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Maior campeão nacional, Franca apela à população para não fechar as portas

Franca, de Figueroa (de branco), corre risco de ter de deixar o NBB - Newton Nogueira/Divulgação
Franca, de Figueroa (de branco), corre risco de ter de deixar o NBB Imagem: Newton Nogueira/Divulgação

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

10/11/2014 14h58

Equipe mais tradicional do basquete brasileiro, Franca vive uma situação financeira delicada e corre riscos até de não conseguir disputar até o fim a sétima edição do NBB, que teve início no fim de outubro. Sem um patrocinador master desde agosto, quando encerrou-se o contrato com a empresa de telefonia Vivo, a diretoria admite que a água já bateu no pescoço.

“A situação é muito delicada mesmo. Estamos sem receita para cobrir as despesas que foram assumidas, há alguns salários que estão atrasados. Estamos nos mobilizando e contando com o apoio de todos na cidade para que não tenhamos até mesmo de interromper as atividades, o que seria muito ruim para um clube que compete sem paralisações há 60 anos. Todos os jogadores estão cientes, estamos sendo o mais transparente possível”, afirmou ao UOL Esporte Edu Mineiro, supervisor técnico do Franca.

Para conseguir reverter o panorama, a direção lançou no site oficial do clube a campanha “Franca patrocina Franca”. O objetivo é turbinar o programa de Sócio Torcedores e obter receita suficiente para ajudar a cobrir a folha salarial de R$ 3 milhões anuais e os demais gastos existentes como transporte e  hospedagem.
Atualmente, Franca conta com cerca de 900 sócios-torcedores. O desejo é que este número salte para pelo menos 4 mil. Para expor os planos de salvação do basquete francano, uma reunião de emergência foi convocada para a noite desta terça-feira no Ginásio Pedrocão, onde a equipe manda os seus jogos.

Uma vaquinha virtual (crowdfunding) também deverá ser lançada nos próximos dias, além de outras ações de marketing.

“Contamos com a população. Se chegarmos aos 4 mil sócios torcedores, teremos pelo menos garantia de uns R$ 320 mil em caixa. Isso ajudaria bastante enquanto seguimos negociando com outros patrocinadores. Temos também muitas pessoas que curtem nossa página no Facebook, umas 74 mil. Se metade der R$ 10 já conseguiremos uma boa quantia”, disse o presidente Alexandre Resende. Ele assumiu o cargo há pouco mais de dois meses, após Paulo Nocera apresentar sua renúncia alegando problemas de saúde.

Atualmente as fontes de receitas do Franca Basquete são poucas. Sem a verba da Vivo (que representava 80% do fluxo de caixa), as receitas do clube vêm do patrocínio do Magazine Luiza e Sabesp. O valor, porém, é baixo comparado ao necessário para quitar a folga salarial. Além disso, por conta de problemas judiciais, o clube não recebe há cinco meses dinheiro da FEAC (Fundação Esporte, Arte e Cultura) de Franca.

“Houve um problema em relação a prestação de contas de 2008 e a verba foi bloqueada pelo Triubnal de Contas Estadual (TCE). Mas estamos quase resolvendo esta situação para voltarmos a ter esta verba, que serve mais para darmos ajuda de custo aos atletas, conseguirmos transporte”, afirmou Edu Mineiro.

O supervisor revelou também que se uma solução não for alcançada até o sétimo jogo da equipe no NBB (no dia 9 de dezembro, contra Uberlândia) os jogadores terão permissão para procurar outro clube. Isso porque a LNB (Liga Nacional de Basquete) impõe um limite de oito partidas para que um atleta possa mudar de clube e seguir atuando no campeonato.

“Sei que a situação é delicada e torço para que todo se resolva e a cidade se mobilize, tenho fé que tudo vai dar certo. Nós, jogadores, estamos muito comprometidos com a equipe. Este é um dos grupos mais fechados que eu já fiz parte”, afirmou o armador Helinho, que  se aposentará ao fim desta temporada.

“Eu não estou envolvido com a diretoria, mas por amor à cidade e ao basquete de franca tenho feito alguns contatos. Franca é conhecida por ser a capital do basquete. Não conheço uma cidade no mundo que tenha uma tradição de tantos anos no basquete, com tantos títulos, revelando jogadores e técnicos”, afirmou Hélio Rubens, que está desempregado atualmente.

O momento delicado de Franca no campo administrativo não tem se refletido dentro de quadra. No Campeonato Paulista, o time caiu apenas na semifinal. No NBB, venceu as duas partidas que disputou. Nesta quarta-feira, enfrentará o Flamengo no Rio de Janeiro.

“Os jogadores têm de ser aplaudidos e reverenciados pelo que têm feito. É um grupo incrível, que está ciente da situação mas não está usando como desculpa em caso de derrotas. Claro que existe a possibilidade não terminarmos a competição, mas não estou deixando que isso afete o grupo”, afirmou o técnico Lula Ferreira.

Em sua história, o Franca possui 11 títulos paulistas, 11 brasileiros e seis sul-americanos, além de dois vice-mundiais. Centenas de jogadores foram revelados pelo clube, como Anderson Varejão, que atualmente defende o Cleveland Cavaliers na NBA.

Patrocínio na camisa mesmo sem dinheiro

Apesar de o contrato com a Vivo ter acabado em agosto e o dinheiro não entrar mais em caixa, a marca ainda aparece na camisa da equipe. A diretoria conseguiu uma autorização da empresa para utilizar a logomarca até dezembro para economizar na confecção de novos uniformes.