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Catanduva surpreende dirigentes com rifa de moto e lamenta: "basquete feminino é para abnegados"

Terceiro colocado da LBF em 2012, Catanduva fechou as portas por falta de investidores - Divulgação/LBF
Terceiro colocado da LBF em 2012, Catanduva fechou as portas por falta de investidores Imagem: Divulgação/LBF

Daniel Neves

Do UOL, em São Paulo

25/10/2012 06h00

A inusitada tentativa de Catanduva de reerguer sua equipe profissional feminina de basquete por meio da venda de rifas de uma moto pegou de surpresa os dirigentes das principais entidades da modalidade. Representantes da Liga de Basquete Feminino (LBF) e da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) afirmaram desconhecer a campanha realizada por atletas e dirigentes da equipe do interior paulista, que encerrou suas atividades por falta de verbas.

“Não tenho conhecimento disso, mas acho salutar que busquem ajuda e se reestruturem para disputar a LBF”, disse o presidente da LBF, Márcio Cattaruzzi. “É um time que criou uma tradição no basquete feminino. Vejo isso com bons olhos, mas precisam de muita coisa para se reerguer, pois dispensaram jogadoras e será complicado remontar o time”.

BALASSIANO OPINA SOBRE O CASO

Márcio Cattaruzzi simplesmente fecha os olhos, e as portas, para cidades tradicionais. Seria apenas triste se o panorama do basquete das meninas não fosse agônico, pavoroso.

Quem também foi pega de surpresa pela campanha de Catanduva foi a diretora de basquete feminino da CBB, a ex-jogadora Hortência. Procurada pelo UOL Esporte, a dirigente disse desconhecer o assunto e preferiu não opinar sobre o tema.

Campeão brasileiro em 2010, Catanduva se manteve entre as quatro melhores equipes do país na última década. Nesta temporada, porém, a equipe perdeu patrocinadores e optou por encerrar suas atividades profissionais. Jogadoras foram dispensadas e ainda não receberam o pagamento do último mês de seus salários, dívida de aproximadamente R$ 40 mil que a diretoria promete pagar até o fim deste ano.

“Hoje o basquete feminino é coisa de abnegados, você trabalha sempre na ponta dos dedos tentando se manter”, lamentou o supervisor de basquete de Catanduva, João Leite. “A federação te cobra taxas mesmo sabendo que não tem condição de pagar, a televisão quer transmitir apenas as finais. Não fomos bem nas Olimpíadas e as coisas ficaram ainda piores. O investidor não quer colocar dinheiro em algo que não tem vitrine”, completou.

MASCULINO: LEANDRINHO QUER VIRAR 'BAD BOY'

  • Após três temporadas frustrantes, Leandrinho espera construir um novo caminho na NBA. Um dos reforços do Boston Celtics, o ala-armador brasileiro atuará em uma nova posição em quadra e diz que pretende trocar até mesmo seu jeito ‘boa praça’ pelo estilo marrendo e ‘bad boy’ do elenco de sua nova franquia.

    “Serei igualzinho a eles, estou no time deles agora. Agora estou do outro lado e tenho que fechar com os caras. Se tiver que fazer [provocar os adversários], vou fazer”, disse Leandrinho, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. Leia mais

Na tentativa de arrecadar dinheiro suficiente para pagar as dívidas da equipe, torcedores, dirigentes e a armadora Natália resolveram se mobilizar. Suspensa por doping, a jogadora saiu em busca da ajuda de moradores de Catanduva e acabou presenteada por um médico local com uma moto. O veículo virou objeto de uma rifa, com cerca de 5 mil números que estão sendo vendidos na cidade por R$ 10. O objetivo da chamada ‘ação entre amigos’ é arrecadar ao menos R$ 45 mil reais.

“Quem sabe os empresários daqui se sensibilizam né? A esperança é a última que morre”, afirmou Natália, que também cobrou maior ajuda das entidades que comandam o basquete. “Os dirigentes da CBB e da LBF precisam rever o retorno que os clubes recebem. Fica muito para eles e pouco para os clubes. Também precisa organizar mais o calendário. Como os patrocinadores vão investir em um time que fica cinco meses sem jogar?”.

"A Hortência foi uma baita jogadora, somos todas fãs dela. Ela ainda pode tentar salvar o basquete feminino, tem competência para isso. Se ela fizer fora das quadras o que fez dentro, pode nos ajudar muito", completou a armadora.

Além de Catanduva, Araçatuba também fechou as portas por falta de apoio financeiro. Sem as duas equipes, a terceira edição da LBF está programada para começar no dia 1º de dezembro com a participação de 10 equipes. Cattaruzzi ressalta a entrada do Sport Recife para a competição nacional e descarta qualquer ajuda financeira aos times em dificuldade.

“A liga não tem nenhum plano de ajudar as equipes em dificuldade, senão teríamos que ajudar a todos os afiliados que apresentassem algum problema financeiro. Ela funciona como fornecedora de estrutura para os clubes, organiza a LBF e dá condições para que os clubes tenham alguma facilidade”, afirmou Cattaruzzi. “O momento do basquete feminino em termos de formação de equipe é muito bom. Há a entrada do Sport e ainda teremos Maranhão, Ourinhos, Americana e São José reforçados, com times muito fortes”.