A Copa campeã em dúvidas
Assim como o Mundial de 1966, na Inglaterra, o de 1978, na Argentina, entrou para a história com dúvidas. Teria sido esta outra Copa arranjada para que a equipe anfitriã fosse vencedora?

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O ditador argentino Jorge Videla comemora com atletas a conquista da Copa do Mundo
A situação na Argentina era muito ruim. A linha-dura e a censura propiciadas pela ditadura militar tornaram a realização da Copa uma "compensação" para o que o povo passava. Houve até protestos e pedidos para que a Fifa mudasse a sede, mas o presidente da entidade, João Havelange, foi irredutível.

Se fosse apenas isso, a Copa não teria entrado para a história com um enorme "ponto de interrogação" sobre ela. Mas, encerrado o torneio, pairavam dúvidas sobre a lisura da competição e a boa-fé de alguns jogadores e árbitros.

O torneio contou com 16 equipes, divididos em quatro grupos de quatro. Os favoritos eram a Alemanha Ocidental (campeã em 1974), a Holanda (vice), a própria Argentina e o Brasil. A primeira fase transcorreu quase sem problemas. Os quatro favoritos se classificaram, mas mostrando um futebol aquém do esperado.

Número de Participantes - 16
Jogos - 38
Gols - 102
Média de gols por jogo - 2,68
Sedes - Buenos Aires, Córdoba, Mar del Plata, Mendoza e Rosario
Média de público por jogo - 42.374 pessoas
Artilheiro - Kempes (ARG) - 6 gols
Campeão - Argentina
Vice-campeão - Holanda
Terceiro colocado - Brasil
A Argentina deixou claro que não era tão forte assim -foi derrotada na primeira fase pela Itália por 1 a 0. Nos outros jogos, vitórias suadas: 2 a 1 na Hungria e na forte França. Os alemães também não estavam bem. Dois empates em 0 a 0 (Polônia e Tunísia), e uma goleada, 6 a 0, na fraca equipe mexicana. Os holandeses avançaram com uma vitória (3 a 0 no Irã), em empate (0 a 0 com e Peru) e uma derrota (2 a 3 para a Escócia).

E o Brasil? Os únicos tricampeões mundiais também não estavam bem. Os dois primeiros jogos terminaram empatados: 1 a 1 com a Suécia e 0 a 0 com a Espanha. Somente no terceiro jogo, com a Áustria, o Brasil desencantou e venceu por 1 a 0.

Na estréia, a seleção já passou por uma situação inusitada (ou suspeita). Empatava com a Suécia em 1 a 1, e o jogo estava acabando. Escanteio para os brasileiros. Nelinho cobra e Zico escora com perfeição para o fundo das redes: ainda 1 a 1. O juiz não validou o gol, alegando ter apitado o fim da partida logo após a cobrança de Nelinho.

O pior aconteceu na fase semifinal. O Brasil caiu no mesmo grupo de Argentina, Peru e Polônia. Apenas uma equipe iria para a final e Brasil e Argentina chegaram à última rodada em condições iguais. Ambos estrearam com vitória (Brasil 3 a 0 Peru, Argentina 2 a 0 Polônia), e empataram entre si em uma partida violentíssima.

A rodada decisiva indicaria o finalista. Estava determinado que o Brasil jogaria antes, e o time fez 3 a 1 nos poloneses. Restava aos anfitriões a obrigação de fazer 4 a 0 nos peruanos.

E foi mais fácil do que parecia: a Argentina massacrou, 6 a 0, com gols de Kempes (duas vezes), Tarantini, Luque (duas vezes) e Houseman. E houve todo o tipo de acusações após o resultado: contra o goleiro Quiroga, peruano nascido na Argentina; contra o próprio elenco peruano, que teria recebido US$ 10.000 para perder (nada ficou provado, que fique bem claro); e até contra o árbitro francês Robert Wurtz. Os atletas peruanos sofreram tentativa de agressão quando retornaram ao seu país.

Ao Brasil, restou a disputa do terceiro lugar -vitória de virada contra a Itália, 2 a 1. Os argentinos empataram a final com a Holanda em 1 a 1, mas marcaram duas vezes na prorrogação e ficaram com o título -e com a suspeita de que este não tenha sido merecido, depois de tudo.






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Kempes comemora um dos seus seis gols

MARIO KEMPES

O destaque da equipe que ganhou o primeiro título mundial para a Argentina foi justamente o único jogador do elenco que não atuava no país: Mario Kempes, atacante que defendia o Valencia, da Espanha.

Kempes jogou na Copa de 1974, com só 19 anos, mas não foi bem. Não marcou nenhuma vez, embora tenha atuado em todos os jogos da Argentina: três derrotas, dois empates e apenas uma vitória. Quatro anos depois, entretanto, veio a forra.

Rápido, talentoso, bem posicionado em campo e dono de um poderoso chute, Kempes terminou o torneio como campeão e artilheiro (seis gols).

Demorou para começar a marcar -não fez nenhum gol nas partidas da primeira fase-, mas foi fundamental nas decisivas. Marcou quatro vezes nos três jogos da fase semifinal, dois contra a Polônia e dois contra o Peru.

A decisão, em que a Argentina enfrentou a Holanda, terminou empatada por 1 a 1, e foi de Kempes o gol dos anfitriões. Aos 15min da prorrogação, o artilheiro deixou sua marca.

No mesmo ano, Kempes foi eleito o melhor jogador da América do Sul. Conhecido como "El Matador", Kempes foi artilheiro em diversos torneios que disputou: Campeonato Argentino (1974), Campeonato Espanhol (1977/1978), Copa do Rei (1979 e 1980) e Recopa (1980).

Kempes se despediu da seleção na Copa de 1982, após a derrota de 3 a 1 para o Brasil. Defendeu a Argentina por nove anos, marcando 20 vezes. Além do Valencia, defendeu Instituto, Rosario Central e River Plate, todos da Argentina; o Hércules, da Espanha; Wiener SK Port e Krems na Áustria; e Fernandez Vial, do Chile.