A Copa que o mundo merecia
A Copa de 1930 teve início muito antes do apito do árbitro uruguaio Domingo Lombardi, no duelo entre França e México, no dia 13 de julho, em Pocitos. O primeiro Mundial foi idealizado mais de 25 anos antes, em 1904, quando foi fundada a Fifa.

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O francês Jules Rimet, à esquerda, entrega a taça de campeão ao uruguaio Raul Jude
Em 1905, a Fifa lançou o projeto de uma Copa do Mundo, mas nenhum país se inscreveu. Anos mais tarde, a Primeira Guerra Mundial impediu que fosse realizado um encontro de tal magnitude. A idéia voltou a tomar forma em 1928, com os franceses Jules Rimet e Henry Delanay à frente.


No Congresso da Fifa em maio de 1929, em Barcelona, na Espanha, ficou decidido que a primeira Copa do Mundo teria como palco o Uruguai, no ano seguinte. A opção pelo país da América do Sul como anfitrião não agradou aos europeus. Apesar dos muitos protestos, a Fifa confirmou a escolha, mesmo com a provável ausência de vários países da Europa.

Número de Participantes - 13
Jogos - 18
Gols - 70
Média de gols - 3,88
Sede - Montevidéu (Centenário, Parque Central, Pocitos)
Média de público - 24.139 pessoas
Artilheiro - Guillermo Stábile (ARG) - 8 gols
Campeão - Uruguai
Vice-campeão - Argentina
Terceiro colocado - Iugoslávia e Estados Unidos
A escolha da Fifa não foi sem razão. Além do bicampeonato olímpico no futebol, em 1924 e 1928, o Uruguai comemoraria os 100 anos de sua independência, e o governo do país pretendia realizar um grande evento na ocasião. Para a realização da Copa, foi construído o estádio Centenário, um marco na arquitetura uruguaia por seu tamanho monumental.

Em meio a nove seleções americanas, apenas França, Romênia, Bélgica e Iugoslávia deixaram a Europa rumo à América do Sul. A participação romena teve um apoio importante. O rei Karol, um monarca desportista, incentivou os romenos a participar da Copa, bancando toda a viagem. Inglaterra, Itália e Alemanha, futuras campeãs mundiais, além da Espanha, desistiram de participar pouco antes do início.

O sistema de disputa do Mundial foi bem simples, com três grupos formados por três e outro por quatro seleções. As equipes se enfrentaram dentro dos grupos, e os líderes seguiram para a semifinal. Como cabeças-de-chave, foram escolhidos Uruguai, Argentina, Brasil e Estados Unidos -os norte-americanos apresentaram uma equipe reforçada por imigrantes escoceses.

Dessa forma, sem a concorrência das principais seleções européias, o anfitrião, Uruguai, e sua vizinha Argentina não encontraram dificuldades para chegar à final, repetindo a disputa pela medalha de ouro das Olimpíadas de Amsterdã, em 1928. Mais uma vez, o Uruguai venceu. Tornou-se, assim, o primeiro campeão mundial de futebol.

Apesar de não ter a mesma força dos países vizinhos, o Brasil foi considerado favorito. No entanto, dividida por uma briga entre cariocas e paulistas, a seleção viajou desfalcada. A falta de organização e o forte inverno uruguaio também atrapalharam.

A expectativa sobre a participação brasileira deu lugar a uma grande decepção após o primeiro jogo, com a derrota para a Iugoslávia. Mesmo a goleada sobre a Bolívia, em sua segunda e última partida, não serviu para melhorar a impressão sobre o futebol brasileiro, precocemente eliminado na primeira fase.





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Stábile, artilheiro da Copa, anos depois

GUILLERMO STÁBILE

Aos 24 anos, Guillermo Stábile foi um dos responsáveis pelo vice-campeonato da Argentina em 1930. Foi também o artilheiro do Mundial, com oito gols, apesar de ter assumido a posição de titular na seleção argentina apenas no segundo jogo da Copa.

Stábile fez gols em todas as partidas em que atuou. Além disso, tornou-se o primeiro jogador a marcar três gols em um duelo válido pela Copa do Mundo. O fato ocorreu na goleada da Argentina sobre o México por 6 a 3, no dia 19 de junho de 1930.

Conhecido durante o Mundial como "O Infiltrador", pela forma como invadia as defesas adversárias, o garoto pobre descoberto nas ruas de Buenos Aires por um olheiro do Huracán ganhou fama e fez sucesso no futebol europeu.

Após a Copa, como muitos outros jogadores da América do Sul, Stábile foi para a Europa, onde atuou pelo Genoa. Logo em sua estréia, marcou três gols contra o Bologna e conquistou o coração dos italianos.

Durante as cinco temporadas em que jogou pelo Genoa, o atacante argentino, filho de italianos, sofreu duas fraturas do perônio. O tempo de recuperação acabou por prejudicar Stábile, que entrou em campo apenas 42 vezes nesse período.

Com o passe vendido ao Napoli, o jogador não teve o mesmo sucesso e acabou trocando a Itália pela França, onde encerrou a carreira no Red Stars, de Paris. Stábile retornou à Argentina ainda na década de 30, quando conquistou respeito também como treinador. O artilheiro do primeiro Mundial morreu em 1966, aos 60 anos.