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Popó lutará ao som de Pabllo Vittar "em homenagem a todas as bichas"

Popó Ulysses - Divulgação/Academia Ulysses Pereira - Divulgação/Academia Ulysses Pereira
Imagem: Divulgação/Academia Ulysses Pereira

Adriano Wilkson

Do UOL, em Belém

17/10/2017 04h00

Ao meio-dia do último sábado (14) era impossível se manter seco no calor denso de umidade em Belém do Pará, onde o lutador Acelino Popó Freitas terminava mais uma sessão de treino. Na espartana academia comandada por seu técnico de duas décadas, o baiano suava dentro de um agasalho que outra pessoa usaria apenas em noites de inverno.

"O clima dessa cidade é ótimo para perder peso", dizia ele.

Entre sacos de pancada, professores de luta, alguns fãs e outros amigos que ele fez na cidade, Popó recebeu a reportagem do UOL Esporte para comentar seus preparativos para aquela que ele diz ser sua luta de despedida (será sua terceira “despedida”, mas agora ele jura que é pra valer), marcada para o dia 11 de novembro em um ginásio recém-construído na capital do Pará.

Seu rosto se ilumina quando ele explica o motivo de ter escolhido K.O., da cantora drag queen Pabllo Vittar, como a canção de sua entrada no ringue. “Além de ser uma música que fala de boxe, que exalta o nosso esporte, eu também queria fazer uma homenagem a todas as bichas, para que as pessoas que têm outras orientações sexuais também se sintam acolhidas no nosso esporte”, disse ele.

Popó - Divulgação/Academia Ulysses Pereira - Divulgação/Academia Ulysses Pereira
Imagem: Divulgação/Academia Ulysses Pereira

K.O. é um dos hits de uma artista que tem sobressaído no universo pop brasileiro. Sua letra abusa do vocabulário do boxe para descrever uma relação romântica arrebatadora: “Seu amor me pegou. Cê bateu tão forte com o teu amor. Nocauteou, me tonteou. Veio à tona, fui à lona, foi K.O. [knock out].” No clipe, Pabllo se apaixona por um pugilista em cima de um ringue e dentro do vestiário da academia.

A aproximação de Popó com o tema da diversidade sexual começou quando ele descobriu que um de seus filhos adolescentes é gay. Ao falar abertamente nos últimos meses sobre o apoio que tem dado ao filho, Popó diz que passou a ser procurado por outras pessoas homossexuais.

Pabllo Vittar - Manuela Scarpa/Brazil News - Manuela Scarpa/Brazil News
Imagem: Manuela Scarpa/Brazil News

“Desde que comecei a falar sobre isso, recebi várias mensagens nas redes sociais me parabenizando pela atitude”, disse ele. “São pessoas que às vezes não têm o mesmo apoio em casa e que também gostariam e deveriam ser aceitas.” Ele acredita que seja papel de um esportista como ele falar desses assuntos para tentar minimizar a discriminação de que sofrem as pessoas homossexuais.

A música que os lutadores escolhem para subir no ringue ou no octógono em geral representa o estado de espírito que eles gostariam de transmitir naquele momento e também pode ajudá-los na concentração. Além de K.O., Popó fará tocar, quando ainda estiver no vestiário se preparando para sair ao ringue, a canção No Meio do Pitiú, da cantora Dona Onete. Aos 78 anos, Dona Onete tem se consolidado como um dos principais nomes da música paraense.

Os dois se conheceram há pouco mais de uma semana quando Popó foi convidado para acompanhar a tradicional romaria do Círio de Nazaré. "Ela foi muito simpática comigo e eu decidi fazer essa homenagem", disse ele sobre o encontro com Dona Onete. "Também vai ser uma forma de levantar o público daqui."   

Há cerca de 40 dias na capital do Pará, Popó, hoje aos 42 anos, tem se misturado à população local. Já visitou clubes recreativos, fez treinos em shopping centers, deu palestras em escolas públicas, experimentou a culinária regional e foi fotografado em um jogo do Paysandu na Série B do Brasileiro.

O convite para fazer sua última luta na região Norte veio de Ulysses Pereira, treinador que o baiano conheceu ainda quando defendia a seleção brasileira nos Jogos Pan-Americanos de 1995 e que esteve a seu lado nos grandes momentos de sua carreira.

Seu adversário na sua luta de despedida ainda não havia sido fechado até segunda-feira, mas a organização negocia com um mexicano e um americano. Tetracampeão mundial de boxe e detentor de um recorde de 29 nocautes seguidos, ele espera que o ginásio receba cerca de 12 mil pessoas para ao evento, que ainda terá lutas preliminares valendo cinturão. Sua família deve ir toda ao Pará para vê-lo se despedir dos ringues.

O único que ficará na Bahia é justamente Juan, seu filho homenageado com a canção de Pabllo Vittar. Segundo Popó, o adolescente estará em período decisivo na escola e, por causa disso, terá que ver a luta pela TV.