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Livro de Popó retrata abusos físicos do pai e até 'porre' aos 5 anos

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

13/11/2013 06h00

Do garoto que passava muitos dias à base de mingau ao campeão mundial de boxe alvo de propostas milionárias, Acelino Freitas, o Popó, passou por muitas dificuldades e teve de superar inúmeros obstáculos. Enquanto não sai um prometido filme sobre sua carreira, o pugilista lançou neste mês a biografia “Com as Próprias Mãos”, em que retrata boa parte do sofrimento pelo qual passou: dos problemas de moradia à fome, ele também conviveu com os abusos físicos e problemas de convivência com o pai, que o levaram a uma bebedeira quando tinha só cinco anos.

A biografia autorizada foi feita a pedido de Popó pelo jornalista Wagner Sarmento. Em 2012, o autor escreveu um texto sobre a vitória do tetracampeão mundial sobre Michael Oliveira, quando o baiano voltou de aposentadoria para apenas um combate, a pedido do filho. A publicação chegou ao hoje deputado, que gostou e convidou o pernambucano a contar suas histórias.

Apesar de ser um livro feito com a aprovação do biografado, Sarmento não se atém às passagens positivas da vida de Popó. O tom é elogioso, como era de se esperar, com o baiano colocado em posição de herói nacional. Mas casos como o em que ele foi acusado de mandante de um assassinato em 2009, as polêmicas pré-luta e a conduta errática de seu pai não foram ocultados na obra.

Os relatos da infância de Popó são os mais duros da narração, que não chega a romancear a história, mas usa muito do lado poeta do autor. Popó viveu em uma casa de um cômodo, sem banheiro e de menos de dez metros quadrados por toda a infância e adolescência. A mãe fazia bicos para tentar manter o básico para eles, que muitas vezes tinham de ir atrás de refeições em casas vizinhas.

A esta condição dura somam-se os abusos físicos do pai, alcoólatra, e seu desaparecimento por longos períodos. Niljalma Ferreira Jones, o Babinha, teve um relacionamento complicado com Zuleica Freitas. Um “boêmio incorrigível”, ele acabou largando a mulher com quem teve sete filhos para ficar com a mãe de Popó. Mas nem isso o segurava em casa.

“Alcóolatra, a bebida o transformava e ele descontava a embriaguez em Zuleica”, conta a biografia. Popó presenciava abusos físicos do pai, mas a mãe nunca o denunciou. Ele também sempre preferia o bar, o violão e algumas brigas na rua – pode-se dizer que foi o primeiro pugilista da família, afirma o livro.

Popó, ainda muito pequeno, ia buscar o pai na farra. Numa dessas, voltou para casa bêbado.

“Uma vez, quando Popó tinha somente cinco anos, Babinha ultrapassou os limites do bom senso e resolveu dar cachaça à criança”. Popó foi visto por vizinhos voltando cambaleando para casa e eles avisaram a mãe. “Quando ela chegou em casa, Popó estava todo vomitado. Deu uma bronca homérica em Acelino.”

Apesar de tudo, as passagens citando Babinha sempre salientam que os filhos nunca abandonaram o pai, apesar do seu comportamento. Eles colocavam a culpa na bebida, que seria a responsável por trazer este lado agressivo.

  • Divulgação

    Capa do livro que conta a história de Popó e que tem o prefácio de Galvão Bueno. O narrador relembra o primeiro título do baiano e o classifica como um dos "grandes campeões que o Brasil já teve". No texto, o profissional da Globo relembra com emoção o reencontro que fez entre Popó e Eder Jofre em seu programa, o Bem Amigos, em uma época em que eles estavam com relações estremecidas, em 2004

Foi neste ambiente complicado que Popó cresceu. A miséria fez ele e seus irmãos trabalharem desde cedo. Por sorte, eles seguiram uma jornada longe do crime e das drogas. O irmão Luiz Claudio foi o primeiro a treinar boxe. Popó o seguiu, para iniciar uma carreira que hoje todos conhecem e que o coloca lado a lado com Éder Jofre como os maiores pugilistas da história do Brasil.

Farra com mulheres e a política

A biografia “Com as Próprias Mãos” ainda traz detalhes pouco conhecidos de sua carreira, como o assédio de Don King para que ele fosse um de seus agenciados. Popó também conta que no auge foi convidado a posar nu para uma revista, mas preferiu recusar. À época, Babinha tinha acabado de morrer e o baiano estava abalado.

Em outro causo, revela que ter renunciado à abstinência antes da memorável luta com Jorge Barrios o minou. Ele havia se separado da mulher e caiu na farra antes do combate. “A luta se tornou dramática pelo fato de eu ter abusado durante a preparação. Levei mulher para o meu treinamento, para o quarto, queria aproveitar de todo jeito, aí acabei fazendo com que o duelo fosse mais difícil do que deveria. Foi algo que nunca tinha acontecido”, conta o tetracampeão mundial, que naquela luta sofreu quedas em dois rounds, mas virou e nocauteou no último round.

Se a biografia autorizada por Popó poderia ser usada como instrumento político, já que ele é deputado federal e 2014 é ano de novas eleições, ela não o faz diretamente. Sua nova fase como político é tratada rapidamente, sem entrar em grandes detalhes sobre seus feitos na área e mantendo como desfecho o último combate da carreira do baiano, contra Michael Oliveira.