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Ousado ou inconsequente? Felipe Melo é custo alto para quem almeja títulos

Felipe Melo reclama com o árbitro após ser expulso em Palmeiras x Cerro Porteño - Ale Cabral/AGIF
Felipe Melo reclama com o árbitro após ser expulso em Palmeiras x Cerro Porteño
Imagem: Ale Cabral/AGIF
Thiago Rocha

31/08/2018 14h38

Montar um elenco que brigue por títulos requer investimento, mas nem tudo é dinheiro na competitividade do futebol atual. O esporte de alto rendimento exige aliados que são imensuráveis, como a inteligência. Ser vitorioso não é só competência, mas também esperteza, no melhor sentido da palavra. Outro pilar fundamental é o equilíbrio emocional. Não há força física, individual ou coletiva, que compense o destempero. E poucas coisas são tão dolorosas do que perder para você mesmo.

Insistir em Felipe Melo tem gerado um custo alto ao Palmeiras e, novamente, o assunto não é dinheiro. A piada cruel pós-classificação alviverde às quartas de final da Libertadores foi que a ambulância que faz plantão no Allianz Parque, acionada no segundo tempo para socorrer o paraguaio Rojas, ficou mais tempo em campo do que os três minutos que o volante precisou para talhar a perna esquerda de Victor Cáceres e ser expulso corretamente.

Mas galhofa é coisa para torcedor, na arquibancada, na hora do almoço da firma ou na mesa do bar. Em campo, futebol é coisa séria. Moldar um time campeão exige entrega e compromisso coletivo, algo que Felipe Melo definitivamente não tem ou não se importa.

Ele mesmo se chama de Ousado, mas Felipe Melo está muito mais para inconsequente. Aos 35 anos e com passagens por grandes clubes do Brasil e da Europa, o discurso de “é bom jogador se tiver a cabeça no lugar” não cola mais. Ele não tem a cabeça no lugar, talvez nunca terá. Coloca-se como líder de elenco, mas em campo age por si em detrimento dos colegas. E possivelmente se tornou indomável porque, mesmo atuando nos principais palcos do futebol mundial, ninguém o peitou como deveria.

O próprio Palmeiras agiu desta forma, no ano passado, quando Cuca o afastou após um episódio de insubordinação. Como autoridade do departamento de futebol, Alexandre Mattos não agiu como chefe e preferiu a boleiragem. A diretoria passou a mão na cabeça do “Pitbull” quando tinha elementos suficientes para se livrar de uma bomba-relógio. Será que vale a pena arcar com esse custo por mais tempo, com tantos interesses em jogo na briga por títulos?

Apegue-se apenas a 2018, mais um ano em que o Palmeiras elevou ao máximo as suas expectativas de conquistas. Felipe Melo acumula duas expulsões: na primeira final do Paulistão, contra o Corinthians, com direito a murro em Clayson, e na última quinta-feira (30), contra o Cerro Porteño, virando desfalque, na mais otimista hipótese, para o jogo de ida das quartas de final contra o Colo-Colo - já que existe o risco de ser punido pela Conmebol por reincidência (o pugilismo contra o Peñarol em 2017, lembra?).

Em 36 jogos nesta temporada, Melo levou 18 cartões amarelos. Basicamente, uma punição a cada duas partidas. Ele está suspenso da primeira semifinal da Copa do Brasil, contra o Cruzeiro, mais uma vez em momento-chave para os objetivos alviverdes. Como contra o Cerro, em que deixou o Palmeiras com um jogador a menos por 98 minutos, após lance de violência desmedida que colocou em risco o ano do clube. A classificação veio, para alívio dos torcedores, mas definitivamente não foi por méritos do volante.

Fica uma pergunta ao palmeirense: imagine uma hipotética semifinal de Libertadores com o Boca Juniors, jogo de ida em La Bombonera. Baseado no retrospecto recente, você confiaria minutos em campo a Felipe Melo em uma partida de caráter tão crucial como essa?

Falta à diretoria do Palmeiras descer do camarote do Allianz Parque em alguns momentos e observar o futebol com mais proximidade e senso crítico. Embora uma parcela razoável da torcida apoie Melo, o sentimento geral no estádio após a expulsão com três minutos de jogo foi de indignação. Não com a arbitragem, mas com o jogador. Como alguém pode cometer tamanha bobagem em um jogo em casa, com placar agregado a favor, no torneio que é a “obsessão” alviverde? Não dá mais para ser conivente nem contemporizar um episódio tão grave.

Cabe a Felipão também se posicionar mais firmemente como comandante do elenco sobre as atitudes de seu jogador. No primeiro tempo contra o Cerro, quando Borja reclamou por ser cobrado para ajudar na marcação, Scolari mandou Deyverson aquecer, em claro recado ao colombiano: faça o que pedi ou está fora. Precisa fazer o mesmo com o “Ousado”: ou entra na linha ou tchau, ainda que seja uma medida a ser tomada “internamente”, como ponderou na coletiva pós-jogo.

Felipe Melo é a tal conta sem preço que o esporte sempre cobra, e caro, de quem quer vencer. Resta saber por quanto tempo o Palmeiras ainda está disposto a flertar com o risco de ser prejudicado por um jogador que não respeita pessoas nem limites e age como se não tivesse satisfações a dar.

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