Topo

O homem de 72 mulheres. Como cuidar de 'gigantes' do basquete mundial

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

15/03/2015 06h00

Aos 15 anos, quando Fábio jogava basquete na base da Ponte Preta contra estrelas como Paula e Hortência (1993), não imaginava o papel que ele teria na modalidade na qual seus ídolos fizeram história pelo Brasil. Aquele garoto “vislumbrado”, como ele mesmo define, com as campeãs mundial pela seleção brasileira se tornou Fábio Jardine e hoje, aos 37 anos, cuida de nada menos que 72 ‘gigantes’ do esporte que aprendeu a amar desde criança.

Cuidar e ajudar são os verbos mais usados por Fábio com suas jogadoras. O empresário, “dono” de praticamente toda a seleção brasileira de basquete, não faz o papel apenas de levar atletas do basquete brasileiro para diferentes times do país e do mundo, mas também é amigo.

Cuida da alimentação, de onde morar, do que fazer em situações pessoais, em casos de família. “A base do meu trabalho é ajudar. Fechar contrato qualquer um faz. Essa coisa de conhecer os dirigentes e a Fiba (Federação Internacional de Basquete), isso você consegue com o networking e é fácil. As jogadoras precisam de gente que oriente além de dizer qual é o melhor time. A palavra é confiança”, explica Fábio ao UOL Esporte.

Fábio Jardine é formado em marketing e virou empresário após ajudar a ex-ala da seleção brasileira Micaela, até então apenas amiga, com um problema na Itália. “A Micaela era minha amiga e me chamou para ir para a Itália. No período eu aproveitei para aprender italiano e fazer um plano de marketing para o time de Bologna. Foi então que a Micaela teve um problema com o agente dela e me pediu para assumir o lugar dele. De lá, eu consegui acertar ela com o Ourinhos, que tinha um grande time”, contou.

No Ourinhos, o “boca a boca” das meninas fez com que Fábio ficasse cada vez mais conhecido e ele se profissionalizou como empresário, deixando a antiga profissão na área de marketing de lado para se dedicar integralmente ao basquete.

Mas Fábio se tornou amigo e família para muitas de suas jogadoras a medida que as ‘gigantes’ iam caindo em suas mãos. A maioria por “destino”. É o caso da pivô da seleção brasileira Érika.

“A Érika tem um coração gigantesco, mas as pessoas abusavam muito dela. Abusavam dela na parte financeira. Eu não conhecia a Érika e fui, como empresário, para ficar 10 dias em Valência (Espanha). Fiquei na casa dela. A mãe dela estava com câncer e vi que a situação era muito ruim. A mãe acabou falecendo e era ela que fazia tudo pela Érika. Foi depois disso que conheci ela melhor”, relembra.

A pivô Érika ressalta a importância do ‘amigo, irmão, mãe Fábio’ em sua vida. “Vivemos juntos há 7 anos. Eu tenho mais tempo com o Fábio que com os meus namorados. Eu sempre termino com os namorados com 5 meses. Antes da minha mãe falecer, eu falava com ele por telefone. Quando  minha mãe faleceu, ele foi morar comigo. Minha mãe se foi, mas ganhei o Fábio. Ele é  meu marido, amigo, anjo da guarda, meu tudo. Eu não faço nada antes de conversar com ele. Graças a ele que eu tenho tudo”, ressaltou.

“Ele não pensa no dinheiro. Pensa em ajudar as meninas. Já vi meninas sem dinheiro para viajar e vi ele tirando do bolso dele para pagar para elas poderem viajar e fazer o que for. Ele não se preocupa.  O Fábio é muito importante no basquete feminino”, analisou Érika.

Outra atleta da seleção brasileira que é muito próxima de Fábio é Nádia, pivô da seleção, que vai logo falando. “Ele é muito mais que um empresário. É um amigo, irmão. Somos muito parecidos nas nossas vidas. Hoje vejo mais o Fábio como amigo e irmão”, ressalta.

Ao todo Fábio tem 55 atletas brasileiras e 17 estrangeiras. Apesar da quantidade de meninas que agencia, ele ressalta que é importante saber a índole da atleta antes de assumir qualquer compromisso e que já deixou relações profissionais de lado por conta de problemas com jogadoras. “A lealdade é muito importante entre mim e a jogadora. Tive problema com atleta que falava uma coisa e fazia outra. Se contradizia. Teve dirigente de time que me perguntou se eu queria manchar minha imagem de agente trabalhando com uma determinada jogadora. Aconteceu isso com duas brasileiras”, recordou.

Relação dentro e fora de quadra

O papel de Fábio também é de “fiscalização”. Como no caso divertido que aconteceu com Nádia. “Uma vez ele ficou preocupado comigo. Eu adoro andar de bicicleta e ele fica muito preocupado falando que tenho que tomar cuidado por causa de lesão. Um dia eu fui andar de bicicleta em Recife e o Fábio viu. Tirou foto e me mandou falando que tinha me pegado ‘no pulo’”, brincou Nádia.

Dentro de quadra, Fábio é o responsável por levar Clarissa para a WNBA, no Chicago, vencendo preconceitos de altura que já impediram que times de fora olhassem com carinho para a pivô da seleção. “Eu falo da Clarissa há 3, 4 anos. E convenci a técnica do Chicago (Pokey Chatman) a olhar com atenção para ela. Ela é baixa para a posição (1,84 m) e não teria condição lá fora, mas o que ela consegue fazer de força de vontade. Ela faz musculação até se arrebentar. Ela vai se dar muito bem”, avaliou.

“Ele funciona como um anjinho de guarda. Ele é próximo de algumas que são mais dependentes e sempre vê o que é o melhor pra gente. Ele fica nos bastidores, não aparece muito. Fica na missão de ver como estamos, de arrumar um lugar para a gente se dar bem como atleta”, disse Clarissa.