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Só a lição. Brasil deixa Sochi sem grande momento e se contenta com emoção

Bruno Freitas

Do UOL, em Sochi (Rússia)

24/02/2014 06h00

O Brasil comemorou em Sochi sua delegação recorde em Jogos de Inverno, com 13 atletas. Mas, depois de duas semanas de competição, o país deixa a Olimpíada na Rússia com a sensação de que faltou um momento marcante para celebrar na volta para casa. Isso, mesmo levando em conta a realidade brasileira dentro dos esportes de neve e gelo.

Esta realidade é a de uma medalha ainda como meta bem distante. O discurso padrão é de que os brasileiros competem contra os resultados deles mesmo, em comparação com o que fizeram no ciclo olímpico em questão, nos últimos quatro anos. Ou então a disputa é com atletas do mesmo patamar técnico, como representantes da América Latina, por exemplo.

Mas mesmo com este cenário bem ressaltado ficou a sensação de que "poderia ser mais". Afinal, os esportes de inverno hoje são contemplados com investimentos semelhantes aos da "família de verão" do COB [confederações de neve e gelo recebem o piso de R$ 1,6 milhão, anuais, pelo ministério do Esporte via Lei Agnelo/Piva].

Desta forma, na bagagem dos brasileiros de volta da Rússia ficam as lições para os Jogos de 2018, em PyeongChang, na Coreia do Sul.

Da delegação brasileira, Isabel Clark é a atleta que figura no mais alto patamar competitivo internacional. A representante do snowboard cross tinha em Sochi a meta de quem sabe repetir a 9ª colocação de Turim, em 2006. As chances eram reais, como atestava a 6ª colocação na etapa de Andorra da Copa do Mundo, em janeiro passado.

Em Sochi, Isabel passou pela etapa de tomada de tempo em 12º lugar entre 24 competidoras, em desempenho parcial bastante comemorado. No entanto, na bateria quartas de final, quando se encaminhava para ficar entre as três classificadas, a brasileira acabou sendo tragada pelo festival de quedas, ficando fora da semifinal. No fim, uma 14ª posição.

Outra pequena nota positiva veio do slalom, com Maya Harrisson. A brasileira radicada na Suíça conseguiu a melhor colocação do esqui alpino feminino do país na história, com a 39ª colocação.  

Estreante na patinação artística, modalidade nobre dos Jogos de Inverno, o Brasil olhava com bastante carinho para a performance de Isadora Williams. Mas, tomada pelo nervosismo, a menina que completou 18 anos em Sochi fez uma nota abaixo de seus padrões e ficou em último lugar na disputa individual (30ª posição). A própria atleta e seu técnico, o russo Andrey Krukov, admitiram a frustração com o desempenho. No entanto, a adolescente que vive nos EUA é ainda muito jovem e tem um bom chão pela frente no esporte. 

Um momento de emoção do Brasil em Sochi aconteceu com Josi Santos, no esqui aerials. A participação da ex-ginasta foi tratada pelo noticiário como exemplo de superação, em razão da grave lesão cervical que a colega de equipe Laís Souza sofreu dias antes da Olimpíada.

Para quem começou no esporte há apenas sete meses, de fato Josi conseguiu sua façanha particular. Mas na comparação com o nível técnico da prova, ficou uma sensação de profundo  desequilíbrio. Para os olhos estrangeiros, um desnível quase incompreensível. Enquanto as adversárias usavam as rampas maiores para acrobacias complexas, a brasileira deu cambalhotas simples a partir da rampinha menor [ela foi a única a saltar dali]. A jovem motivou alguns risos do público, mas cativou a imprensa internacional com seu choro no fim.

O esqui aerials é tratado pela Confederação Brasileira de Desportos de Neve como uma aposta valiosa para o futuro. Por dois motivos: é uma modalidade relativamente nova, sem superpotências, e pode ser treinada fora da neve, em condições de verão. A entidade inclusive já montou um centro de prática na cidade de São Roque, em São Paulo, com expectativa de aperfeiçoamento técnicos das atletas. No começo do projeto, o experiente técnico canadense Ryan Snow está no comando.

Voltando para Sochi, a veterana Jaqueline Mourão comemorou sua quinta Olimpíada, contando as participações em Jogos de verão no mountain bike. A brasileira participou de três provas de biatlo e cross country, com 77ª, 65ª e 76ª colocações.

No bobsled, a dupla brasileira sofreu um acidente sem maiores consequências nas sessões de treinos. Em competição, Fabiana dos Santos e Sally Mayara acabaram na última colocação entre 19 trenós e saíram de cena cobrando mais respeito dos críticos.

Também participaram dos Jogos de Inverno os brasileiros Jhonatan Longhi (esqui alpino) e Leandro Ribella (cross country), além da equipe masculina de bobsled.