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Poloneses foram "amiguinhos" do Brasil só no começo. Depois tudo mudou

Poloneses comemoram durante o Mundial de vôlei - FIVB/Divulgação
Poloneses comemoram durante o Mundial de vôlei Imagem: FIVB/Divulgação

José Ricardo Leite

Do UOL, em Katowice (Polônia)

21/09/2014 06h00

Se você for até a Polônia e andar com as cores do Brasil, será muito bem tratado. E se demonstrar conhecimento em vôlei, então, melhor ainda. As passagens da seleção brasileira masculina de vôlei no país do Leste Europeu por 2001 e 2007, quando ganhou por lá a Liga Mundial, deixaram muitos fãs.

Nos jogos das duas primeiras fases muitos poloneses usavam as camisas de vôlei e de futebol da seleção brasileira. O ex-jogador Giba e o técnico Bernardinho chegam a ser figuras quase tão conhecidas como Neymar, por exemplo. Nos cartazes que promoviam o Mundial, muito se usava a imagem do time tricampeão.

“Por quê sou apaixonada pelo Brasil? Porque vocês são pessoas alegres e que me encantaram. Sorridentes e sempre dispostos a ajudar todo mundo. Toda vez que procuro os jogadores e Bernardinho sou muito bem recebida por eles”, disse Hanna Rafinska, quase que uma torcedora símbolo da admiração polonesa pelo Brasil e que viajou três vezes por nove horas de trem para ver jogos do time.

No primeiro duelo contra os russos, maiores inimigos da Polônia por motivos políticos e históricos, Katowice amanheceu como se fosse Rio de Janeiro. Verde e amarelo para tudo quanto é lado da cidade. A Spodek Arena parecia um Maracanãzinho que fervia a favor do time sul-americano sem parar.

Mas foi só a seleção anfitriã entrar na parada que o clima dos torcedores virou do avesso. Até compreensível que no jogo entre as duas seleções, na terça, a Atlas Arena, em Lodz, estivesse toda favorável ao país anfitrião. Mas, no dia seguinte, no duelo entre Brasil e Rússia, os poloneses já mostravam leve preferência para seu maior inimigo histórico na partida.

Uma vitória russa classificaria o time da casa para a semifinal sem mesmo depender do confronto entre eles, que aconteceria um dia depois. Ali a simpatia já mudou de lado quando a seleção local tinha interesse em jogo.

Na semifinal deste sábado, a torcida polonesa chegou cedo já para acompanhar o primeiro jogo, entre Brasil x França. Era clara a preferência da massa vermelha e branca para os franceses. Mesmo com algumas famílias e crianças poloneses usando as cores do país sul-americano, a preferência da maioria era clara de não querer vê-los na decisão. Quando os “bleus” fecharam o segundo e quarto sets, a arquibancada explodiu.

“É aquele lance, todo mundo torce para a gazela fugir do leão. Vamos estar prontos no domingo”, falou Leandro Vissotto ao comentar a torcida contra.

A imprensa local também deu sua apimentada com os brasileiros. Depois do jogo entre as duas seleções na terceira fase, deram grande destaque ao descontrole brasileiro na noite anterior com publicações sobre possíveis atos indisciplinares, como o técnico Bernardinho mostrar o dedo do meio a um jornalista local e Murilo atirar uma toalha em um dos oficiais da partida.

Nenhuma dessas imagens apareceu e o único fato que ocorreu foi uma multa à seleção brasileira de US$ 2.000 (aproximadamente R$ 4.700) pelas ausências do técnico Bernardinho e do capitão Bruno na coletiva contra Polônia e Rússia.

No sábado, após a vitória sobre a França, o técnico brasileiro pediu desculpas pela ausência e disse que não queria naquele momento ofuscar a vitória polonesa ao ir na coletiva para ter que falar de mudança de regulamento e nervosismo pela derrota. Ainda assim, depois disso, um jornalista polonês voltou a abordar o assunto quase que tentando dar uma lição de moral ao criticar a postura do treinador pelo desrespeito aos profissionais. O mesmo já havia tentado apimentar em uma pergunta para o capitão Bruno pelas críticas às provocações polonesas.

Bernardinho não perdeu o linha e voltou a dizer que estava errado. “Me desculpe, já expliquei isso.  Era o momento da Polônia e já me desculpei. Mas a FIVB fez coisas que não concordo. Mas continuo trabalhando e firme e bem”, declarou.

O meio de rede expressou as duas faces dos brasileiros para um confronto contra a Polônia: o passado de vitórias e a rivalidade criada durante o torneio. “Primeiro, traz boas recordações, numericamente temos vantagem contra eles na história. É um jogo de casa lotada, sabemos que a torcida polonesa é apaixonada e faz barulho. E pressão maior que teve em Lodz (na terceira fase) será difícil, o ginásio lá é maio”, falou.

“A vontade é de vencê-los, aquele jogo ficou engasgado, Teve uma confusão com o ponteiro deles encarando a gente e olhando pro outro lado do bloqueio, vai ser um jogo bem tenso”, completou.

Mudança beneficiou locais

Sem qualquer participação da torcida ou da equipe, a Polônia acabou beneficiada por uma mudança na tabela na terceira fase que rendeu muita polêmica. O time anfitrião se classificou como segundo colocado na fase anterior, mas logo quando caiu no grupo do Brasil tomou do time sul-americano o benefício de fazer dois jogos intercalados, como previa a tabela para o primeiro colocado do grupo.

Os brasileiros acabaram tendo que jogar seguidamente na terça, contra a Polônia, e quarta, contra a Rússia. Questionada sobre isso, a FIVB (Federação Internacional de vôlei) disse que a equipe da casa poderia ter alguns privilégios em função de ser o país sede.

"Muito fácil (responder sobre isso). O comitê tinha previsto isso, mas em 24 horas você pode mudar tudo. É uma condição geral. No Brasil você pode escolher quando quer jogar, no Japão também, e é o mesmo aqui. Nós estamos na Polônia. A Polônia pediu, e a Polsat (detentora dos direitos de transmissão no país) também. Às vezes você tem sorte, outras vezes tem azar", falou Aleksandar Boric, vice da entidade.