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A Liga está chegando

Casemiro, do Real Madrid, e Arthur, do Barcelona, em duelo pelo Campeonato Espanhol - Joan Monfort/AP
Casemiro, do Real Madrid, e Arthur, do Barcelona, em duelo pelo Campeonato Espanhol Imagem: Joan Monfort/AP
Renato Mauricio Prado

05/11/2018 04h00

Documentos vazados pelo Football Leaks, por meio de vários veículos de mídia, revelaram os planos de 16 gigantes do futebol do velho continente, que se mostram dispostos a fundar uma Superliga Europeia, abandonando a Uefa e criando uma nova competição que reuniria somente a nata dos clubes de lá. A ideia é que o torneio estelar comece a partir de 2021.

Se a Superliga de lá vai sair do papel, não sei. São muitos complicadores políticos no caminho de Chelsea, Arsenal, Liverpool, Manchester United, Manchester City, Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Milan, Juventus e PSG (os 11 fundadores). Por aqui, entretanto, nunca se teve condições tão favoráveis para que se forme a nossa liga, permitindo que os clubes brasileiros escapem do nefasto logo da CBF, que sequer se preocupa em evitar que suas próprias competições sejam desvalorizadas, com times reservas, e que a seleção continue a desfalcar as equipes com seus amistosos caça-níqueis.

O presidente do Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia, aproximou-se do presidente eleito Jair Bolsonaro, durante a campanha, e sua participação no governo, em algum cargo ligado ao esporte, não é descartada. E mesmo que não assuma nada, terá, com certeza, papel influente como conselheiro do governo no assunto.

Petraglia é, sabidamente, um crítico feroz da CBF (e da Lei Pelé) e, juntamente com Andrés Sanchez, do Corinthians, e Eduardo Bandeira de Mello, do Flamengo, foi oposição a eleição de Rogério Caboclo, o candidato do ex-presidente Marco Polo Del Nero que, mesmo banido do futebol pela Fifa, segue dando as cartas na confederação.

Ele foi também um dos fundadores da Primeira Liga, competição que a CBF e a Rede Globo boicotaram abertamente e já não existe mais. Agora, entretanto, a situação mudou radicalmente. Vale lembrar que Bolsonaro deseja ansiosamente apoiar qualquer iniciativa que, ao menos no papel, combata a corrupção. E a CBF é uma oportunidade e tanto. Alguém seria capaz de condenar o seu esvaziamento?

Com o apoio do governo e ao lado de Corinthians e Flamengo, a liga só não sairá se Petraglia não quiser. Ainda mais com a possibilidade de substituir o poder da Rede Globo pelo da Record, outra jogada que, por motivos óbvios, agradaria imensamente o novo presidente da República.

As condições nunca foram tão favoráveis para desestabilizar a CBF e tirar dela todo o poder sobre os clubes. A criação da liga brasileira, agora, é mais do que uma possibilidade. É praticamente uma certeza. E deve acontecer antes mesmo da Superliga Europeia, prevista para 2021.

Ainda que por caminhos tortuosos, o futebol brasileiro está a um passo de, enfim, se livrar da nefanda dinastia de Ricardo Teixeira, José Maria Martin, Marco Polo Del Nero, Coronel Nunes e Rogério Caboclo. Impossível não considerar isso um elogiável avanço.

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