Topo

Atletismo adota tiro falso, economiza R$ 4,5 mil e encerra problema com a polícia

Ubiratan Martins usa a arma eletrônica em largada do Troféu Brasil - Alexandre Sinato/UOL
Ubiratan Martins usa a arma eletrônica em largada do Troféu Brasil Imagem: Alexandre Sinato/UOL

Alexandre Sinato

Em São Paulo

06/08/2011 07h01

Aquele tradicional tiro nas largadas do atletismo perdeu o charme. Pólvora e fumaça não existem mais. Agora, o barulho que autoriza o início das provas de velocidade é feito com uma arma eletrônica que faz um som muito mais baixo, mas garante economia dos organizadores e encerra os problemas causados com a polícia por culpa da pólvora.

 

A NOVA E A ANTIGA

  • Arma eletrônica custa aproximadamente R$ 4 mil...

  • ... enquanto a tradicional vale cerca de R$ 400

No Troféu Brasil que acontece em São Paulo até domingo, no Ibirapuera, uma arma eletrônica que leva duas pilhas pequenas e emite um flash a cada disparo é quem manda. Dois árbitros têm uma arma cada, caso algum atleta queime a largada e o segundo tiro, de alerta, precise ser dado rapidamente.

Antes da novidade tecnológica, diferentes armas eram usadas. Num passado mais distante, os árbitros recorriam a armas normais de calibre 32, 38 ou 45. As munições, contudo, eram modificadas. As balas eram substituídas por uma quantidade maior de pólvora, elevando a fumaça (sinal usado pelos cronometristas manuais) e também o barulho.

Depois, armas usadas fora do Brasil para espantar aves foram adaptadas. Eram revólveres com um gatilho e dois “martelos” de metal que pressionavam a pólvora, causando o estouro e a fumaça. No entanto, a pólvora se tornou um problema. Comprá-la e manuseá-la ameaçou a segurança dos árbitros e ainda causou transtornos com a polícia.

“Antes, um amigo do Exército, por exemplo, fornecia a pólvora sem maiores problemas, mas aí a polícia começou a ficar em cima, preocupada com o movimento de pólvora. E comprar pólvora não é simples, é preciso autorizações. As coisas ficaram mais rígidas”, conta Ubiratan Martins Jr., um dos seis árbitros oficiais da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF).

“O transporte também era complicado. Nós sempre viajávamos com as armas. E nas competições às vezes acontecia de as munições de pólvora estourarem nos nossos bolsos, eram muito sensíveis”, emenda Ubiratan.

A parte financeira também conta a favor da novidade. Cada munição de pólvora custa R$ 1,50. Em um evento como o Troféu Brasil, por exemplo, são feitos cerca de 150 disparos (R$ 225). Só a CBAt, por exemplo, organiza 20 competições anuais, totalizando uma economia de R$ 4,5 mil. O único gasto da nova arma são as duas pilhas e seu preço: a eletrônica sai por cerca de R$ 4 mil; a antiga custa R$ 400.

“Começamos a usar a arma eletrônica em maio deste ano, no GP de Fortaleza. Fora do Brasil ela já é usada há mais tempo. A vida útil dessa arma é muito grande”, compara Valter Augusto, outro árbitro experiente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

O único ponto negativo da arma eletrônica é o alcance do som. Os atletas escutam o tiro falso porque as armas estão ligadas a caixas de som instaladas próximas à linha de largada. A torcida, contudo, não ouve os tiros tão bem. “A arma antiga fazia muito mais barulho, sem dúvida. Mas o mais importante é o atleta ouvir”, completa Ubiratan.