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Vinícius Junior sabe jogar. Talvez se torne um craque

Vinicius Junior comemora gol Real Madrid Alavés - GABRIEL BOUYS/AFP
Vinicius Junior comemora gol Real Madrid Alavés
Imagem: GABRIEL BOUYS/AFP

06/03/2019 04h00

Vinicius Junior poderá se tornar um craque. Seu limite será determinado pelo que ele fará com os talentos que recebeu. Talentos notórios: a velocidade, o drible e a capacidade de mudar de direção sem perder o controle da bola; e, não menos relevante, o sentir-se capaz de decidir os jogos mais importantes e difíceis.

Certamente não é comum um jogador de 18 anos desembarcar na Espanha e, meses depois, ser escalado frequentemente no time titular do Real Madrid. O cara sabe jogar. Para ser um jogador extraordinário, porém, Vinícius Junior terá de melhorar sua técnica.

Tostão já nos alertou várias vezes para a diferença entre habilidade e técnica: aquela é essência do drible e do domínio de bola; esta se expressa no passe e na finalização. Habilidade é genética, e dom, e intimidade com o instrumento de trabalho; técnica é treino, e treino, e mais treino. A técnica é exigência para a boa execução dos fundamentos, ou seja, marcar, passar, lançar e chutar.

É claro que habilidade e técnica muitas vezes estão misturadas, ou mesmo amalgamadas, no drible ou na cobrança de falta; no entanto, são diferentes na origem e no desenvolvimento. É possível ser craque sem a habilidade de um virtuose; mas não há craque sem técnica. O ideal, por óbvio, é ter ambas. 

Tornou-se provérbio a ideia de que o craque nasce pronto. Partes imprescindíveis do ser craque nascem antes do parto, enquanto outras vêm do ambiente e das condições em que a criança aprende a jogar - no futebol, particularmente, campos acidentados ou de areia já obrigaram muita gente a desenvolver habilidade.  A técnica, contudo, só pode decorrer de muito treino, trabalho exaustivo e repetição. Não há vontade humana ou treino capaz de transformar um jogador mediano em craque; no entanto, os fenômenos do esporte sempre foram mais que apenas talento.

Michael Jordan nunca se acomodou ao talento recebido; antes, treinava mais que qualquer outro jogador daquele time excepcional do Chicago. Mozer já contou que, quando foi para o elenco profissional do Flamengo, ficou impressionado com a dedicação de Zico nos treinamentos. Todos que jogaram com Pelé no Santos ou na Seleção compreenderam que ele sempre acrescentou rios de transpiração à inspiração incomum e ao talento antológico.

O mesmo vale para Messi e Cristiano Ronaldo, ou eles não conseguiriam jogar tanta bola por tanto tempo. Garrincha foi único, pois fintou até limites da física, mas seu futebol espantoso não era somente o drible espetacular e a intuição formidável. Garrincha tinha muita técnica nas finalizações e nos cruzamentos.

Vinicius Junior não é um jogador comum, mas, para ser mais do que bom, precisa melhorar o passe e a finalização, além de desenvolver a calma necessária para tomar as decisões certas nos lances capitais. Deve também ignorar os elogios fáceis e exagerados. Sim, Vinícius sente-se capaz de decidir os jogos mais importantes e difíceis, mas só conseguirá fazê-lo quando for além de seus notórios talentos.

Vinicius Junior poderá se tornar um craque. Se assim for, a seleção brasileira terá a chance de recuperar sua histórica peculiaridade de não depender de um único jogador.

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