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Novo presidente da CBF é formado na escola dos banidos do futebol

Rogério Caboclo, presidente eleito da CBF - Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação
Rogério Caboclo, presidente eleito da CBF Imagem: Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação
José Cruz

18/04/2019 04h00

A carreira de cartola de Rogério Caboclo, recém-empossado presidente da CBF, indica que ele não se desvinculará do padrinho Marco Polo Del Nero para tentar implantar a transparência e a confiança que faltam àquela casa. Assim como os perfis dos vice-presidentes não sugerem novos tempos praquelas bandas.

Caboclo cresceu no esporte à sombra da dinastia de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Del Nero, banidos do futebol. Aluno premiado dessa escola, ele foi diretor-executivo da CBF e, graças à influência de Del Nero no colégio eleitoral, venceu a eleição. Diante disso, trairá ele o ex-líder do "crime organizado no futebol"?

A corrupção na CBF não é recente, vem de décadas. Na CPI da CBF Nike, de 2001, o então deputado Silvio Torres já demonstrava, com fartura de provas, como o futebol era usado para a promoção de grandes negócios. "São milhões de dólares que rolam em contratos obscuros e desaparecem", escreveu.

O tempo passou. Agora, cinco anos depois da Copa do Mundo no Brasil, pode-se até reclamar da falta de "legados" - técnicos, inclusive. Mas sobram processos criminais com denúncias de corrupção e investigações policiais envolvendo vários cartolas. Certo é que as constatações de fraudes em inquéritos, como o dos Estados Unidos, comprovaram as denúncias das CPIs no Brasil. E J. Hawilla, dono da Traffic, em delação à Justiça norte-americana confirmou o esquema do "escândalo Fifa", envolvendo, também, a cúpula do futebol brasileiro. Hawilla morreu em 2018.

Em resumo, a CBF mantém uma administração suspeita há anos, "enquanto fortunas privadas formam-se rapidamente, administradas em paraísos fiscais de onde brotam mansões, iates e se alimenta o poder de cooptação e de corrupção" (Relatório da CPI da CBF Nike - 2001).

O recente banimento do futebol de José Maria Marin, imposto pela Fifa, é punição continuada dos mãos-peludas da cartolagem, que não podem ser esquecidos: Marin foi preso em 2015, e o vice Del Nero assumiu a CBF. Mas não viajou mais para o exterior sob pena de prisão.

Bem antes dessa dupla, Ricardo Teixeira afastou-se da presidência da CBF e do Comitê Organizador da Copa 2014. Só nas suas mãos foram 23 anos explorando a imagem e o jogo da seleção brasileira para a geração de dinheiro superfaturado.

"Pentacampeão mundial e com gerações de craques que deixaram saudade, o futebol brasileiro tem um capítulo policial que envergonha a história do nosso esporte", escreveu Romário em seu relatório da CPI do Futebol. E detalhou: "As ações criminosas identificadas na CBF ocorrem de várias formas, mas todas com alguns elementos em comum: repetem, quase sempre, os mesmos procedimentos, executados pelas mesmas pessoas, como numa quadrilha bem articulada".

As autoridades brasileiras sabem disso. Supremo Tribunal Federal, Ministério Público, Banco Central, Polícia Federal, Receita Federal etc receberam o relatório do senador, assim como o da CPI da CBF Nike, de 2001, e CPI do Futebol, no Senado, no mesmo ano. Mas as punições à cartolagem, até agora, só da Justiça norte-americana e da Fifa.

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