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Dançarino gay que Popó ajudou no Carnaval espera turbinar carreira

Popó - Francisco Cepeda/AgNews  - Francisco Cepeda/AgNews
Em 2017, Popó se fantasiou de Pikachu para curtir o carnaval
Imagem: Francisco Cepeda/AgNews

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

16/02/2018 04h00

O dançarino Guilherme Nascimento, 41 anos, espera ter a carreira turbinada depois de um encontro inesperado no sábado de Carnaval. Apelidado de Sebastian do Imbuí pela semelhança com o icônico garoto-propaganda da C&A, o dançarino tentava se aproximar de um camarote da Band quando o boxeador Acelino Popó Freitas, tetracampeão mundial, chegou com sua namorada.

Popó, que por coincidência tinha visto na internet um vídeo de Sebastian, pediu para dançar com ele. Também pediu para sua namorada filmar o momento de descontração. Sebastian depois solicitou ajuda ao ex-pugilista e ex-deputado federal. “Eu moro em uma casa bem humilde e estava com dificuldade de pagar o aluguel”, afirmou o dançarino ao UOL Esporte. “O Popó tirou cem reais do bolso para me ajudar. Ele não me conhecia, nunca tinha me visto, vou ser eternamente grato".

O aluguel da casa do dançarino, que mora sozinho desde os 18 anos, custa RS 350.

Sebastian - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Popó tentou arranjar com a organização do camarote uma camiseta e uma pulseira para que Sebastian pudesse entrar e curtir o carnaval, mas não conseguiu. Antes de ir embora, então, tirou a pulseira do braço da namorada e ofereceu sua camiseta ao dançarino, que assim teve acesso ao camarote.

“Ele estava desde as 6h da manhã na rua, dançando no salto alto, essa é a forma de ele ganhar o dinheiro dele”, disse o boxeador. “Estava com fome, e lá dentro tinha comida à vontade. Fiz o que pude para ajudá-lo.”

Mas a ação de Popó também foi alvo de chacota quando o vídeo da dança com Sebastian foi publicado, pelo próprio Popó, em suas redes sociais. Internautas o acusaram de estar bêbado ou de ter virado homossexual. “Um monte de gente veio falar besteira. Quem me conhece sabe que eu nunca gostei de homem e que não bebo”, disse o ex-atleta, que fez sua luta de despedida no ano passado.

O encontro entre os dois aconteceu no sábado, mas dias depois Popó decidiu apagar o vídeo de seu Instagram por um pedido de sua ex-mulher: “Meu filho de 12 anos estava tristinho porque os amiguinhos da escola tiraram sarro, dizendo que o pai é gay, é bêbado. Ele estuda numa escola de classe alta e não sei como essas pessoas interpretam isso. Escolhi tirar por causa dele".

Outro dos seis filhos de Popó, um adolescente de 17 anos, é homossexual assumido e curtiu o carnaval junto com o pai. “O carnaval de Salvador virou uma grande parada gay”, disse o ex-pugilista, bem-humorado. “Tem muitos gays se beijando e as pessoas estão aceitando mais".

Sebastian agora espera que a repercussão de seu encontro com Popó possa significar um novo momento em sua carreira. Órfão de pai e mãe desde a infância, ele aprendeu dança contemporânea, jazz e balé em um orfanato e chegou a dançar no grupo “Olodum Mirim”. Ao se profissionalizar, foi convidado a integrar o “Pega no Compasso”, um grupo de axé ligado ao “É o Tchan”.

“Depois fui para carreira solo. Quis ser diferente, chamar atenção, botei biquíni, tomei hormônio feminino para pegar corpo, e ganhei fama. Foi uma forma que encontrei de ganhar um trocadinho. Nunca tive condição de ter coisas, geladeira, fogão... tenho uma bicama em casa e só. Não me prostituo, não cheiro, quando preciso de dinheiro boto meu biquíni e vou dançar.”

No ano passado, durante uma apresentação da cantora Pablo Vittar na capital baiana, Sebastian foi convidado a subir no palco para dançar ao lado dela. Foi um dos grandes momentos de sua carreira. Agora, o dançarino, que se considera um “gay andrógino” (a androginia é a mistura de características masculinas e femininas), sonha com um contrato que ele permita trabalhar de maneira permanente.

“Vou ajudá-lo no que puder”, disse Popó.