Um país com a população que se equipara à da cidade de Ponta Grossa (PR) estará na Copa deste ano. A pequena Islândia, uma nação minúscula, sem exército ou fronteiras nacionais, vai ao Mundial representando apenas 335 mil habitantes.
Carismáticos, os islandeses saíram da rabeira do ranking da Fifa para o 18º lugar na lista de seleções mais fortes do mundo ao revolucionar (em pouco mais de uma década) sua história no futebol. Tudo graças a um projeto nacional ousado, que desafiou o frio severo do país com tecnologia e capacitou uma legião de treinadores e jovens jogadores.
Em junho, os islandeses vão à Rússia como a menor nação a jogar uma Copa, tirando a marca de Trinidad e Tobago (1,3 milhão), de 2006. O objetivo é reeditar o sucesso da Euro 2016. Nem mesmo a estreia contra a Argentina de Messi (e depois Nigéria e Croácia) abala a confiança em um novo milagre. Adiante, às oitavas? A história a seguir indica que os homens de azul não duvidam de mais nada.
Reprodução A seleção da Islândia era um conhecido "saco de pancadas" das eliminatórias europeias até pouco tempo atrás. Na virada de século, a cúpula do futebol local decidiu que precisava agir. De início, a meta era não mais se curvar diante do pior inimigo do esporte no país: o frio.
Em 2000, inspirada por um projeto na Noruega, a Islândia construiu o primeiro de seus campos fechados em tamanho oficial, uma espécie de galpão, com temperatura controlada. A partir daí o futebol local deixou de ser uma distração de verão para de fato existir como um esporte para o ano inteiro. Hoje são sete dessas construções indoor espalhadas pelo país.
O programa saiu do papel graças à ajuda de um plano de desenvolvimento da Fifa com nações atrasadas no futebol. Entre 2004 e 2013, a entidade injetou 2 milhões de euros nos projetos islandeses. Além dos galpões fechados, o país também viabilizou mais 150 campos abertos em toda a ilha.
O próximo desafio deve ser construir uma nova arena para os jogos da seleção, já que o antigo estádio nacional Laugardalsvollur tem capacidade para apenas 9.800 torcedores.
campos oficiais no país (fechados e abertos)
Imagem: Reprodução campos indoor, sendo sete em dimensões oficiais
Imagem: Reprodução campo oficial de futebol para cada 1.800 habitantes
Imagem: Reprodução
jogadores registrados na federação islandesa
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clubes registrados na federação do país
Imagem: Reprodução clubes divididos pelas divisões do futebol profissional local
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colocação no ranking da Fifa em abril de 2012
Imagem: Reprodução lugar no ranking da Fifa na última atualização da lista
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Reprodução A virada de qualidade do futebol islandês também se deu através da decisão estratégica de capacitar treinadores, antes mesmo de trabalhar os jovens locais. Segundo a federação nacional, hoje existem 926 técnicos no país com certificados de atuação da Uefa (licenças A, B e pro).
A conta bruta indica que existe um técnico de futebol para cada 360 cidadãos da Islândia – é o maior número de treinadores per capita do planeta.
Como base de comparação, a Inglaterra, terra da badalada Premier League, tem um técnico de futebol certificado para cada 11 mil habitantes.
O dinheiro que ganhamos na Euro (2016) tem sido investido em técnicos de categorias de base em tempo integral, já que antes eles trabalhavam para a gente só em parte do dia"
Reprodução Imagine que, para comandar a seleção, Tite precisasse ter outro emprego. A conjectura parece absurda no Brasil, mas se encaixa na realidade da Islândia, onde o comandante da seleção que vai à Copa é dentista.
Heimir Hallgrímsson foi assistente do sueco Lars Lagerbäck na seleção por dois anos e depois dividiu o comando com o estrangeiro. Após a Euro de 2016, no entanto, passou a cuidar sozinho do time. Mesmo assim, não largou o consultório na ilha de Heimaey. O técnico precisou apenas diminuir o ritmo tratando dos pacientes.
Ser dentista é ótimo, porque pode ver se um paciente está assustado, especialmente se for uma criança. Então você tem que lidar com eles de forma diferenciada. Com os jogadores é a mesma coisa
AFP PHOTO / PHILIPPE DESMAZES Os fanáticos torcedores islandeses foram uma atração à parte na Euro de 2016. No total, 26.985 cidadãos do país requisitaram ingressos dos jogos formalmente à Uefa. Esse número indica que pelo menos 8% da população da Islândia esteve na França para torcer.
Esta é uma proporção totalmente absurda, em comparação com qualquer país que disputará a Copa deste ano. Seria como se a seleção de Neymar e companhia arrastasse 16 milhões de brasileiros até a Rússia em junho.
Reprodução Hoje ele está presente em estádios de futebol ao redor do mundo e até em jogos de futebol americano da NFL. A comemoração em estilo viking atraiu a simpatia internacional à seleção da Islândia a partir de 2016. Desde então, as palmas sobre a cabeça acompanhadas dos urros viraram mania.
Muita gente atribui a comemoração a um antigo ritual pré-batalha do povo viking. Mas, segundo o jornal "Morgunbladid", a tradição é menos glamorosa – ela teria nascido quando o time islandês do Stjarnan viajou à Escócia para uma partida da Liga Europa, em 2014. De acordo com esta versão, a comemoração foi copiada da torcida do escocês Motherwell.
Tentamos fazer o grito viking em jogos aqui no país, umas quatro ou cinco vezes, até dar certo. De repente encaixou. Hoje, quando nosso capitão Aron Gunnarsson aparece na frente da arquibancada, todos ficam em silêncio
REUTERS/Kai Pfaffenbach Livepic Cristiano Ronaldo não fez quase nada na estreia de Portugal e Islândia na Euro de 2016. Os islandeses conseguiram o empate por 1 a 1 diante dos favoritos, que seriam campeões dias depois. De quebra, se classificaram às oitavas na frente dos adversários lusos
REUTERS/Yves Herman Livepic Mas o grande momento da Islândia no torneio europeu aconteceu nas oitavas de final. Com gols de Sigurdsson e Sigthórsson, os azarões derrotaram a favorita Inglaterra por 2 a 1, de virada. Adiante, os islandeses acabariam eliminados pela França nas quartas
Reprodução Cafu sorteou a bolinha e mandou a Islândia para o grupo da Argentina. O confronto que abre as disputas no Grupo D acontece em 16 de junho, em Moscou. Definitivamente uma estreia com estilo em Copas do Mundo para os vikings.
Na sequência, a Islândia encara Nigéria e Croácia. Para esta última partida, vale o lembrete: os croatas ficaram atrás dos islandeses na chave das eliminatórias europeias e só se classificaram para a Copa através da repescagem.
