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Saque e Voleio

Que não julguem o 19º slam de Roger Federer pela final contra Cilic

Alexandre Cossenza

16/07/2017 12h26

Marin Cilic era o azarão. Quase ninguém esperava que o dia terminasse com o croata levantando o troféu. Só que a final, do jeito que foi, com bolhas no pé impedindo que Cilic resistisse e ameaçasse fazer algo interessante, não era o cenário ideal para ninguém. Muito menos para Roger Federer, o senhor de Wimbledon, o rei da grama.

No fim, o 6/3, 6/1 e 6/4 não foi apenas um reflexo da superioridade do suíço, mas também consequência das condições físicas do croata. No mundo-maravilhoso-do-tênis ou até mesmo no mundo-dos-sonhos-de-Federer não seria assim. O suíço daria um show de talento, fazendo aces em break points, soltando drop shots improváveis, disparando direitas indefensáveis. Nada disso, no entanto, se fez necessário.

Que ninguém julgue o 19º título de slam de Roger Federer pela final que poderia ter sido, mas não foi gloriosa. Que as duas semanas perfeitas do agora octocampeão de Wimbledon não sejam desvalorizadas pelo choro de Cilic conversando com médicos ou pelo atendimento que mostrou bolhas em um pé avariado pela sequência de jogos.

Federer foi campeão porque sobrou em quadra contra quem quer que aparecesse em sua frente. Dominou tanto o saque-e-voleio de Mischa Zverev quanto o jogo de fundo de Grigor Dimitrov. Devolveu como nunca as bombas de Milos Raonic e foi impecável nos momentos mais tensos dos dois tie-breaks contra Tomas Berdych.

Paciência se Cilic não esteve em condições de fazer mais do que fez. O croata, que nunca abandonou uma partida na vida, foi bastante digno de ficar em quadra até o fim tentando alguma coisa. Qualquer coisa. Fosse outro rival, talvez a partida nem chegasse ao terceiro set. Não é qualquer um que opta por ficar em quadra lesionado contra alguém implacável como Federer.

E paciência também se Nadal sucumbiu diante da brilhante atuação de Gilles Muller ou se Djokovic e Murray ficaram pelo caminho também com problemas físicos. Roger Federer, 35 anos, esteve inteiro o tempo todo. Foi espetacular quando precisou. Jogou como ninguém. Todos méritos do mundo ao dono de 19 slams.

No ranking

Em termos de pontuação, o ranking muda pouco depois de Wimbledon, mas a vantagem de Murray cai absurdamente, já que o escocês perdeu 1.640 pontos, enquanto Nadal somou 180. Agora o escocês soma 7.750), contra 7.465 do espanhol. O resto do top 10 fica assim: Djokovic (6.325), Federer (6.545), Wawrinka (6.140), Cilic (5.875), Thiem (4.030), Nishikori (3.740), Raonic (3.310) e Dimitrov (3.160).

A Corrida, o ranking que conta apenas os pontos conquistados em 2017, fica animadíssima, com Federer e Nadal brigando pela liderança. O espanhol segue na ponta, com 7.095 pontos, e o suíço vem atrás, não muito longe, com 6.545. Ainda faltam quatro Masters 1.000, o US Open e o ATP Finals, então são mais de 7.000 pontos na mesa. O segundo semestre promete. E se você ficou curioso, o top 5 da Corrida ainda tem Thiem (3.345), Wawrinka (3.150) e Cilic (2.905). Djokovic é o sétimo, com 2.585, e Murray é o oitavo, com 2.290.

Coisas que eu acho que acho:

– Por causa de um compromisso pessoal, não vi a final de duplas. Logo, não escrevi um texto específico sobre ela. De qualquer modo, haveria pouco a acrescentar ao que já escrevi neste post sobre Marcelo Melo e Lukasz Kubot após a semi de duplas. O título de Wimbledon foi "apenas" a coroação de um planejamento bem feito e executado maravilhosamente sob pressão, com quatro vitórias em cinco sets – e três desses jogos indo além do 6/6.

– Foi a primeira vez na Era Aberta (a partir de 1968) que uma dupla venceu dois torneios de grama além de Wimbledon em sequência. Melo e Kubot já havia triunfado em 's-Hertogenbosch e Halle. Ainda que o calendário tenha mudado bastante ao longo dos anos e hoje seja um pouco mais fácil jogar dos torneios preparatórios antes de Wimbledon, o fato de ninguém ter conseguido isso antes dá a noção da dificuldade.

– Sobre a questão de quanto a conquista de Melo faz o tênis se destacar dentro do Brasil, meu amigo Fábio Balassiano foi preciso neste texto. Recomendo muito.

– Depois de ler no Twitter a repercussão do minuto que o Jornal Nacional dedicou ao título de Melo e Kubot, escrevi esta thread no Twitter. Também gostaria que lessem. Não faria sentido reproduzir palavra por palavra por extenso aqui.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.