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Os times da Superliga estão irritados com a Globo. E o torneio nem começou

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Imagem: cbv

Fábio Aleixo e Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

21/10/2014 11h00Atualizada em 21/10/2014 17h16

Desde 2010, a final da Superliga é disputada em jogo único. Nesta temporada, as coisas pareciam mudar. Em reunião entre os clubes, realizada em 16 de setembro, foi anunciada a final em uma melhor de três jogos. A CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) concordou. Inicialmente.

O problema é que a Globo, detentora dos direitos de transmissão do torneio, acabou tendo a palavra final. A emissora carioca foi consultada e preferiu manter a fórmula antiga. A entidade que organiza o campeonato concordou. Para desespero de jogadores e dirigentes.

“Ninguém fala nada para nós (jogadores). Anunciaram em público que seria em três jogos e depois mudaram para uma partida e pouca gente ficou sabendo”, reclamou o ponta Murilo, bicampeão mundial e jogador do Sesi, de São Paulo, defensor da decisão em três jogos.

Supervisor do Taubaté, Ricardo Navajas foi ainda mais crítico: “Ela (Globo) decide. Foi uma imposição, isso é ridículo, como sempre. No final, discutimos e não dá em nada. Sempre foi assim, não vai mudar nunca. Os clubes deveriam participar fazendo um contrato que soubessem o que diz”, esbravejou.

A CBV defende a parceria dizendo que a decisão foi dela, após ouvir a rede de televisão e os clubes – que já tinham deixado claro sua posição. “A decisão de que as finais aconteceriam em jogo único foi exclusivamente da CBV, após analisar os anseios dos clubes com o posicionamento da Rede Globo, e também levando em consideração várias outras competições anuais que usam o jogo único para decidir um título, como exemplo a Champions League”, afirmou, por e-mail, Neuri Barbieri, superintendente geral da entidade.

Segundo ele, uma final em três jogos poderia ficar completamente fora da TV aberta. “A CBV nos últimos anos é responsável por organizar um verdadeiro espetáculo nas finais, dado a vultuosidade que o evento garante aos investidores das equipes que mantém nossos ídolos atuando aqui no Brasil. Uma final em série de três jogos é uma alternativa que deve ser melhor analisada do ponto de vista de marketing, de negócio e de visibilidade, pois corre-se o risco de não existir uma terceira partida e sequer um jogo ser transmitido em TV aberta, o que fatalmente é uma perda irreparável para os fãs do voleibol”, completou. Interpretando a frase, a Globo até poderia passar a final na TV: mas apenas se chegasse ao terceiro jogo.

O problema é que, independentemente dos acordos de TV, quase todos os envolvidos prefeririam uma decisão mais longa do que a do jogo único. Incluindo quem tomou a decisão contrária a isso: “A CBV concorda que o melhor critério técnico para ter-se um campeão seria uma série de partidas, mas que o voleibol só se popularizou porque se adequou aos critérios da TV, inclusive com alterações na regra durante seguidos anos. O voleibol é um esporte em constante mudança, buscando se adequar à realidade, e hoje, a CBV entende que o cenário é propício a final apenas em uma partida. Para as próximas edições, a CBV já se comprometeu com a Associação de Clubes de Voleibol a buscar uma solução que atenda todos os atores do espetáculo chamado voleibol, especificamente a Superliga”, admitiu Barbieri.

Os clubes, nesse cenário, acabaram perdendo tempo na reunião do mês passado (em que 11 dos 13 times participantes foram contra a final jogo único). “A Associação tentou fazer a mudança, mas já chegamos a conclusão de que não vai dar. Achei um erro da CBV deixar os clubes escolherem algo que não podia ser mudado, já que havia um contrato. Dá a impressão de que perdemos tempo”, opinou Francisco Gallego, supervisor do São Bernardo.

Presidente do conselho fiscal da Associação dos Clubes de Vôlei, que liderou a tentativa de mudança, e presidente do Montes Claros, Andrey Souza admitiu que decisão da Globo deixou a entidade abatida, mas disse que a luta para acabar com a final em jogo único não terminou. “Foi uma surpresa. Em nosso entendimento, com a reunião, ficou definido a final em playoff. Depois, foi comunicado que ia ser jogo único, por causa da transmissão da Rede Globo. Foi uma decisão que incomodou. A avaliação dos clubes foi baseada na questão técnica. Com jogo único, você privilegia quem está melhor em um dia só. Ainda estamos tentando conversar e buscar alguma maneira para mudar”.

Nesta terça-feira, durante lançamento do torneio,  o diretor de competições da CBV Radamés Lattari afirmou que segue em discussão a possibilidade de se fazer a final em melhor de três, mas que neste momento o regulamento (que prevê o jogo único) não será alterado.

A reportagem procurou a Globo, mas não recebeu resposta até a publicação da reportagem.