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Levar família aos EUA e título com revanche: os sonhos de Esquiva Falcão

Esquiva Falcão comemora vitória sobre o francês Salim Larbi - Top Rank/Divulgação
Esquiva Falcão comemora vitória sobre o francês Salim Larbi Imagem: Top Rank/Divulgação

Thiago Rocha

Do UOL, em São Paulo

18/03/2018 04h00

Vice-campeão olímpico nos Jogos de Londres-2012, Esquiva Falcão esbanja uma carreira de respeito desde que trocou o amadorismo pelo boxe profissional, há pouco mais de quatro anos. São 20 combates, com 20 vitórias, 14 delas por nocaute. No último sábado (10), em Carson (EUA), o brasileiro derrubou o francês Salim Larbi no primeiro assalto, resultado que o credencia a disputar o título mundial dos pesos-médios ainda em 2018.

Conquistar o tão sonhado cinturão significaria para Esquiva saborear uma doce vingança, já que a chance mais possível de disputa de título é a versão da Associação Mundial de Boxe (WBA, sigla em inglês). O detentor é o japonês Ryota  Murata, algoz do boxeador na final dos Jogos Olímpicos, seis anos atrás, em decisão contestável da arbitragem - o brasileiro recebeu uma punição no terceiro e último round, perdendo a decisão do ouro por apenas um ponto. Um ano antes, havia sucumbido para o mesmo adversário no Mundial de Baku, no Azerbaijão.

"Eu acredito que posso ganhar a luta tranquilo", crava Esquiva Falcão, em entrevista ao UOL Esporte, sobre o provável reencontro com Murata, estimado para julho, em Las Vegas, o palco dos grandes espetáculos do boxe mundial. "Estou 100% no caminho certo", confia.

Esquiva Falcão - Scott Heavey/Getty Images - Scott Heavey/Getty Images
Esquiva Falcão perde a final olímpica para Ryota Murata em Londres-2012
Imagem: Scott Heavey/Getty Images

Para seguir focado em seu objetivo, sobra pouco tempo para o brasileiro curtir Vila Velha, no Espírito Santo, onde mora ao lado da esposa, Suelen Marques, e dos filhos Juan (4 anos) e Luísa (1 ano). A preparação para um combate exige períodos de ao menos três meses de treinamento nos Estados Unidos, longe dos familiares.

Sagrar-se campeão mundial de boxe não mudaria apenas o patamar do brasileiro esportivamente. Seria também uma oportunidade para se estabelecer na América do Norte com a família, algo que os rendimentos como boxeador profissional ainda não permitem.

Ser o melhor peso-médio do planeta e dar outra qualidade de vida à família. São esses os sonhos que o capixaba, de 28 anos, almeja realizar em breve. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Esquiva Falcão:

- Passadas 20 lutas como profissional, como você avalia a sua transição de carreira até o momento? 
Muito boa, são 20 lutas invicto, aprendi com os erros que tive e os arrumei com treinamento, sempre buscando melhorar. Estou 100% no caminho certo.

- Em quais aspectos acha que precisa evoluir até a possível luta pelo cinturão?
Contra o Murata, vou intensificar o trabalho de movimentação. Porque ele é forte e não se movimenta tanto. Acredito que posso ganhar a luta tranquilo.

- Pessoalmente, o que a carreira profissional tem exigido mais de você?
O boxe exige muito na disciplina, no treinamento, na dedicação, ficar longe de minha família... Às vezes, fico três ou quatro meses sem ver os meus filhos e a minha esposa, meus pais... Então, já que não tem ainda uma condição ideal para manter a minha família nos Estados Unidos, preciso fazer esse sacrifício. Eu sei que em breve eles poderão estar comigo, e vamos comemorar.

- Você pretende trazer a família para morar nos Estados Unidos ou é cedo?
Sim, pretendo, pois com eles lá posso focar ainda mais na minha carreira e, possivelmente com as defesas de cinturão. Serei o adversário a ser batido. Vou dar o meu melhor, e o que falta para isso é ter uma condição melhor, né? Nos Estados Unidos, o custo de vida é alto: aluguel, comida, escola... Para uma pessoa sozinha é uma coisa, agora para quatro já fica mais pesado. Ainda não consegui levar os filhos nem minha família em geral para assistir a uma luta. Meu pai [Touro Moreno, ex-lutador] não foi ainda, acredita? Mas eu quero muito fazer isso, teremos esse tempo.

esquiva - REUTERS/Cadu Gomes  - REUTERS/Cadu Gomes
Esquiva e Yamaguchi Falcão: irmão e medalhistas olímpicos
Imagem: REUTERS/Cadu Gomes

- Avaliando hoje a final olímpica de Londres, fora a decisão polêmica do juiz, o que faltou para chegar ao ouro?
O resultado foi injusto. Venci aquele combate, e pelo que ouvi até o árbitro reconheceu o erro. Depois que o ouro estava no pescoço do japonês! Eu estava muito bem, melhor do que ele, e o juiz tirou os pontos por estar com a cabeça baixa ou algo do tipo. Ele deveria ter punido, se é que isso é cabível de punição, os dois. Agora, voltando àquele dia, favoreci muito o jogo dele no primeiro round, pois o japonês gosta de trocar na curta distância. Se tivesse trabalhado a movimentação, igual trabalhei no segundo e terceiro rounds, eu teria ganhado aquela luta mesmo com punição.

- Como espera que seja o reencontro com o japonês, caso a luta se confirme?
Quero muito reencontrar o Ryota Murata no ringue. Quero estar bem preparado, vou dar o meu melhor como sempre, mas quero mostrar que estou diferente, que agora a vitória vai ser minha e não tem ninguém para mudar isso. Sei que é um adversário duro, o Japão o tem como ídolo, mas acredito que o Brasil também acredita muito em mim. Então, quero trazer essa vitória para o Brasil e vingar a medalha olímpica, que sei que era para ser minha.

- É comum você ou o seu irmão (Yamaguchi Falcão) aparecer ao lado de lutadores de MMA em fotos nas redes sociais. Trocar o ringue pelo octógono é algo que o seduz ou o seu negócio é boxe mesmo?
Às vezes, alguns estão chegando aqui para treinar. É legal a união dos esportes. Aproveito para mandar abraço a todos os lutadores de MMA do Brasil que estão sempre na luta igual a mim. Eu amo o boxe, me deu tudo o que tenho. Quero fazer minha carreira no boxe, quero conquistar a minha carreira, assim como conquistei a minha casa e a minha família, quero ser campeão mundial. Quero retribuir o que o boxe me deu, mas deixo uma porta aberta para no futuro, quem sabe eu possa lutar e sentir a adrenalina do MMA, para saber se é a mesma ou diferente do que sinto no boxe. Então, quem sabe no futuro, eu possa lutar com alguém do MMA.

Acima, post de Esquiva Falcão no Instagram ao lado da mulher e dos filhos, no dia em que embarcou para os Estados Unidos para iniciar os treinamentos para a última luta, contra o francês Salim Larbi.