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Constrangimento de árbitros e palavrões marcam teste tecnológico no vôlei

Tecnologia usada no vôlei "flagra" toque na rede durante partida-teste no Ibirapuera  - Alexandre Arruda/CBV
Tecnologia usada no vôlei 'flagra' toque na rede durante partida-teste no Ibirapuera Imagem: Alexandre Arruda/CBV

Do UOL, em São Paulo

04/04/2013 06h00

Cheguei ao Ginásio do Ibirapuera, na noite desta quarta-feira, curioso para saber como seria assistir à primeira partida de vôlei no Brasil, nos últimos anos, com o uso de recursos tecnológicos para auxiliar a arbitragem. 

A poucos dias da decisão da Superliga feminina, entre Sollys/Nestlé e Unilever, a CBV optou por testar os recursos com os mesmos árbitros que apitarão o confronto do próximo domingo, às 10h. A intenção é uma só: diminuir o excessivo número de erros que ocorreram no torneio e evitar que a partida seja atrapalhada por qualquer equívoco.

O teste teve como "cobaias" as equipes juvenis do Sesi e do Pinheiros. Pensava como seria, especialmente, as reações dos árbitros e jogadores com o chamado "desafio", que auxilia, através das imagens, os árbitros a tirarem dúvidas se acertaram, ou não, em lances polêmicos.

A partida-teste estava marcada para começar 20h30. Para haver os últimos ajustes no sistema, atrasou e começou por volta das 21h. As poucas pessoas presentes no ginásio, em sua maioria da imprensa, tinham a mesma curiosidade e torciam para haver logo o primeiro "desafio". 

O sistema foi trazido da Polônia especialmente para a final da competição nacional. Dois rapazes europeus eram os responsáveis por controlar os botões e tirarem, em questões de segundos, as dúvidas surgidas.

Eis que, ainda no primeiro dos três sets disputados, surgiu uma dúvida: houve ou não toque na rede da atacante do Sesi. "Opa, bom lance para desafiar, hein?!", questionou um dos membros da organização. Dito e feito. Rapidamente, o terceiro árbitro, sentado à frente de pequenos monitores, com as imagens das câmeras espalhadas pela quadra. De fato, havia tido o toque na rede. Ponto para o juiz.

Não demorou para o segundo desafio ocorrer. O fiscal de linha apontou invasão de uma atleta do Pinheiros na área de saque. A capitã pediu o desafio. E a imagem mostrou que não havia tido irregularidade. Sem graça, o árbitro que marcara o erro abaixou a cabeça, visivelmente constrangido - não foi a única vez que isto ocorreu. Lembrando que, nesta noite, não havia público no ginásio, e os presentes quase não se interessavam pelo duelo.

E se no domingo, com quase 10 mil pessoas nas arquibancadas e cadeiras do Ibirapuera, as imagens corrigirem os árbitros? As torcidas de Unilever e Sollys/Nestlé certamente não terão a compreensão de entender que "errar é humano", como disse Anderson Luiz Caçador, juiz de cadeira da decisão e que participou do teste nesta quarta.

"Somos humanos e podemos errar, mas estamos preparados para fazer o nosso papel, que é falhar o menos possível. E esse novo sistema que a CBV está nos oferecendo, faz com que o erro seja cada vez mais evitado", afirmou Caçador.

FOTOS: O PRIMEIRO TESTE DO USO DA TECNOLOGIA NO VÔLEI

  • Alexandre Arruda/CBV

Ao longo da partida, mais precisamente no primeiro set, chamou a atenção a demora e a extensão da parcial. Até mesmo os juízes se atentaram a isso, e alteraram o modo de comunicação entre eles. Optaram, então, por fazer o "teste verdadeiro", como será de fato no domingo: cada equipe passou a ter direito somente a dois desafios por set - até então estava ilimitado. "C...., de novo? Vamos sair daqui só amanhã", brincou um dos envolvidos no jogo.

Despertou minha atenção, também, a reação de jogadoras quando eram 'desmentidas' pelas imagens. Uma atacante do Pinheiros atacou para fora, o árbitro assinalou bola dentro, e gerou reclamação das rivais, do Sesi. "Não, não, foi dentro, p....", gritou a ponteira. Desafio feito, prova tirada: bola fora e ponto para o Sesi. A 'autora' do erro ficou sem graça, e pediu desculpas às companheiras. "Erro meu, c...", cravou.

A cada bola duvidosa - e desafiada -, os juízes trocavam olhares. Por um microfone de lapela e com os famosos "pontos eletrônicos", os três principais trocavam informações e tentavam afinar a prática do que, na teoria, parecia simples. A partir dali, a situação melhorou, o jogo fluiu de maneira mais ágil e acabou com vitória por 2 a 1 do Sesi. 

O resultado, na verdade, pouco importava. No fim, a conclusão de todos os presentes é que o teste, feito diversas vezes, valeu a pena e a tecnologia foi previamente aprovada. Fica, agora, a curiosidade de saber como será todo este funcionamento e, mais uma vez, as reações dos "homens de branco" diante da pressão e dos gritos de tantos torcedores no próximo domingo.

  • Alexandre Arruda/CBV