Perdidos em Irã x Nigéria, brasileiros viram casaca e vaiam jogo ruim

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em Curitiba

O primeiro empate e o primeiro 0 a 0. Também o primeiro jogo da Copa do Mundo na Arena da Baixada em Curitiba. Irã e Nigéria definitivamente fizeram o pior jogo do torneio até aqui na tarde desta segunda-feira. O torcedor brasileiro, ampla maioria nas arquibancadas, que ficaram muito mais amarelas do que brancas ou verdes, teve reação distinta ao longo da partida. Se a maior parte começou o jogo apoiando o Irã, a situação logo se inverteu. E, no final, o apoio se transformou em vaias pelo espetáculo que não aconteceu.

Entre iranianos e nigerianos, os primeiros estavam em maioria. E faziam muito mais barulho, antes e durante o jogo. Tanta animação contagiou o espectador brasileiro, que desde horas antes da partida adotou o Irã como time para torcer na Arena da Baixada. A festa branca parecia mais promissora e interessante.

Mas o apoio não durou nem 20 minutos. A partir das primeiras chegadas da Nigéria, que dominou o primeiro tempo de jogo, os brasileiros foram trocando de lado. Os apoios aos gritos de "Irã, Irã" se inverteram. Mas o gol, que parecia certo, não saiu.

As primeiras vaias aconteceram no intervalo da partida. O jogo ficou muito ruim a partir do momento que a Nigéria perdeu chances claras de abrir o placar. E o ambiente ainda foi afetado por erros amadores dos dois lados. Atletas desarmados facilmente, passes simples executados da pior forma imaginável e finalizações sem qualquer precisão. Não fosse o padrão Fifa, tais lances poderiam ser facilmente comparados aos que acontecem no Campeonato Paranaense. Mas quem estava nas arquibancadas pagou por um ingresso de Copa do Mundo.

As vaias tomaram conta a partir da metade do segundo tempo. O jogo ficou muito lento e jogadores de Irã e Nigéria tomaram decisões que irritaram muito a torcida. Faltas que poderiam ser perigosas cobradas com passes para o lado. Inversões de jogo inaceitáveis, passes para trás, bolas lançadas diretamente do zagueiro para o centroavante. Péssimo nível técnico.

A torcida brasileira que apoiava a Nigéria, então, se zangou. Decidiu não apoiar ninguém, porque na verdade torcia pelo jogo. Torcia pelo gol, para que pudesse festejar de alguma forma. Não aconteceu. Nos minutos finais houve até gritos a favor do Atlético-PR, dono do estádio, tamanho o desinteresse.

A disputa pelo Grupo F deixou claro que as duas equipes tem pouquíssimas hipóteses de superar a Bósnia para se classificar na segunda posição. Isso porque a Argentina provavelmente passará às oitavas como líder. 

Técnico do Irã pede respeito: "não jogamos em ligas da Europa"

Após a partida, o português Carlos Queiroz, treinador do Irã, comentou sobre as vaias e pediu que os torcedores brasileiros entendam as condições técnicas da equipe asiática.

"É normal. Se o estádio fosse só iraniano, teríamos aplausos. Já jogamos em nosso estádio com 110 mil pessoas e nunca ouvimos vaias. Alguns preferem apoiar a Nigéria, outros talvez não entendem como a equipe teve que trabalhar para chegar nesse nível", analisou o treinador.

"Mas prefiro as vaias de algum público e ir para casa com um ponto do que o aplauso. Não viemos aqui para sermos perdedores simpáticos. Peço desculpas, mas esse papel do perdedor simpático e alegre a gente deixa pra outros. Viemos para competir, levar orgulho ao Irã. Se tivermos que lutar 90 minutos para não levar gol, é o que vamos fazer. Daqui a oito anos, quando o Irã tiver jogadores no Real Madrid, Barcelona, Liverpool ou Corinthians, talvez tenhamos outro modo de jogar", declarou.

Segundo o treinador, alguns jogadores iranianos estavam nervosos no início do jogo. "É um novo ambiente para eles, é difícil para controlar a bola, passar. Eles perderam o controle", explicou.

"O importante para nós é alcançar esse objetivo, levando em consideração que essas pessoas, os torcedores, precisam saber o que é o futebol do Irã e as condições pelas quais os jogadores passaram para chegar aqui. Precisam analisar não baseados em jogadores do Chelsea, Real Madrid, Barcelona, Corinthians. E sim em jogadores que jogam em nossa liga nacional."

"Quero que vocês façam o julgamento do nosso desempenho baseado na grande conquista desse time. Qualificamos em primeiro no grupo, com a Coreia do Sul atrás de nós. Por isso meus jogadores merecem simpatia e respeito pelas coisas que têm feito. É por isso que estou muito feliz, e quero que os fãs de futebol entendam o nosso trabalho", finalizou.

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