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Bala na Cesta

Analisando a chegada de Cesar Guidetti para o cargo de técnico da seleção brasileira masculina

Fábio Balassiano

28/07/2017 06h20

O Estadão divulgou em primeiríssima mão na quarta-feira à noite a notícia que a CBB confirmou na tarde de quinta-feira. César Guidetti é o novo técnico da seleção brasileira masculina adulta. O treinador do Pinheiros chega acompanhado dos assistentes Bruno Savignani (Brasília) e Felipe Santana (divisões de base do Palmeiras). A novidade precisa ser analisada de maneira profunda, com calma e por todos os aspectos. Vamos lá:

1) Em primeiro lugar, está óbvio pra todo mundo que a Confederação encontra-se em uma situação limite no aspecto financeiro. O "legado" deixado por Carlos Nunes é tenebroso, e Guy Peixoto não conseguiu ainda mudar a entidade máxima de patamar, o que é natural. Não dava pra esperar isso em 3/4 meses mesmo.

2) Entendo claramente a contratação de César Guidetti. É um nome novo no mercado, um técnico antenado, estudioso, em busca de crescimento. Seguindo a linha de não aproveitar NADA da gestão Magnano (nem técnico, nem assistentes, nem médicos etc.), Guy e sua diretoria estão sendo coerentes. É a maneira dessa gestão pensar e isso precisa ser respeitado.

3) César, Bruno e Felipe, os escolhidos para começar este novo ciclo, não têm absolutamente nada a ver com a "grita" da comunidade do basquete a respeito da escolha da nova comissão técnica. São profissionais jovens, lutando pelo espaço deles, receberam um convite e colocaram a cara pra bater. Vão sofrer muita pressão, precisam estar preparados para isso e espero que tenham total respaldo da Confederação Brasileira. Muito provavelmente veremos na Copa América (agora denominada America's Cup) um elenco bem jovem, salpicado com 2/3 atletas mais experientes. A competição não garante vaga para nenhum torneio de 2018 e vale, sim, dar rodagem pra garotada que será importante neste novo ciclo.

4) Ainda sobre César. É um técnico jovem, mas com bastante rodagem. Passagens pelo basquete feminino, seleções de base, assistente do Pinheiros e técnico principal do clube de São Paulo há duas temporadas. Nunca ouvi ninguém falando algo ruim sobre ele. Figura calma, educada, tranquilona mesmo, é destes técnicos bem estudiosos, pouco empíricos, muito racionais e tentando fazer tudo com ciência (estudo!). Talvez tenha acelerado um pouco para realizar o sonho de qualquer profissional, mas não é todo dia que uma seleção bate a sua porta com um convite assim.

5) Vale dizer que César NÃO foi o primeiro técnico procurado pela Confederação Brasileira. Até por uma questão de respeito a quem recusou e ao que aceitou (Guidetti), o nome do profissional não será divulgado. O que posso dizer apenas é que o texto aqui publicado na segunda-feira com os nomes que eu tinha apurado como prováveis treinadores estava muito certinho…

6) Creio que faltou um pouco de habilidade por parte da CBB e de sua assessoria ao colocar a palavra "interino" e também, logo depois, "pontual" ao falar de um profissional sério como César Guidetti. Por mais que seja isso mesmo (um treinador por um período específico), não creio que seja a melhor maneira de divulgar as coisas. As duas palavras poderiam ser suprimidas, informando à sociedade que Guidetti será o treinador até o Sul-Americano de 2018. Só isso e estaria de ótimo tamanho a parte informacional. Do jeito que veio, expôs o treinador e abriu um caminho imenso para especulações por no mínimo um ano.

7) Bem, a partir de agora virão as minhas opiniões. Respeito demais a decisão da CBB, de Guy Peixoto e da sua diretoria, mas eu iria em uma direção bem diferente. Entendo totalmente a questão financeira, a de renovação 100% da comissão técnica e o momento da modalidade (ver TUDO novo), mas não concordo, não.

8) Acho bem complicado que esta nova gestão não tenha conversado com o melhor técnico do país há muito tempo. Ele tem nome, sobrenome e dirige o Flamengo há tempos. José Neto não ter sido chamado minimamente para uma conversa é algo que não compreendo. Já trabalhou com jovens (Mundial Sub-19 de 2007, quarto lugar), foi crescendo gradativamente na sua carreira, está na seleção há mais de uma década e tem o respeito dos jogadores (mais experientes e os mais novos). Ele estava se preparando para assumir o cargo há muito tempo e não lhe foi dado nem uma entrevista de emprego para que ele expusesse as suas ideias.

9) E aqui vale uma explicação maior. Sempre fui e sempre serei o maior crítico da gestão Carlos Nunes e do técnico Rubén Magnano. Me orgulho muito disso e jamais mudaria uma linha do que escrevi. De todo modo, jogar fora sete/oito anos de trabalho e achar que nada daquilo ali prestou é, ao meu ver, um equívoco. É óbvio que houve erros, os resultados internacionais poderiam / deveriam ter sido melhores, mas o crescimento sobretudo dos assistentes de Rubén Magnano (Neto, Demétrius e Gustavo de Conti) é notável, bem notável.

10) Ao contrário da seleção feminina, que também colocou um nome jovem e diferente do que todos cogitavam, no masculino havia opções na mesa e que poderiam ser levadas em conta pela Confederação Brasileira. No cenário das meninas, qualquer nome novo a gente compreende porque o universo para a escolha é diminuto. No basquete dos rapazes não é o caso.

11) Sendo super sincero: César Guidetti merece ser respeitado, mas não é a melhor opção disponível no mercado brasileiro em nenhum campo de argumentação possível. O técnico que melhor trabalha com jovens no país chama-se Gustavo de Conti. O que está há mais tempo ganhando, José Neto. O mais experiente e aliando títulos a bom conhecimento, Guerrinha. O que venceu o último NBB, Demétrius. Nenhum deles foi chamado para conversar sobre o cargo máximo da seleção brasileira ou para integrar a comissão técnica. Não concordo com isso.

Por fim, aqui vai um ACHISMO meu (até pela utilização das palavras "interino" e "pontual" no release da CBB): César será o comandante brasileiro até que a Confederação encontre verbas e um técnico (estrangeiro) de alto nível. Aqui não há informação, mas sim um sentimento meu após ter conversado com diversas figuras do basquete brasileiro. Guidetti dirige o time na Copa América, onde os jovens serão testados, e para as eliminatórias da Copa do Mundo (o torneio acontece em 2019) teremos um treinador de ponta liderando a equipe nacional.

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