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Treinos de 15h e muita grana: Japão tem exército de ciclistas para apostas

Do UOL, em São Paulo

01/08/2015 06h00

São 15 horas diárias de exercícios, seis vezes por semana, durante 11 meses. O padrão é militar: horários rígidos, toque de recolher e obrigações como a limpeza dos quartos. Isso tudo faz parte de uma academia no Japão especializada em formar competidores do ciclismo keirin, modalidade que faz parte do programa olímpico, mas surgiu para atrair apostadores.

O ciclismo keirin foi criado em 1948 como um jogo de apostas. E assim foi tratado pelos japoneses até os dias atuais. A preocupação dos organizadores não é formar atletas, mas manter o negócio na ativa. Os ciclistas podem ganhar de R$ 20 mil a R$ 2 milhões, dependendo do nível da corrida. As cifras movimentadas pelos apostadores são muito maiores. Em termos de estrutura, muitos comparam com as corridas de cavalos.

Mas para chegar aos grandes velódromos a céu aberto é preciso passar pela academia keirin e bancar todos seus custos. Essa escola fica em Izu e é conduzida com o rigor militar. Os atletas despertam às 6h30, correm, arrumam os quartos, ajudam na limpeza das instalações, tomam café da manhã e encaram três sessões de treinos na bicicleta, uma delas subindo montanhas.

O almoço dura uma hora, entre 11h30 e 12h. A próxima tarefa é na sala de aula: duas sessões de teoria sobre o ciclismo e regras da modalidade. Em seguida, mais três treinos nas bicicletas, sendo dois no velódromo e um em bicicletas fixas. As atividades terminam no início da noite. Esporadicamente ainda há testes de desempenho no laboratório.

Essa rotina se estende durante seis dias por semana ao longo de 11 meses. No Japão, estima-se que existem atualmente 2,4 mil ciclistas keirin devidamente formados pela academia. Eles competem em busca de melhores rankings que garantam maiores premiações. Se o desempenho ruim se torna uma constante, o ciclista é retirado das provas.

Alguns eventos chegam a durar três dias. Os ciclistas ficam todos no mesmo alojamento, dormindo em tatames. Cada um é responsável por sua bicicleta e a devida manutenção. Um cenário totalmente diferente do ambiente das Olimpíadas, por exemplo. O ciclismo keirin entrou no programa olímpico em 2000, sob acusação de dirigentes japoneses terem subornado responsáveis pela federação de ciclismo. Nada foi provado.

Nas Olimpíadas, as provas de keirin são disputadas exclusivamente por homens. Os ciclistas dão oito voltas na pista. Nas primeiras cinco voltas e meia, uma bicicleta motorizada dita o ritmo até alcançar os 45 km/h e deixa a pista em seguida. Os atletas, então, disputam a vitória nas últimas duas voltas e meia. O clima, no entanto, é de competição esportiva, algo bem diferente do que acontece no Japão.