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Ataque lá, retranca aqui

REUTERS/Paulo Whitaker
Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker
Renato Mauricio Prado

29/10/2018 04h00

Dois superclássicos, um na Espanha, outro no Brasil, permitiram uma comparação preocupante para os brasileiros, nesse último final de semana. Falo, é claro, de Barcelona x Real Madrid, disputado no domingo, no Camp Nou, e Flamengo x Palmeiras, jogado no sábado, no Maracanã.

Nem me refiro ao óbvio abismo técnico entre as equipes: as espanholas infinitamente superiores às nossas, por força do conhecido desnível econômico entre o futebol dos dois países. O que mais me incomodou no contraste das duas partidas, foi o panorama tático, o sentido do jogo praticado lá e aqui.

No duelo entre o líder e o vice-líder do Campeonato Brasileiro, a preocupação em não sofrer gols esteve sempre à frente da tentativa de marcá-los. Pelos dois lados, as ações ofensivas foram tímidas e, na maioria das vezes, burocráticas. Por isso mesmo, muito mais facilmente anuladas do que no jogaço entre os dois gigantes espanhóis.

Luiz Felipe Scolari, como se sabe, é um mestre em armar os seus times da defesa para o ataque. Dorival Junior não é muito diferente, apesar das vitórias recentes do Flamengo por placares dilatados. Do lado de lá, Ernesto Valverde e Julen Lopetegui (que nem podem ser considerados do primeiro time dos treinadores em atividade na Europa) preparam as suas equipes, acima de tudo, para marcar gols. O maior número possível, independentemente dos riscos que isso acarreta.

Foi assim que o Barça abriu 2 a 0, no primeiro tempo, e o Real Madrid foi buscar uma reação, no segundo, diminuindo o placar e chegando perto do empate, que só não foi conseguido, logo depois, por causa de uma bola na trave. Os catalães, entretanto, não se limitaram a ficar lá atrás, tentando defender a vantagem. E a partida, que já era boa, se tornou um espetáculo, acabando em goleada de 5 a 1 para a turma de Luisito Suarez (em tarde de gala) e Philippe Coutinho.

No jogo do Maracanã, o que se viu no primeiro tempo foi decepcionante. Domínio territorial do Flamengo, mas com pouquíssima objetividade. Somente Vitinho tentava algo mais ousado em termos de ataque. Pouco, muito pouco para a grande e justificada expectativa em torno do duelo entre os elencos mais caros e mais bem colocados no campeonato.

Somente na etapa final, por causa do gol de Dudu (sempre ele), o jogo se abriu mais. Mas grandes jogadas e lances emocionantes, continuaram raros. Wewerton fez duas boas defesas, em chutes de Lucas Paquetá e Everton Ribeiro, e quando a vitória palmeirense já parecia consolidada, o improvável aconteceu: o colombiano Marlos Moreno, que não marcava um gol há dois anos, em 77 partidas disputadas, entrou no lugar de Vitinho (contundido), fez grande jogada e empatou o clássico. Em seguida, em novo lance, deixou Paquetá completamente livre, para fazer o gol da virada, mas o melhor jogador rubro-negro chutou na lua.

Talvez no dia em que os nossos treinadores voltem a valorizar mais o ataque do que a defesa, possamos rever aqui partidas de futebol tão emocionantes e bem jogadas quanto Barcelona x Real Madrid. Temos times mais fracos tecnicamente, mas há um grande equilíbrio que poderia gerar espetáculos mais atrativos do que os que estamos vendo na maioria dos nossos jogos onde “entregar a bola para os adversários e esperar um contra-ataque” passou a ser a triste tônica.

No final das contas, o empate foi excelente para o Palmeiras, não apenas porque o manteve quatro pontos à frente do vice-líder Flamengo (faltando apenas sete rodadas), mas, principalmente, porque recuperou o moral do time, que vinha abalado pela derrota para o Boca. Pode ser que não seja o bastante para virar a semifinal da Libertadores. Mas soa suficiente para garantir o título brasileiro, o que, decididamente, não é pouca coisa.

Já lá na Espanha, a goleada deve custar o cargo a Julen Lopetegui. Mas aposto que seu substituto continuará a privilegiar o ataque. Ou alguém consegue imaginar o Real Madrid atuando na retranca?

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