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Ausência de LeBron abre espaço para surgimento de novos "reis" na NBA

Danilo Silvestre

Colaboração para o UOL, do Bola Presa*

15/05/2019 10h40

Pela primeira vez desde o longínquo ano de 2011 não teremos nas Finais da Conferência Leste a presença de LeBron James, a estrela três vezes campeã da NBA e quatro vezes eleita Jogador Mais Valioso da liga. LeBron, que migrou para o Oeste ao juntar-se ao Los Angeles Lakers nessa temporada, abriu espaço para que novos rostos assumissem a Conferência que ele dominou por tanto tempo. Quando as Finais do Leste começarem hoje, às 21h30, com transmissão pela SporTV, veremos em quadra uma nova geração trilhando os passos de LeBron e ávida por conquistar um título para consolidar em definitivo seu lugar entre os grandes da NBA.

Basquete sem posições

Um dos grandes méritos de LeBron James ao chegar à NBA foi sua versatilidade - não apenas ele era capaz de produzir em todos os aspectos do jogo como também podia jogar em múltiplas posições. Quando foi campeão de basquete durante seu Ensino Médio, LeBron era um armador, mas com seus 2,03m de altura e a força que adquiriu nos primeiros anos de NBA, rapidamente foi transformado em ala. Alguns anos depois, passou a desempenhar funções importantes próximas ao garrafão e fez parte do elenco do Miami Heat bi-campeão em 2012 e 2013, famoso por nublar completamente o conceito de posições no basquete - com vários jogadores grandes em todos os lugares da quadra, a armação e a finalização das jogadas podia ser desempenhada por qualquer um dos atletas.

Foi também em 2013, enquanto LeBron sagrava-se campeão, que o grego Giannis Antetokounmpo chegou à NBA para defender o Milwaukee Bucks, que disputará as Finais da Conferência Leste logo mais. Com 2,11m de altura e a capacidade de correr e driblar, tornou-se o pilar de um novo modelo de jogo: e se a proposta de um basquete "sem posições" encampada por LeBron James fosse levada às últimas consequências? E se todo o elenco de um time fosse composto por jogadores gigantes capazes de bater bola e correr em velocidade para a cesta? Foi assim que Giannis Antetokounmpo, apesar de altura para atuar como pivô, tornou-se oficialmente o armador da equipe e o Bucks passou a recrutar outros jogadores que pudessem ajudá-lo com altura e habilidade para jogar em múltiplas posições diferentes.

O unicórnio

Giannis Antetokounmpo é um exemplar dos jogadores que passaram a ser chamados na NBA atual de "unicórnios": são atletas muito altos, fortes, mas que conseguem jogar com a velocidade dos menores armadores. Como o apelido indica, são atletas inacreditáveis e, claro, muito raros. Por anos esses talentos foram desperdiçados ao serem obrigados a jogar muito próximos ao aro, desempenhando funções básicas associadas unicamente à força e à estatura. Dizem que Kevin Durant, por exemplo, um dos grandes arremessadores da atual geração, passou anos mentindo sobre sua altura, fingindo ser menor do que era, com medo de ser forçado a tornar-se um pivô quando chegasse à NBA.

Já o Milwaukee Bucks, encantado com a ideia de ter um LeBron James ainda mais alto para chamar de seu - um armador versátil e capaz de ocupar todos os lugares da quadra - decidiu que ao invés de desencorajar o jogo eclético de Giannis iria incentivá-lo. Foram anos lhe dando espaço para errar e procurando um esquema tático que lhe desse mais autonomia e tranquilidade. Apesar dos percalços iniciais, a certeza de ter um jogador tão raro em mãos fez com que o Bucks assumisse o risco. Quando sentiu que seu "unicórnio" já estava pronto para dominar a NBA, fez os investimentos finais para formar o elenco e conquistou a melhor campanha da liga na temporada regular - à frente até mesmo dos atuais campeões, o Golden State Warriors. Neste ano em que LeBron James sequer se classificou para os Playoffs - fato que não acontecia desde 2005 - Giannis Antetokounmpo chega às Finais da Conferência Leste como um dos principais nomes para levar o prêmio de Jogador Mais Valioso da liga e o grande favorito para alcançar as Finais da NBA. A nova geração já não é mais tão nova assim e, encabeçada pelo versátil grego, está pronta para seu primeiro título.

Tudo ou nada

Do outro lado da quadra o Bucks de Antetokounmpo verá uma equipe igualmente eufórica com a debandada de LeBron James para a Conferência rival, o Toronto Raptors. A equipe canadense foi eliminada dos Playoffs nas últimas três temporadas pelo então Cleveland Cavaliers de LeBron, todas derrotas traumáticas - especialmente a varrida histórica na temporada passada após o Raptors ter conseguido a melhor campanha da Conferência. Apesar do modelo bem sucedido de jogo e do elenco sólido, a equipe de Toronto ficou estigmatizada como incapaz de vencer nos momentos mais importantes da temporada, perdendo jogos decisivos em frente à sua própria torcida.

Frente à difícil decisão de reestruturar a equipe ou insistir no projeto que não estava funcionando, a diretoria do Raptors resolveu arriscar tudo: trocou seu principal jogador, DeMar DeRozan, pela estrela descontente do San Antonio Spurs, Kawhi Leonard. Os riscos eram diversos, já que Kawhi voltava de lesão séria, recusou-se a jogar pelo seu time de origem após confusas brigas internas e, mais importante, encontra-se em seu último ano de contrato, podendo decidir seu próprio destino ao término da temporada atual. Isso significa que o Raptors abriu mão de seu maior talento em troca de possivelmente apenas um ano de Kawhi Leonard. Em caso de sucesso, com a sonhada disputa de título, é possível que Kawhi decida ficar na equipe a longo prazo e a troca tenha valido a pena; em caso de fracasso, Kawhi pode simplesmente decidir jogar por outra equipe, condenando o Raptors a anos de reconstrução e o abandono de todo um projeto.

O HOMEM QUE NUNCA SORRI

Kawhi Leonard é um jogador discreto, de poucas emoções na quadra e mínimas expressões faciais, mas seu talento inegável foi essencial para levar o Toronto Raptors até as Finais da Conferência Leste com um arremesso de último segundo que quicou múltiplas vezes no aro antes de entrar na cesta. Graças à sua personalidade reservada é difícil imaginar o que Kawhi planeja para o futuro, mas o resultado da série contra o Milwaukee Bucks certamente pesará em sua decisão. Para o Raptors, portanto, os próximos jogos ganharam contornos verdadeiramente decisivos, em que o alívio de não ter que enfrentar o algoz Cleveland Cavaliers é incapaz de disfarçar o desespero de ter que parar Giannis Antetokounmpo.

O "unicórnio" do Bucks, por sua vez, não tem nada a perder, mas joga com a pressa característica de uma nova geração afoita para ocupar o lugar da antiga. Enquanto na Conferência Oeste vemos os mesmos rostos dos últimos anos, num estilo de basquete que parece caminhar para o seu limite e consequente esgotamento, o Leste sagrará como campeão caras novas ansiosas para desbancar os veteranos e quebrar paradigmas. Por trás do rosto sério de Kawhi Leonard há o sonho de qualquer jovem estrela de fazer a diferença - e, independente do resultado desta série, Bucks e Raptors ao se enfrentarem já garantiram que essa diferença aconteça. O que nos resta saber apenas é qual das equipes conseguirá levar isso adiante, ganhando a chance de desbancar os grandes figurões da Conferência rival.

* Bola Presa é um blog de basquete que cobre a NBA desde 2007. Siga no Instagram, no Twitter, no Facebook e no Youtube