu em Interlagos pagou para correr e chorou ao ganhar pneus

Gustavo Setti e Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

15/04/2019 14h06

A morte do piloto Maurício "Linguiça" Paludete, de 44 anos, após sofrer acidente no autódromo de Interlagos ontem (14), chocou os participantes do SuperBike Brasil. Ele perdeu o controle de sua moto no fim da reta dos boxes, passou direto pelo "S do Senna", bateu forte no guard rail e não resistiu aos ferimentos.

Morador do Jardim Patente, bairro de São Paulo (SP) próximo a São Caetano do Sul, Paludete sempre foi apaixonado por motos e tinha o sonho de disputar competições desde muito jovem. A decisão por correr até gerou preocupação na família, mas era praticamente impossível fazer com que ele mudasse de ideia.

"Sabíamos que era perigoso, mas não tinha como evitar. Não tinha como falar com ele sobre isso. Se ele pudesse trocar uma volta ao mundo para poder pilotar, ele faria", afirma Ana Ribeiro, prima do piloto, em entrevista ao UOL Esporte.

O carinho pelas competições era tanto que Paludete chegou a pagar do próprio bolso para correr a prova que terminou em tragédia. Desempregado nos últimos meses, o piloto tinha apoio de uma empresa de implantes ortopédicos, mas o patrocínio não continuou para esta temporada e, com isso, ele ficou sem recursos oficiais para as primeiras disputas deste ano. De acordo com a família, o antigo patrocinador pagou todos os custos do funeral.

Desta forma, Paludete precisou investir cerca de R$ 2 mil (custo de inscrição) para estar em Interlagos ontem (14). O piloto ainda contou com a ajuda do companheiro de equipe Rubem Nicolas, que o presenteou com um jogo de pneus novos para que pudesse competir.

"Eu o presenteei com um jogo de pneus na sexta-feira (12), e ele divulgou a empresa em que eu trabalho. Tinha que ter um jogo novo para a corrida. Eu o chamei e dei a notícia de que eu daria os pneus. Ele começou a chorar e me abraçou", conta Rubem Nicolas.

Relação com SuperBike e família indignada

Paludete era visto como seguro e experiente nas pistas. Ele estava no SuperBike há cerca de oito anos, mas sem grandes conquistas. Em 2017, o piloto ficou afastado por mais de seis meses após sofrer uma fratura exposta na região da tíbia, mas nada que o fizesse questionar o gosto por motos.

A forma como a categoria tratou a morte deixou a família do piloto indignada. Os familiares acreditam que o evento não se sensibilizou de forma adequada e só divulgou o fato nas redes sociais após cobranças de internautas. Além disso, o SuperBike não teria assumido que a morte aconteceu dentro do autódromo.

"Ficamos revoltados, mas era o que ele gostava. Ele teve a vida que quis, fez o que gostava e tínhamos que aceitar. Ficamos com raiva do evento, que fala que ele não morreu lá dentro. Eles não assumiram que o piloto veio a óbito lá. Eles nunca falam que morreu lá para não queimar o evento", disse Ana Ribeiro.

Maurício "Linguiça" Paludete foi enterrado hoje (15) em São Caetano do Sul. Ele recebeu uma grande homenagem feita por amigos e companheiros de corrida.