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O lado bom do vice: "joia" Lucarelli vai bem e caminha rumo aos craques

Lucarelli saca para o Brasil no Mundial de Vôlei - FIVB/Divulgação
Lucarelli saca para o Brasil no Mundial de Vôlei Imagem: FIVB/Divulgação

José Ricardo Leite

Do UOL, em Katowice (Polônia)

22/09/2014 12h00

É difícil tirar coisas boas tão pouco tempo depois de uma derrota, mas o vice no Mundial de vôlei da Polônia deixou pelo menos um motivo para se comemorar; o passo a mais dado por um jovem jogador e que não sentiu o peso do torneio.

O maior pontuador do Brasil no vice do Mundial de 2014 tem apenas 22 anos e menos de um ano integrado efetivamente à seleção.  Quem olhar para Lucarelli percebe a sua cara de garoto em relação à grande maioria do elenco, mas algumas atitudes de seu comportamento são quase as que de um veterano.

O jovem jogador chegou para o Mundial como a principal “joia” do voleibol brasileiro. Ir bem no torneio, se não chegava a ser um teste de fogo, era no mínimo uma grande vitrine para analisar suas reações. E ele não só correspondeu às expectativas em sua primeira grande competição como assumiu a responsabilidade.

Na semifinal, contra a França, o ponteiro teve performance impecável, com 22 pontos, muitos aces e até participações decisivas nos bloqueios. Na decisão, na derrota para a Polônia, marcou 18 e foi muito bem. Foi infernal nos saques e chegou a soltar pancadas de 120 km/h que quebraram a recepção polonesa.

No fim do jogo, admitiu sua tristeza e nem mesmo o prêmio de melhor ponteiro o consolava. “Eu acho que não (que isso ameniza a dor), porque faz uns quatro anos que eu não chorava e hoje fiquei tão triste de perder esse campeonato que não consegui me segurar. A gente merecia, ralamos demais, jogadores machucados se superando. Infelizmente estou muito triste e vamos tentar tirar alguma coisa de lição e aprendizado”.


Lucarelli fala sorrindo como um jovem, mas mostra maturidade em atitudes. Nos momentos mais tensos dos jogos do Brasil, soltava suas pancadas como se fosse um veterano. E mesmo depois de ser bloqueado, logo que era acionado no lance seguinte não errava. Parecia carregar uma experiência de década no vôlei ao não sentir a pressão.

Em um dos momentos mais delicados da campanha brasileira, no segundo duelo contra a arquirrival Rússia, seu poderoso saque não estava entrando. Foi da sua própria iniciativa não ser cabeça dura e parar com uma insistência que distribuía pontos aos rivais. “Não adiantava querer dar o viagem e o saque forte se ele não estava entrando. Dei três saques ridículos lá só pra passar pro outro lado da quadra e ainda fizemos os pontos”, falou, sorridente, depois que a nova tática funcionou.

Em um campeonato de 13 jogos, é normal a oscilação para manter um alto padrão em todas as partidas. O único jogo em que o ponteiro teve baixo desempenho foi contra Cuba, ainda na primeira fase. Era uma noite em que o time brasileiro não se achava no jogo, e Lucarelli errava acima da média. Foi um momento raro. Logo o técnico Bernardinho fez três trocas de uma vez. Lipe entrou bem e ficou até o fim naquele jogo.

“Acho que ele (Bernardinho) estava meio preocupado de eu poder não estar bem ali por causa dos erros, mas estava tudo tranquilo”, falou depois ao dizer que compreendia a intenção do técnico em preservá-lo.

Lucarelli é visto pela comissão técnica como alguém com enorme potencial para ser uma das grandes estrelas do vôlei. O técnico Bernardinho entende que o jogador tem tudo para ser um dos grandes jogadores do esporte. Mas o comandante e seus auxiliares não querem queimar etapas e trabalham com paciência para a evolução do ponteiro.

Ao avaliar a performance de seu comandado, o técnico elogiou sua evolução, mas logo já fez ressalvas como uma forma de ressaltar que ainda há o que corrigir e não se pode acomodar. “Ele deu um passo importante, mas ainda sente em alguns momentos. É um jogador excepcional. Não levei ele pra passear em Londres em 2012 (na Olimpíada) pra passear, mas porque achava que ele poderia ser preparado pra 2013. Ele assumiu uma função importante e demonstrou isso, mas ele tem potencial a mais e vamos dar estímulos e cobrar positivamente ele porque tem condições particulares e especiais”, falou o treinador.

Não só a comissão, mas até os jogadores ajudam a trabalhá-lo. Os mais experientes sempre conversam com o jovem de 22 anos para evitar ansiedade e até cobrança excessiva. “Os caras que estão há mais tempo sempre falam comigo, dão conselhos. O Bruno, Murilo, estão ali sempre querendo tirar um pouco da pressão”, falou, antes de iniciar o campeonato.