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Bolsa Atleta: se for rigorosa, revisão mostrará surpresas

O tenista brasileiro Thomaz Bellucci é um dos atletas que recebe a Bolsa, apesar dos prêmios valiosos que ganha na carreira. Na foto, em ação contra o francês Lucas Pouille em Roland Garros - Petr David Josek/AP
O tenista brasileiro Thomaz Bellucci é um dos atletas que recebe a Bolsa, apesar dos prêmios valiosos que ganha na carreira. Na foto, em ação contra o francês Lucas Pouille em Roland Garros Imagem: Petr David Josek/AP

24/01/2019 13h04

Tardiamente, mas, enfim, o programa Bolsa Atleta passará por grande revisão da nova Secretaria de Esporte do Ministério da Cidadania. A informação está no blog Olhar Olímpico.

Criada em 2004, a bolsa tornou-se um importante apoio financeiro do governo federal para a melhor preparação dos atletas em todos os níveis. Os governos que se sucederam desde então orgulhavam-se de noticiar, mundo afora, que se tratava do maior programa planetário do gênero. 

Porém, com o passar dos anos, o Bolsa Atleta tornou-se mais um foco de corrupção no extinto Ministério do Esporte. E, como aconteceu em outros casos de desvio de dinheiro público, sem receber atenção das autoridades para as denúncias sobre os desmandos identificados. 

Por exemplo, inexpressivos campeonatos de uma determinada modalidade (judô, karatê etc) eram realizados no Mato Grosso do Sul, atraindo um ou dois atletas do Paraguai. Ou no Mato Grosso, com representantes da Bolívia. Essas competições eram chamadas de "internacional", o que aumentava o valor da bolsa para os campeões brasileiros, no caso. Porém sem qualquer conhecimento ou aval da respectiva confederação. Eram eventos de fundo de quintal para burlar a legislação. E ninguém cuidava de avaliar o nível daquelas competições. 

Em outros casos, o Ministério do Esporte contemplava atletas que já recebiam valiosos prêmios nas competições. Em 2014, por exemplo, o tenista Thomaz Bellucci recebeu 329 mil dólares nos torneios que disputou. No mesmo ano, registrou 3,2 milhões de dólares acumulados na carreira. Ótimo. Ele é profissional, vive disso. Mas um atleta com esse ganho e saldo bancário precisa de Bolsa Atleta? Paralelamente, a Confederação de Tênis era contemplada com patrocínios dos Correios, justamente para "treinar atletas de alto rendimento"...

Mais: em 2015, o Tribunal de Contas da União realizou uma auditoria no programa Bolsa Atleta. E identificou que 45 competidores contemplados sequer existiam. 

Daí, a importância dessa revisão anunciada. Não apenas para identificar "atletas fantasmas", mas para criar critérios que contemplem, prioritariamente, atletas ainda sem visibilidade na mídia. Esses, sabe-se, são os que mais precisam - ao contrário dos muitos que já ganham -, pois só aparecerão no momento em que conquistarem um grande feito. 

Finalmente: Essa prometida revisão de critérios não pode ser feita isoladamente. Ela precisa ser comparada com outros programas, como a Lei de Incentivo ao Esporte. Muitos clubes beneficiam-se dos incentivos a pretexto de "apoiar atletas de alto rendimento". Ao mesmo tempo, o atleta recebe a Bolsa, mas nunca viu a cor do dinheiro público recebido da Lei de Incentivo. Se for rigorosa como promete, essa revisão ainda mostrará mais surpresas, com prejuízo para o esporte e os cofres públicos, claro.

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