A maior tragédia nacional
Mais do que um campeonato de futebol, a Copa de 1950 foi um marco. O mundo ainda sofria o colapso provocado pela Segunda Guerra Mundial, encerrada cinco anos antes. A Europa aos poucos se reconstruía. As pessoas procuravam encontrar um caminho após a destruição, e o futebol serviu como prova de que as coisas poderiam voltar ao normal.

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Schiaffino marca o primeiro gol do Uruguai na partida contra o Brasil na Copa do Mundo
Foi nesse clima que o Brasil abrigou a quarta Copa do Mundo da história. A escolha do país para ser sede aconteceu em 1946 e levou em conta o fato do Brasil, único candidato, não ter sido atingido pela guerra.

Para organizar a Copa, os dirigentes resolveram criar um gigantesco estádio no Rio de Janeiro, no bairro do Maracanã. As obras atrasaram e obrigaram o vice-presidente da Fifa, Ottorino Barassi, a vir ao Brasil cinco semanas antes do início do Mundial para garantir a disputa do torneio.

Os problemas não se limitaram apenas aos organizadores brasileiros. Nas eliminatórias, várias seleções desistiram de disputar os seus jogos. Mas o pior fez a Escócia, que, mesmo classificada, não quis jogar a Copa porque achava que não iria bem no Mundial.

Número de Participantes - 13
Jogos - 22
Gols - 88
Média de gols - 4
Sedes - Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo
Média de público - 60.773 pessoas
Artilheiro - Ademir (BRA) - 9 gols
Campeão - Uruguai
Vice-campeão - Brasil
Terceiro colocado - Suécia
A abertura aconteceu no dia 24 de junho, no Rio. Mais de 80 mil pessoas pagaram para ver o Brasil golear o México por 4 a 0, com dois gols de Ademir Menezes, um de Jair Rosa Pinto e outro de Baltazar.

Foi o começo de uma campanha impressionante, de goleadas, que colocaria o Brasil como favorito ao título. E foi também o primeiro passo para a maior desgraça que o futebol brasileiro já viu.

Os outros favoritos eram Itália e Inglaterra. E os dois países não passaram da primeira fase. Os italianos jogaram em São Paulo e tiveram o apoio maciço de sua colônia na cidade. Entretanto, uma derrota para os suecos logo na estréia foi crucial para a eliminação da Itália, que, um ano antes da Copa, perdera a base da seleção com a morte de vários jogadores do Torino em um acidente aéreo.

Já a Inglaterra fez ainda pior. A equipe, que pela primeira vez participava de uma Copa, conseguiu perder dos Estados Unidos, em Belo Horizonte. Além disso, a seleção inglesa foi derrotada pela espanhola, no Maracanã, também por 1 a 0, deixando de avançar.

Quem se deu bem na primeira fase foi o Uruguai. Os primeiros campeões mundiais caíram num grupo com apenas dois times e só precisaram vencer a Bolívia para ir à segunda fase.

No quadrangular decisivo, a seleção brasileira deu show: 7 a 1 em cima da Suécia e 6 a 1 sobre a Espanha.

A última partida foi contra o Uruguai, e um empate bastava para o Brasil ficar com o título. Nas ruas, já se festejava a conquista. Os próprios jogadores foram levados ao clima de "já ganhou" de dirigentes e torcedores. Em campo, a história foi outra. O Uruguai ganhou. O resultado foi uma bomba, que calou o Maracanã.





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Obdulio Varela levou
o Uruguai ao título

OBDULIO VARELA

O meia defensivo Obdulio Jacinto Varela exibia a síntese da seleção campeã do mundo: raça e técnica. Capitão da equipe, Varela foi fundamental para a conquista do Uruguai no Maracanã.

O jogador tinha 33 anos quando disputou a Copa. Antes da final, Obdulio mexeu com os brios dos seus companheiros ao mostrar cópias de jornais brasileiros que já colocavam a seleção como campeã do mundo.

Na partida decisiva, protagonizou um lance considerado crucial para a definição do título. Sem bola, Obdulio acertou um tapa no zagueiro Bigode. Esse lance balançou o brasileiro. Alguns atletas, no entanto, afirmam que o tapa não foi maldoso, mas só um encostão.

Após o gol de Friaça, Varela foi até a rede, pegou a bola e tranquilizou a equipe uruguaia, que partiu para o ataque e conseguiu a virada.

Odbulio começou a carreira pelo pequeno Juventud, em 1936. Sua primeira convocação para a seleção aconteceu em 1939, quando defendia o Wanderers. Em 1943, o meia se transferiu para o Peñarol, clube no qual ficou até o final da carreira, em 1955.

Pela seleção uruguaia, Obdulio Varela fez 52 jogos e marcou oito gols, sendo um na Copa de 50 e outro na de 54. Além do título mundial no Brasil, o meia também venceu a Copa América de 1942.

Apelidado de "Chefe Negro" por ser mulato (filho de espanhol com negra), Obdulio Varela morreu pobre em 1995, em Montevidéu, no Uruguai, na mesma casa em que vivia desde o tempo em que era o capitão da "celeste olímpica".