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A volta dos dinossauros

  - Paulo Whitaker/Reuters
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters
Renato Mauricio Prado

22/10/2018 04h00

Saíram de cena Maurício Barbieri (37 anos), no Flamengo, e Thiago Larghi (38), no Atlético Mineiro. Patinam Jair Ventura (39), no Corinthians, Zé Ricardo (47), no Botafogo e Alberto Valentim (43), no Vasco.

Em contrapartida, brilham Luiz Felipe Scolari (69, a um mês de completar 70), no Palmeiras, Cuca (55), no Santos, Mano Menezes (56), no Cruzeiro, Renato Gaúcho (56), no Grêmio e Dorival Júnior (56), no Flamengo. Quem diria, estamos assistindo a mais uma troca de guarda no nosso futebol. Só que desta vez, em sentido inverso ao natural: saem as “jovens promessas” e voltam os velhos medalhões.

O que isso significa? Que os novos foram incapazes de trazer algo realmente inovador para nossos campos. O Flamengo de Barbieri, por exemplo, tentou rezar na cartilha espanhola de Pep Guardiola e do Barcelona. Apostou na posse de bola e nos toquinhos para o lado e para trás, até que surgissem os espaços para atacar. Só que, pelo visto, não leu os últimos capítulos da arte do “tiki-taka” e não soube transformar o domínio territorial em gols. Reprovado.

Fernando Diniz (44) é outro que, há algum tempo, vem tentando implantar um futebol mais moderno nos clubes pelos quais tem passado. O resultado? Fracassos e mais fracassos, demissões em cima de demissões. Embora suas equipes, por vezes, cheguem a encantar, pelo estilo vistoso e ofensivo. Mas não vencem o suficiente para lhe garantir o emprego.

O quase setentão Luiz Felipe Scolari aprendeu algo, desde o 7 a 1, contra a Alemanha? Certamente que não. De lá pra cá, teve uma passagem opaca pelo Grêmio, transferiu-se para o futebol chinês (onde ganhou praticamente tudo) e agora retorna ao Brasil conseguindo dar ao Palmeiras a objetividade que Roger Machado (43) nunca foi capaz de alcançar.

A preocupante constatação é que nossos jovens técnicos encontram enorme dificuldade em desenvolver o aparente potencial e acabam tragados pelo mercado. E não dá nem pra dizer que o problema é apenas o imediatismo de nossos cartolas, sempre ávidos em trocar o treinador após três maus resultados. Roger, por exemplo, já passou pelo Grêmio, pelo Atlético Mineiro e, mais recentemente, pelo Palmeiras. E não emplacou.

O mesmo pode-se dizer de Zé Ricardo, que já fez quase todo o circuito do Rio (Flamengo, Vasco e agora Botafogo), mas também não se firma. E já não é tão jovem. É o mais velho da “nova” turma.

Tite (57) parecia ser a grande novidade, não somente em termos táticos, mas também de comportamento. Mas decepcionou na Copa do Mundo e segue decepcionando, após o fracasso na Rússia.

Depois ficam dizendo que a grande barreira para os nossos treinadores, nos principais clubes europeus, é a língua. Balela. Paramos no tempo e no espaço. Mais um exemplo? Quem é o sonho de consumo de um mercado que acaba de trazer de volta Levir Culpi (65)? Abel Braga, 66 anos.

Robinho, do Cruzeiro - NELSON ALMEIDA/AFP - NELSON ALMEIDA/AFP
Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP
Algo que talvez explique a dificuldade de os mais jovens conseguirem se impor (e também a facilidade que os mais velhos têm encontrado) é a idade avançada da maioria de nossos jogadores. O Cruzeiro, campeão da Copa do Brasil, escalou, em Belo Horizonte, na primeira partida, contra o Corinthians, um time inteiro de balzaquianos: Fabio (38), Edilson (32), Dedé (30), Léo (30), Egídio (32), Henrique (33), Ariel (31), Robinho (30), Thiago Neves (35), Rafinha (35) e Barcos (34).

Como bem ressaltou meu amigo Paulo Vinícius Coelho, o PVC, não há registro no futebol mundial de um time assim ser campeão de um torneio importante no primeiro mundo da bola. Estamos envelhecendo rapidamente dentro e fora de campo.

Não é à toa que a garotada daqui, cada vez mais, assiste e torce por times como o Barcelona, o Real Madrid, o Manchester City etc. O futebol brasileiro, cada vez mais, cheira a mofo.

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