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Os dois jogos da seleção de Tite

Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF
Renato Mauricio Prado

19/11/2018 04h00

A seleção brasileira faz, atualmente, dois jogos distintos quando se apresenta. O primeiro no campo propriamente dito, e o segundo nas cada vez mais maçantes entrevistas coletivas de Tite, onde o que é dito por ele e por seus auxiliares raramente bate com o que se viu em campo.

Nas palavras do técnico, o Brasil sempre joga muito mais do que a TV mostra. Foi assim na Copa do Mundo, onde vitórias pífias contra adversários fracos foram apresentadas como triunfos épicos frente a rivais homéricos e continua a ser nesses amistosos furrecas com que a CBF procura faturar algum antes da próxima temporada.

Na magra vitória sobre um Uruguai desfalcadíssimo e que vinha de derrotas humilhantes para o Japão e a Coreia do Sul, o desempenho brasileiro foi desolador. Não houve organização tática, não houve jogadas de ataque que merecessem destaque, não houve nada. Absolutamente nada que merecesse destaque, muito menos exaltação.

Mas Tite e seus "numerólogos" (entre eles, o seu filho, o que, por mais que ele diga o contrário, configura um lamentável caso de nepotismo) exaltaram os "600 passes" dados pelos brasileiros! E daí? O zilhão de toques (a maioria, pro lado) serviu pra que?

Praticamente todas as jogadas de ataque da seleção brasileira passaram pelos pés de Neymar. E como ele esteve sempre bem marcado e num dia pouco inspirado o resultado foi o que se viu. O goleiro uruguaio Campaña não fez rigorosamente nenhuma defesa difícil durante os 90 minutos, enquanto Alisson, apesar de toda a posse de bola e o domínio (estéril) do Brasil, teve que se desdobrar para evitar gols de Cavani (no primeiro tempo) e Suárez (no segundo).

A seleção venceu graças a um pênalti num lance que deveria ter sido paralisado antes, por mão de Danilo, e, uma vez mais, não convenceu. Já os discursos de Tite, "oportunizando" jogadores (meu Deus, quando ele respeitará o vernáculo e falará português?), criando "volume", "profundidade" e outras baboseiras do gênero se mostram cada vez mais vazios e descolados da realidade.

Houve um tempo em que o treinador conseguiu se tornar quase uma unanimidade, por seu indiscutível sucesso no Corinthians, e na própria seleção, nas eliminatórias sul-americanas. Essa época passou. E o que se vê cada vez mais é que Tite se tornou um triste personagem de si próprio, incapaz de admitir os próprios erros e limitações.

Pode ser até que ganhe a Copa América, repetindo os truques do passado, que se mostraram (e ainda se mostram) eficientes contra sul-americanos. Mas, sinceramente, não sei se isso será benéfico para o futuro da seleção, com vistas à próxima Copa do Mundo.

Enfrentar adversários do nosso continente virou um autêntico "me engana que eu gosto". Pior que isso, só mesmo encarar rivais como... Camarões! Preparem-se para mais uma pelada e mais uma entrevista ufanista e fantasiosa. Haja paciência!

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