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Chefão da Copa-14 vira CEO do vôlei brasileiro e já tem de apagar incêndios

Ricardo Trade assumirá cargo na CBV após se desligar do Ministério do Esporte - ANTONIO SCORZA/AFP
Ricardo Trade assumirá cargo na CBV após se desligar do Ministério do Esporte Imagem: ANTONIO SCORZA/AFP

Fábio Aleixo e Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

12/03/2015 06h00

Ricardo Trade, 57, é um executivo com histórico conciliador. Como diretor de operações do COL (Comitê Organizador Local) na Copa do Mundo de 2014, foi responsável por interlocução com a Fifa em assuntos como atrasos nas obras e problemas estruturais. Após curta passagem pela Secretaria de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, ele já começou a apagar incêndios em outro lugar. Escolhido para ocupar o cargo de CEO da combalida CBV (Confederação Brasileira de Voleibol), Baka, como é conhecido, ainda não assumiu oficialmente o cargo. Ainda assim, teve de contornar problemas decorrentes da mais grave crise institucional já vivida pela entidade.

Há um ano, a CBV foi bombardeada por uma série de denúncias feitas pelo canal fechado ESPN sobre irregularidades na condução da entidade. O processo desencadeou uma série de mudanças estruturais, como a contratação de auditorias e a criação de uma comissão com participação de atletas. A escolha de Trade é parte desse processo.

O executivo, natural de Belo Horizonte, já havia trabalhado na CBV como preparador físico das seleções masculina e feminina e como supervisor administrativo. Além disso, acumulou passagem pela cúpula da CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) – como atleta, Trade tinha sido goleiro da equipe nacional de handebol.

Trade foi diretor de operações dos Jogos Pan-Americanos de 2007, realizados no Rio de Janeiro. Depois, ocupou o mesmo cargo no COL e ganhou força política em meio a uma série de mudanças na entidade – ele era o número 2 num comitê que teve troca de comando dois anos antes da Copa (Ricardo Teixeira deu lugar a José Maria Marin).

Em janeiro de 2015, o ministro do Esporte, George Hilton (PRB-MG), anunciou a nomeação de Trade para a Secretaria de Alto Rendimento da pasta. Ele foi escolhido para substituir Ricardo Leyser Martins, que migrou para a secretaria executiva.

A nomeação foi publicada no DOU (Diário Oficial da União) em 26 de fevereiro. Nesse ínterim, Trade acertou a transferência para a CBV. O executivo agora tenta uma liberação do Ministério do Esporte, e é por isso que ele ainda não assumiu oficialmente o cargo.

“O Ministério também está passando por um momento de transição, mas já está tudo certo. Ele (Trade) será um funcionário remunerado e será um executivo com total autonomia”, disse Neuri Barbieri, vice-presidente da CBV, ao UOL Esporte.

Trade já esteve em Brasília para aparar arestas na relação com o Banco do Brasil, principal patrocinador da CBV, que chegou a ameaçar cortar a verba na época em que as denúncias explodiram. O executivo também fez parte de comitiva que foi a Cartagena (Colômbia) para se reunir com Ary Graça, presidente da FIVB (Federação Internacional de Voleibol). A relação com o dirigente e com a entidade havia sido totalmente abalada pela crise local.

O que mudou na CBV um ano após as denúncias

Contratação de um CEO
Ricardo Trade assumirá o cargo para cumprir uma das recomendações feitas pela consultoria da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A CBV não contava com nenhum profissional específico para exercer esta função. Por seu estatuto, possui presidente, vice-presidente e um superintendente.

Mudança no organograma da Confederação
Envolvido nas denúncias, Marcos Pina - proprietário da empresa SMP -  deixou o cargo de superintendente geral da CBV, cargo que foi assumido por Neuri Barbieri e deixará de existir com a chegada de Trade como CEO. Além disso, alguns outros cargos diretivos foram extintos e criadas assessorias.
De acordo com Barbieri, nenhuma demissão ocorreu em decorrência do escândalo.

Participação de atletas, clubes e técnicos nas decisões da direção
Está sendo criado um comitê de apoio à diretoria estatutária da CBV. Este órgão contará com a participação de dois atletas do vôlei de quadra (um homem e uma mulher) dois do vôlei de praia (um homem e uma mulher), um representante dos clubes, um representante dos técnicos e um represnetante da imprensa. Na assembleia da CBV marcada para os próximos dias, André Heller e Emanuel já participarão como observadores.

Implantação de auditoria externa e interna
A CBV conta atualmente com duas empresas independentes fazendo a auditoria de todas as suas contas, além de um profissional da entidade que trabalha na sede da confederação no Rio de Janeiro.

Manutenção de patrocínios e mudança de contrato com Banco do Brasil
Apesar da crise institucional, a CBV conseguiu manter todos os seus patrocinadores. Porém, houve revisão do contrato com o Banco do Brasil, que fora assinado em 2012 ao valor de R$ 350 milhões e é válido até 2017. A principal alteração é que 25% deste valor vem da Lei de Incentivo, por meio de renúncia fiscal do banco.

Retomada das relações com a Federação Internacional após crise
Desde que as denúncias vieram à tona  e Ary Graça renunciou ao cargo de presidência da CBV para ficar apenas no comando da FIVB, a relação entre as entidades nacional e internacional ficaram estremecidas.

Durante o Mundial da Polônia de 20134, Bernardinho fez diversas críticas à FIVB. Após o torneio, a Federação aplicou uma série de punições aos brasileiros e irritou a CBV, que anunciou que não receberia mais a fase final da Liga Mundial.

Além disso, pela primeira vez o Brasil, não teve nenhuma etapa incluída no calendário do Circuito Mundial de Vôlei de Praia.

Com as relações retomadas, o Rio de Janeiro será palco da fase final da Liga Mundial, em julho, e uma grande competição de vôlei de praia deverá ser realizada em setembro na Cidade Maravilhosa, servindo também como evento-teste para os Jogos de 2016.