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Aos 64, 'o homem que corre' encara 30km todo dia à espera de um rim

Do UOL, em São Paulo

24/01/2017 06h00

Ele fala pouco e corre muito. É um tipo que chama a atenção nas ruas: magro, barbudo e que está sempre correndo. São 30 km diários feitos sem nenhuma pretensão esportiva, sem perseguir recorde, sem querer aparecer. Keith Boissiere, de 64 anos, sai diariamente pelas ruas de Baltimore fazendo o que mais gosta.

Essa rotina se repete há pelo menos dez anos em Baltimore, mas são três décadas de corrida livre. Tempo mais que suficiente para Boissiere ser conhecido como "O homem que corre". Nenhum nome definiria melhor esse ex-carpinteiro nascido em Trinidad Tobago.

No entanto, em 2008, "o homem que corre" levou um susto. Uma doença o afastou da corrida e quase o levou à morte. Desde então, ele está na lista de espera para um transplante de rim.

O que a doença mudou em sua rotina? Pouca coisa. É o que conta o fotógrafo Patrick Smith, da agência AFP e autor de um perfil de Boissiere feito recentemente em texto e fotos. Foram quatro meses convivendo com o ex-carpinteiro para tentar descobrir alguma coisa sobre esse personagem intrigante.

Segundo Smith, Boissiere continua correndo por recomendação médica. A única restrição é quanto aos horários: ele agora tem visitas frequentes ao hospital, intervalo em que é obrigado a ficar sem correr. No restante do tempo, o "homem que corre" honra seu apelido.

Mesmo sendo uma figura simples e conhecida de todos, Boissiere não escapa da violência de Baltimore. Em 2014, foi atacado por alguns homens e levou socos no rosto. Não sofreu nenhuma lesão grave e fez questão de continuar correndo nas redondezas de onde mora, na junção de dois bairros perigosos.

Patrick Smith visitou a casa do trinitino e, de bicicleta, o acompanhou em várias corridas. Ou tentou, pelo menos. "Nenhuma das fotos que fiz dele foram fáceis de se obter. Não o alcançava com minha câmera. Mas construímos uma relação e lutei para ter acesso a sua vida, tirando fotos honestas que me ajudaram a contar sua história", conta Smith ao La Nación.

Uma história misteriosa, sem dúvida, mas que tem servido de inspiração para corredores de todos os estilos.