Topo

Nos passos de Tiffany, espanhola terá série na TV e manda recado a haters

Omaira Perdomo  - Reprodução
Omaira Perdomo Imagem: Reprodução

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL

19/02/2018 04h00

Na lista de jogadoras inscritas para a Superliga Juvenil espanhola de vôlei, o nome de Omaira Perdomo poderia ser apenas mais um. Mas a jovem carrega uma história que a difere de suas companheiras e adversárias no torneio, que será disputado nesta semana, em Sant Cugat, cidade vizinha a Barcelona. 

Aos 18 anos, Omy - como prefere ser chamada - é a primeira atleta transexual de um esporte olímpico na Espanha. Uma história que tem semelhanças com a de Tiffany Abreu, um dos destaques da Superliga Feminina desta temporada pelo Bauru. 
Desde novembro de 2017, Omaira está liberada para disputar competições femininas por seu clube, o CCO 7 Palmas Gran Canária. A permissão veio após uma decisão judicial que deu a ela um novo DNI (a cédula de identidade espanhola), com a mudança de nome e sexo. Omaira deixou de ser Omar, e pôde perseguir o sonho de ter uma carreira no esporte que escolheu na adolescência. 
“No início, no colégio, os professores nos dividiam em times mistos. Depois, passaram a montar times de meninos e meninas. Daí me colocaram no time dos meninos e eu não quis jogar. Minha mãe foi até a escola para explicar a situação, mas não deram ouvidos. Então, foi procurar outro lugar para jogar”, contou Omy em recente entrevista ao site CTXT. 
A “situação” que a mãe teve de explicar na escola era a história de vida de sua filha: desde a infância, Omaira sempre se vestiu e maquiou como menina e, já na pré-adolescência, começou um tratamento hormonal para, quando chegasse aos 18 anos, pudesse ser reconhecida como mulher. 
Antes mesmo de que estivesse legalmente liberada para jogar, Omy já tinha começado os treinos com o time principal do CCO 7 Palmas. Desde novembro, ela já pode jogar com o time profissional, mas por enquanto ainda não foi relacionada pelo treinador Alberto Rodríguez; atualmente faz parte do time juvenil que disputa a Superliga da categoria. 
Ao contrário do que tem acontecido no Brasil com relação a Tiffany, pelo menos por enquanto a chegada de Omy Perdomo às competições não tem causado polêmica. Pelo contrário, ela tem se tornado uma referência de luta pelos direitos das transexuais no país. 
No final de dezembro, por exemplo, a jogadora foi recebida pelo presidente das Ilhas Canárias, Fernando Clavijo. “Ela é um desses exemplos de superação pessoal que o esporte nos dá”, comentou o governante. No encontro, também estavam o secretário de Esportes e Turismo das Ilhas Canárias e o diretor-geral de esportes da região. Eles disseram que farão o possível para que Omaira “possa cumprir todos os seus sonhos e objetivos no esporte”. 
Se entre as rivais ainda não houve polêmica - ao contrário do que já aconteceu no caso de Tiffany, no Brasil -, entre as companheiras o que se nota é uma preocupação em deixar a nova integrante da equipe confortável com a situação. “Nós do time a recebemos muito bem. Em nenhum momento a situação dela foi mencionada de forma pejorativa. Pelo contrário, o que queremos é que ela se integre ao grupo e sinta-se o mais cômoda possível com a gente, que sinta que está onde tem que estar”, explica a capitã do CCO 7 Palmas, Saray Manzano, de 21 anos, que também joga na seleção espanhola.  
Enquanto ainda joga entre as juvenis e espera uma chance no time profissional, Omy já começa uma outra carreira, na televisão. No fim de janeiro, ela anunciou em sua conta de Twitter que passaria a ter uma série no canal a cabo Movistar Plus. A jogadora já publicou fotos de bastidores das filmagens. 
“Faz tempo que estou guardando segredo porque tinha medo de dar errado, mas agora posso falar: fizeram uma proposta para que eu tenha minha própria série de TV. Os sonhos realmente se realizam¨, escreveu. Depois, a jovem provocou. “Dedico isso a vocês, haters. Preparem a pipoca!” 
O jeito irreverente que mostra nas entrevistas e nas redes sociais contrasta com a seriedade de Omaira ao falar da importância que casos como o seu podem ter para outras pessoas em condições parecidas. “Eu adoraria ter visto, quando era criança, algum transexual na televisão, na mídia. Mas não tem ninguém, eu não tive nenhum transexual para poder me identificar, para me espelhar. Isso é o que mais me orgulha: poder ser uma referência para as pessoas, não apenas no esporte, mas na vida”.