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Regulamento confuso faz Mundial ter caminho indefinido e jogos inúteis

China entrou para jogar contra o Brasil já desclassificada - Terceiro Tempo
China entrou para jogar contra o Brasil já desclassificada Imagem: Terceiro Tempo

José Ricardo Leite

Do UOL, em Katowice (Polônia)

12/09/2014 12h54

Sorteios, times que têm que fazer até três partidas só para cumprir tabela e um caminho difícil de decifrar para a terceira fase mesmo para quem é líder e em tese já tem uma rota pronta. O regulamento do Mundial masculino de vôlei não é fácil de entender: uma equipe precisa fazer - se quiser ser campeã - um total de 13 jogos, divididos em três fases, semifinal e final.

A competição teve início com 24 participantes divididos em quatro chaves de seis, sendo que avançavam as quatro seleções melhores qualificadas. Ou seja, depois de 60 jogos, apenas 8 dos 24 que começaram foram eliminados.

Na segunda fase, a que está em jogo atualmente, equipes do grupo A da fase inicial cruzam com as do D, e as do B com C. As 16 equipes que restam são divididas em duas chaves, sendo que só as três primeiras de cada uma avançam. Todos os times levam consigo nessa etapa os resultados da primeira, exceto contra aquelas equipes que foram eliminadas. 

No caso do Brasil, por exemplo, foram descartados os resultados contra Coreia do Sul e Tunísia, os eliminados na primeira fase. Já entrou na segunda com nove pontos (frutos das vitórias sobre os outros que passaram, Alemanha, Finlândia e Cuba).

Isso fez com que dois times iniciassem a segunda fase zerados, já que as duas únicas vitórias que os levaram à segunda fase foram sobre equipes eliminadas. É o caso de China e Austrália. O time asiático venceu México e Egito para avançar, enquanto o da Oceania bateu Venezuela e Camarões.

Estrearam já na segunda rodada com a “missão impossível” de terem que vencer os quatro compromissos para terem chance de ficar entre os três primeiros. Como já perderam logo de cara, já no segundo jogo, na última quinta, começaram a cumprir tabela.

E ainda terão que fazer isso no final de semana, quando terão ainda mais duas partidas pela frente. No caso destas frágeis equipes, elas podem terminar o torneio como times que passaram de fase, mas que o aproveitamento final um medíocre 18,5% (no caso da Austrália, que fez cinco pontos na primeira fase por ter vencido um jogo por 3 a 2, que distribui apenas dois pontos).

Terceira fase tem critérios complicados

Mais complicado é, talvez, entender qual o caminho do Brasil, por exemplo, a partir da terceira fase. O regulamento diz que o primeiro colocado do Grupo F (da seleção brasileira) fica em Katowice na próxima etapa, enquanto o líder do E fica em Lodz, sede do outro triangular. Os segundo e terceiro colocados vão ser divididos para os dois grupos mediante sorteio. Mas há um detalhe importante: a seleção polonesa, caso se classifique, terá necessariamente que jogar na cidade de Lodz, o que deixa ainda mais complexas as projeções.

Se, por exemplo, a Polônia não se classificar como primeira colocada e for sorteada para a chave do Brasil se ele for primeiro colocado, necessariamente a sede brasileira terá que ser modificada e o time viajará para jogar em Lodz. Assim, o primeiro do grupo da Polônia troca e vai para Katowice. O time de Bernardinho pode permanecer na cidade que está desde o início mediante as seguintes condições: ser primeira colocada e a Polônia também avançar como primeira, ser primeira colocada e a Polônia avançar como segundo ou terceira e não for sorteada para seu grupo, ser primeiro colocado e a Polônia não se classificar, ou ser segundo ou terceiro e não for sorteado para o mesmo grupo polonês caso eles avancem. Outra possibilidade é a Polônia não se classificar, o Brasil ser segundo ou terceiro e ser sorteado para a cidade em que vem jogando.

O regulamento pode fazer até com que Brasil e Rússia, que se enfrentarão no último jogo da segunda fase, no domingo, já duelem novamente no primeira partida da terceira caso sejam sorteados para o mesmo grupo. E a dificuldade não ficará por aí. Depois que avançarem os três de cada chave, eles serão divididos em dois grupos de três, em que cada um joga contra o outro de sua chave e saem dois para as semifinais.

Case em uma mesma chave, cada time vença um jogo e perca outro, o desempate será no número de pontos (vitória por 3 a 0 ou 3 a 1 dão três, e por 3 a 2 apenas dois). Se persistir, será set average (sets marcados divididos por sets perdidos) apenas daquela fase. Ou seja, as duas anteriores não significam nada.

Dentro da seleção brasileira, no entanto, os atletas dizem não se preocupar com o regulamento e que nem fazem futuras projeções. A receita é vencer os jogos e esperar a definição para só depois disso debaterem o que vem pela frente.

“Não pensamos nisso em quem vamos cruzar na outra semana. Pensamos nos jogos do fim de semana. Quando acabar domingo à noite o Bernardo conversa com a gente sobre futuros adversários”, disse o líbero Mário Jr.

“Está bem claro. Acho que hoje o que pensamos é sempre buscar a vitória em todos os jogos. Não dá para ficar pensando muito no que vai acontecer. Tem time entrando, tem time saindo.. Estamos em uma situação relativamente confortável porque estamos bem na classificação, mas têm times colados atrás. Não dá para pensar muito, tem que jogar. É focar em vencer o próximo jogo pra se classificar e depois pensamos no resto do campeonato. Vamos fazendo pontos e depois vemos com quem vamos cruzar. A próxima é sorteio. O que temos que fazer é classificar e depois vemos o que tem pela frente”, falou o ponteiro Lipe.

Na segunda fase, o Brasil lidera o Grupo F, com 15 pontos, um a mais do que a Rússia, segunda colocada. Uma vitória na partida de sábado às 11h30 (horário de Brasília) contra o Canadá já garante os brasileiros na segunda fase.