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José Cruz: CBF transforma em rotina contratos suspeitos

O  ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira em imagem de julho de 2011 - Michael Regan/Getty Images
O ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira em imagem de julho de 2011 Imagem: Michael Regan/Getty Images
José Cruz

16/05/2019 11h21

A Folha de S.Paulo divulgou que "o Grupo Ecotonian, anunciado pela CBF como parceiro da empresa Sport Promotion em um consórcio para exploração de placas de publicidade do Campeonato Brasileiro, possui laços em paraísos fiscais".

Com quarenta dias de antecedência, o mesmo jornal antecipou que esse grupo venceria a concorrência. Ou seja, jogo viciado e combinado, tudo acertado para driblar o VAR da transparência e os fiscais que combatem a corrupção no esporte. Temos isso?

Esse tipo de notícia já é rotina e passa despercebida do torcedor que sustenta a fenomenal máquina financeira do futebol. Mas esses atos suspeitos passam ao largo, principalmente, das autoridades de governo, quem sabe também envolvidas pelas emoções que o jogo da bola impõe.

Para que os raros leitores entendam melhor essas práticas, recupero uma informação de 2006 que justifica a expressão "rotina". À época, o então presidente Ricardo Teixeira fechou acordo sigiloso com o Dallah Al-Baraka Group, para vender os jogos da seleção brasileira por dez anos. A sede da tal empresa era em George Town, paraíso fiscal das Ilhas Cayman. E o endereço, acredite, era uma caixa postal...

Esse fato foi revelado na CPI do Futebol, em 2015, pelo jornalista Jamil Chade. Ao final, o presidente da CPI, senador Romário, escreveu em seu relatório alternativo:

"Estava claro como a CBF leiloou a seleção brasileira, recebendo em troca alguns milhões de dólares, além de comissões de agentes e de empresas em paraísos fiscais, operações fechadas longe do controle da Receita Federal Brasileira".

Naquela ocasião, a CPI não teve acesso aos contratos da CBF, pois a cartolagem foi à Justiça e barrou a investigação sobre as suas estranhas relações financeiras, apesar das evidências de frequente sonegação fiscal. E, reparem, esses "negócios" tinham como produto principal a seleção brasileira de futebol!

E tudo isso era realizado sem que as autoridades nacionais de fiscalização e de combate à sonegação fiscal "perturbassem" os intocáveis cartolas.

Não é demais relembrar que as punições a que foram submetidos os ex-presidentes da CBF, José Maria Marin, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, vieram de entidades internacionais. Marin foi condenado por corrupção e ainda cumpre pena nos Estados Unidos; Del Nero e Teixeira, banidos do futebol pela Fifa, estão exilados no Brasil. Salvos e seguros.

Não é uma beleza?

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