Análise final

Fazer uma análise da Copa do Mundo que acabamos de assistir, depois de uma dezena de dias de seu final, é sempre algo muito mais simples que a visão cotidiana dos fatos.

Gostaria de terminar minha participação neste projeto com os vários textos que publiquei durante o evento, mas não os tenho em mãos. Teria assim a facilidade de acompanhar minhas reações a cada estímulo apresentado. De qualquer forma creio que em nada do que teremos daqui para baixo haja qualquer alteração de conteúdo.

Esta foi a edição do Mundial de pior nível técnico de tantas que assisti e algumas que participei. Se formos aprofundar a busca pelas causas deste fato passaremos necessariamente pela qualidade do futebol apresentado pela seleção brasileira nos quatro últimos Mundiais. Por que nós somos a referência neste quesito.

Sei que todos somos extremamente exigentes quando o assunto é esse. Infelizmente em questões muito mais profundas e que nos tocam a pele, a boca ou a saúde não temos o mesmo discernimento. Mas no futebol é diferente! Neste, somos graduados. Qualquer um de nós brasileiros. E, apesar da vitória final, não ficamos completamente satisfeitos. É que nosso time andou distante do que realmente gostamos, queremos ou somos.

Queríamos uma equipe que soubesse o que fazer a cada passo dado. Queríamos um conjunto que por si só ultrapassasse qualquer obstáculo que porventura fosse colocado em nosso caminho. Queríamos o nosso futebol de volta. Ah, e queríamos o título também.

É claro que nem todos têm o mesmo espírito. Alguns se contentam em aclamar o resultado por si só. Muitos, aliás, vêem este esporte apenas pelo que nos diz friamente o placar final. E isso em futebol é inaceitável. Até porque de lógica ele não tem nada. Não jogamos muita coisa, mas jogamos muito mais que os adversários que tivemos.

Por um destes desígnios dos deuses do futebol enfrentamos equipes que pouco nos intimidaram, exceção à Bélgica. Ao contrário, nosso único inimigo que de fato poderia nos causar problemas se acovardou quando se viu frente a frente com os bravos atletas nacionais. E assim nosso caminho se fez de forma até tranqüila para um Mundial. Assim como foi para a Alemanha, nosso rival final, pelo menos até ali.

Começamos claudicantes. Uma defesa insegura, um meio campo inexistente e um ataque de craques. No meio do caminho o destino nos fez encontrar uma fórmula de jogo -absurda para nossos padrões- com três zagueiros e dois volantes que, de alguma forma, permitiu um certo equilíbrio à nossa defensiva e um "plus" em nosso meio-campo. Isso deu mais confiança ao time, pois veio exatamente no jogo teoricamente mais difícil. Mas continuamos dependendo exageradamente de nossos atacantes.

Alguns dizem: qualquer seleção se tivesse apenas um deles, estaria satisfeita. Nós não temos o direito de pensar da mesma forma. Temos muito mais que qualquer um e devemos exercer esta supremacia. No entanto, jogando menos do que podemos estancamos a evolução dos demais e isso nos facilita a vida nos Mundiais porque o talento e a criatividade individuais eles nunca terão no mesmo nível. Cada um escolha a sua alternativa.

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P.Caro Sócrates, é evidente que a Argentina estava em um grupo muito difícil e equilibrado, porém não conseguiu demonstrar um bom padrão coletivo, e não apresentou valores individuais acima da média, em praticamente toda sua participação. O baixo nível técnico das eliminatórias sul-americanas (basta verificar os resultados das seleções sul-americanas na Copa) não contribuiu de certa forma para a criação de um mito, com seus devidos pés-de-barro?
Everton Cazzo - por email

R.Devemos avaliar a capacidade de uma equipe num determinado momento. Está claro que Argentina e França chegaram ao Mundial em condições sofríveis, mas isto não tira o mérito de suas atuações nos anos anteriores.

P.Caro Sócrates, o Brasil chegou aonde ninguém esperava. Quais são as virtudes e as mancadas da seleção de Felipão?
Rodrigo Frota - Osasco (SP)

R.Temos um time que se apoia na capacidade de três jogadores. Nos falta uma consistência de jogo, uma capacidade de dominar o adversário a qualquer momento e um espírito coletivo que potencialize a performance de todos os atletas.

P.Caro Doutor, por que os jogadores de futebol cospem tanto?? Fui jogador de basquete durante 12 anos e nunca tive este vício.
Ricardo Petrarca - por email

R.Como você bem disse: é um vício. Até porque a atividade física provoca uma perda de hidratação.