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Projeto do PSG paga um preço alto pela ganância com Mbappé e Neymar

Neymar lamenta derrota do PSG para o Liverpool na Liga dos Campeões - Xinhua/Han Yan
Neymar lamenta derrota do PSG para o Liverpool na Liga dos Campeões
Imagem: Xinhua/Han Yan

Dassler Marques e João Henrique Marques

Do UOL, em São Paulo e Paris

28/09/2018 04h00

O primeiro grande duelo de gigantes da temporada europeia, na última semana em Anfield, teve um efeito esclarecedor sobre o Paris Saint-Germain. Esqueça por um instante o placar acirrado de 3 a 2, definido com golaço de Firmino: o Liverpool espremeu e foi amplamente superior ao PSG durante pelo menos 70 minutos da partida que abriu de verdade a Liga dos Campeões. É o tipo de duelo que precisa gerar reflexões, sobretudo quanto às várias falhas no projeto esportivo parisiense.

Apertado pelo Fair Play Financeiro desde que resolveu pôr mais de 400 milhões de euros em dois potenciais Bolas de Ouro, o PSG também se fragiliza a cada janela de transferência desde então para evitar punições da Uefa. Em nota oficial emitida há dois meses, admitiu que “fez um número significativo de transferências para cumprir a decisão”. Negócios com o intuito de diminuir o desequilíbrio em balanço têm sufocado a força de elenco necessária para ser protagonista na Europa.

Matuidi, Aurier, Lucas Moura, Augustín, Gonçalo Guedes, Pastore, Yuri, Edouard e Ikoné foram transferências que somaram algo em torno de 200 milhões de euros nas últimas três janelas. Outros movimentos como o empréstimo do promissor Lo Celso, a grave lesão de Dani Alves e a aposentadoria de Thiago Motta ajudam a explicar um banco de reservas majoritariamente formado por garotos sem rodagem alguma e figuras em viés de queda como Draxler, Choupo-Moting e Lass Diarra. 

Choupo-Moting é um caso especial. O atacante de 30 anos, que fez modestos oito gols em 62 partidas em duas temporadas, se junta a Buffon, o próprio Lass  Diarra e Dani Alves como reforços que chegaram a custo zero no PSG durante a era Mbappé-Neymar. Na impossibilidade de pagar por transferências, o clube direcionou seu projeto esportivo para aquisições baseadas em luvas e salários de atletas veteranos. Dani, por exemplo, tinha malas prontas para Manchester quando chegou de Paris oferta absolutamente superior à que teve do amigo Guardiola.

Essa situação também ajuda a explicar a perda de competitividade de quem sonhou com Kanté, Boateng e Filipe Luís na última janela, mas conseguiu o jovem zagueiro alemão Kehrer e o lateral espanhol Bernat, discreto pelo Bayern e de atuação comprometedora na partida de Anfield.   

Segundo apurou o UOL Esporte, o núcleo brasileiro do PSG já manifestou internamente sinais de descontentamento com o projeto esportivo do clube e como o elenco não se tornou mais forte depois de uma janela de transferências. Há, por parte dos jogadores, a avaliação de que o meio-campo e a lateral esquerda são pontos frágeis do time. Até por isso, Neymar e companhia fizeram força para que Alex Sandro ou Filipe Luís fossem acréscimos na última janela, sem sucesso.
 
É o elenco limitado em opções que justifica uma opção questionável do jovem treinador Thomas Tuchel e envolve Marquinhos. Acostumado a obedecer a decisões mesmo que questionáveis com serenidade, ele aparentemente aceitou se tornar volante, longe de sua posição natural. Após o adeus de Motta, as únicas opções viáveis para a função são o defensor brasileiro e o veteraníssimo Lass. Sobrou para quem?

A partida de Liverpool mostrou que esse desequilíbrio gerado pela contratação de duas grandes estrelas também pode chegar a campo. Não por acaso, Klopp disse que a aposta, naquela partida, foi criar com Alexander-Arnold no setor defendido por Neymar, que ainda não vem bem fisicamente. 

Sem pressão na bola com seus homens de frente e com dois meias de pouca agressividade como Di María e Rabiot, o PSG apostou em jogar com as linhas recuadas e a esperança de criar espaços para a velocidade de Neymar e Mbappé. Os momentos assim foram raros, mas ainda permitiram o gol de empate na partida, sempre um “risco” quando há uma dupla de tal categoria, capaz de vencer qualquer jogo de mata-mata.

Ainda no vestiário da derrota, porém, o capitão Thiago Silva mandou recado para o diretor ao ser questionado sobre as presenças de Marquinhos e Di María no meio-campo: “Perguntem ao Antero Henrique”. Sinal de que o desequilíbrio não é só no projeto esportivo e na montagem do time do PSG.

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