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Como o "fator Brasil" pode influenciar a seleção de atletas para NBA

Georginho, armador do Paulistano, é o único brasileiro bem cotado no draft de 2017 da NBA - LNB/Divulgação
Georginho, armador do Paulistano, é o único brasileiro bem cotado no draft de 2017 da NBA Imagem: LNB/Divulgação

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

22/06/2017 04h00

A NBA (liga profissional de basquete dos Estados Unidos) vai realizar na noite desta quinta-feira (22) o draft, processo de seleção de jogadores que é uma das principais portas de entrada na competição. Há dois brasileiros inscritos (o armador Georginho, 21, e o ala-armador Mogi, 21), mas a lista de prospectos oriundos do país é ainda mais extensa (neste ano, a participação é compulsória para todos os atletas internacionais nascidos em 1995). Afinal, qual é a chance de o contingente nacional ser ampliado nas próximas temporadas da liga? Para responder sobre isso, é fundamental entender o mercado como parte do contexto.

Há cinco anos, quando a NBA abriu um escritório no Brasil, havia dois jogos da liga por semana na TV fechada do país. Na última temporada, com direitos cedidos a ESPN e Sportv, esse número chegou a 12 – a Globo também exibiu VTs em rede aberta com melhores lances da decisão entre Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers.

A disputa do título da última temporada foi o mote para o NBA Finals, espaço montado pela liga em São Paulo. Entre os dias 1º e 12 de junho, mais de 17 mil pessoas estiveram em um casarão situado na Avenida Paulista. O local teve lotação esgotada em todas as noites de jogos – havia pouco mais de mil ingressos distribuídos gratuitamente pela internet a cada partida, e em alguns dias essas entradas se esgotaram em poucos minutos.

O casarão também recebeu uma loja da NBA, e 4 mil produtos foram vendidos ali durante o período de operação. Foi a primeira experiência da liga com um ponto comercial em São Paulo – atualmente, o único espaço em que é possível encontrar licenciados da competição no Brasil fica em um shopping da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

O sucesso do NBA Finals chamou atenção dos organizadores. O fluxo no casarão mostrou que há um público ávido por consumir a NBA, e o rendimento da loja oficial montada no espaço reforçou o potencial de compra dessas pessoas. O portfólio disponibilizado pela liga contava com mais de 150 produtos.

Ainda neste ano, a NBA deve abrir a primeira loja em um shopping de São Paulo (o local ainda não foi divulgado). Segundo o UOL Esporte apurou, também existe a possibilidade de um segundo ponto em Mogi das Cruzes, cidade que fica a 46 quilômetros da capital paulista.

Também há planos para expansão do próprio NBA Finals – um funcionário ouvido pelo UOL Esporte chegou a citar conversas para realizar a próxima edição num estádio de futebol de São Paulo, com capacidade para pelo menos 20 mil pessoas, o que a liga nega.

“A experiência que tivemos em São Paulo foi maravilhosa, superou todas as expectativas que tínhamos”, admitiu Arnon de Mello Neto, vice-presidente da NBA para a América Latina, em entrevista ao UOL Esporte.

A NBA Finals também contou com brasileiros que passaram pela liga. O Brasil teve nove representantes na temporada passada, o que é um recorde. Três deles (Raulzinho, Leandrinho e Marcelinho Huertas) estiveram em São Paulo para sessões de autógrafos.

“A presença deles é sempre muito importante e bem-vinda. É bom para os atletas sentirem o carinho do público, já que passam muito tempo fora, ao mesmo tempo em que é a oportunidade dos fãs estarem mais perto dos seus ídolos. Tivemos um recorde de atletas brasileiros no início da temporada passada, e isso, sem dúvidas, ajuda a aumentar também o interesse dos brasileiros pela liga”, ponderou Arnon.

Na América Latina, apenas Brasil, México e República Dominicana tiveram espaços exclusivos para a decisão da NBA. O planejamento da liga para o território brasileiro, contudo, tem uma série de outras ações. Entre abril e junho, por exemplo, os norte-americanos promoveram um campeonato entre 30 escolas paulistas e batizaram o torneio de Jr. NBA League.

“O basquete é o esporte que mais cresce no Brasil e a NBA só perde para o futebol e o automobilismo em horas de exibição na TV. Hoje a NBA está ao alcance de todos os fãs, há muito conteúdo, estamos trazendo eventos, e o retorno que o público, que é muito exigente, nos dá todos os dias é a certeza de que estamos no caminho certo”, finalizou o vice-presidente da liga.

Há um mercado enorme a ser explorado, e a NBA sabe disso. Também existe uma preocupação com os referenciais que o público brasileiro tem na liga atualmente – nomes como Anderson Varejão, Marcelinho Huertas, Raulzinho e Tiago Splitter, por exemplo, têm situação incerta na liga para a próxima temporada, e Bruno Caboclo ainda não deixou de ser um projeto de futuro em Toronto.

Mercado em ascensão e declínio de estrelas

A conjunção entre interesse de mercado e ocaso de uma geração de brasileiros que atualmente frequenta a liga é um fator a ser considerado no draft desta quinta-feira. O processo seletivo é guiado por questões técnicas, evidentemente, mas a lógica de mercado muitas vezes influencia decisões. O caso mais emblemático nesse sentido é o de Yao Ming, 36, que o Houston Rockets elegeu no primeiro lugar da turma de 2002.

Ming tinha repertório técnico para ser um pivô de sucesso na NBA e até recebeu da liga o prêmio de "calouro do ano" em sua temporada de estreia. No entanto, é notável o quanto a seleção do jogador abriu mercado para sua franquia entre os chineses.

Em pouco tempo, a presença de Yao Ming já havia modificado uma série de procedimentos em toda a liga. Em 2004, 18 franquias fizeram “noites asiáticas” em seus ginásios apenas para criar eventos mais palatáveis para os chineses que queriam acompanhar o astro. Ele recebeu aportes de marcas como McDonald’s, Reebok, Pepsi e Visa, todas com planos para explorar o crescente interesse dos asiáticos pela NBA.

“Infelizmente, as lesões abreviaram sua carreira, mas Yao continua sendo uma ‘Lenda’ extremamente dedicada ao esporte, que nos ajudou muito a aproximar a NBA dos chineses, a tornar o basquete o esporte número 1 em seu país”, disse Arnon.

Em menor escala, a lógica perpassa a situação dos jogadores brasileiros inscritos no draft desta quinta-feira. Sites especializados no processo de seleção apontam apenas Georginho como candidato a entrar na liga – e ainda assim, no fim da segunda rodada. Todavia, um cenário tão favorável no mercado pode ser um fator decisivo na hora em que os nomes forem anunciados.