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Bala na Cesta

Multiplataforma, entretenimento, visão de futuro - presidente da Liga Nacional, Rossi fala ao blog

Fábio Balassiano

03/10/2018 05h38

Luiz Pires/LNB

Presidente da Liga Nacional de Basquete, João Fernando Rossi estava bem feliz ao final da Festa de Lançamento do NBB11 na segunda-feira em São Paulo. Fundador e um dos membros mais ativos da LNB, Rossi conversou com o blog sobre o novo momento do NBB e também sobre a forma como o conteúdo do seu campeonato está sendo distribuído a partir de agora, com seis canais diferentes, jogos de segunda a sábado e quase duas centenas de partidas sendo exibidas na fase de classificação. O papo é revelador e mais uma vez sensacional. Confiram.

BALA NA CESTA: Rossi, estamos aqui na festa de lançamento do NBB 11 (temporada 2018/2019). Explica para quem está lendo o que aconteceu e o que vocês estão tentando a partir de agora?
JOÃO FERNANDO ROSSI: O que aconteceu hoje (nesta segunda-feira) é um marco na história do esporte nacional. Não acredito que seja só para o basquete. O basquete vai se aproveitar muito desse modelo. Mas basicamente estamos mudando a distribuição do conteúdo esportivo no Brasil. Nós estaremos com 75% dos jogos sendo transmitidos ao vivo, em TV fechada, TV aberta, Redes Sociais, em seis veículos diferentes – Band, a BandSports, ESPN, FoxSports, Twitter e Facebook. Com isso, a mudança de consumo do conteúdo esportivo tende a mudar.

BNC: Conta um pouquinho como foi essa construção. Desde o momento em que acabou o NBB passado e vocês acabaram conversando com a Globo e tudo. De onde partiu essa ideia de multiplataforma, multicanal, de atingir os consumidores de maneira diferente?
ROSSI: Olha, Bala, a concepção da liga criada há dez anos, ela nasceu já com o conceito de não exclusividade de jogos e em função da época não conseguimos executar essa multiplataforma de conteúdo e acabamos canalizando com a Rede Globo, que foi muito importante nesse processo de consolidação do basquetebol brasileiro. Agora é a realização, dez anos depois, onde todos saem ganhando. A renovação com a Globo foi o processo inicial para isso e depois a gente caminhou para essa multiplataforma.

BNC: Quais são as vantagens da multiplataforma na sua opinião? Onde a Liga enxerga oportunidades, vantagens, do que está acontecendo agora?
ROSSI: A multiplataforma vai facilitar o consumo do fã de basquete, fã de esporte, através dessas multiplataformas. Vai ter basquete todo dia. Então a pessoa vai assistir basquete dentro do metrô, do Uber, onde quiser, e poderá assistir também através da televisão fechada e aberta, basicamente é isso.

BNC: Deixa eu explorar essa questão do multiconteúdo (da plataforma). Até ano passado vocês tinham sessenta e poucos jogos na fase de classificação e agora vocês estão chegando a 175 a 180. Como é que a liga está se preparando para atingir mais gente? Obviamente o produto vai ser mais consumido. Semana inteira tem basquete, vocês vão atingir mais gente.
ROSSI: Então, Bala, não sei se você percebeu. Mas eu tive esse sentimento hoje, junto com as plataformas, do comprometimento das empresas de não só transmitir o basquete e sim de abraçar a modalidade para o desenvolvimento dela. Para mim, isso é fundamental. Fundamental é que tenha jogo, pós-jogo, pré-jogo e tenha conteúdo diário nas suas programações, nos noticiários de esporte. Então nós podermos estar falando das três televisões, mais TV aberta, mais Face, mais Twitter de basquete todo dia, fora o jogo, é muito importante. Lógico, que essa programação interna vai demandar muito trabalho, muito desafio. Acho que a Liga chegou no seu limite operacional em termos de conteúdo e braço. Nós estamos preparados hoje com parceiros para que possamos melhor distribuir isso e chegar no nosso público, que no fundo que é esse conteúdo. Nós vendemos serviço e entretenimento, nós não vendemos basquete.

BNC: Em relação ao modelo, a Liga antes vendia o campeonato e a Globo exibia. Agora a Liga produz o jogo e bota players, canais, para distribuir o conteúdo. Quanto isso é o diferencial, já que vocês são os pioneiros aqui no Brasil. Fala um pouquinho sobre essa questão dessa mudança de patamar que vocês atingem com isso e porque vocês optaram por esse modelo de negócio?
ROSSI: Hoje a Liga Nacional faz 100% da transmissão. Basicamente criamos um gráfico e esse gráfico de estatística vai ser levado em todas as transmissões. Desde o Twitter até a transmissão aberta e quem tiver consumindo o conteúdo vai estar acostumado com o gráfico do NBB na tela. Consequentemente a partir do momento em que nós temos o conteúdo que a gente faz fica mais fácil nós alocarmos e distribuirmos o brand content (conteúdo das marcas), conteúdo de programetes diários de TV, Twitter como Top 10, Dunk, Assist, essas coisas. A gente vai poder dar muito conteúdo para o público do basquete.

BNC: Agora em termo de negócio. Antes quando vocês tinham a Globo vocês vendiam para a Globo e retornavam com dinheiro. Como é que vocês estão fazendo dinheiro agora com esses parceiros, já que não é o mesmo modelo?
ROSSI: Na realidade é um modelo novo também, inédito. Nós conseguimos trabalhar com revenue-share (divisão de receitas) com todas as emissoras. Consequentemente vamos ter participação na venda dos conteúdos de mídia e isso é importante para fortalecer os clubes, para a gente poder ajudar mais os clubes. Então esse é um modelo inédito.

Luiz Pires/LNB

BNC: Sobre a questão do próximo passo. A Liga está sempre pensando no próximo passo. Qual seria o próximo da Liga a partir de agora? Seria ter um NBB League Pass? Sei que você é aficionado por isso.
ROSSI: Aquilo que eu falei para você agora há pouco. Acho que a Liga Nacional chegou no limite operacional forte. Nosso sonho, e eu posso falar que o nosso projeto já está pronto, é do OTT (over the top). Esse OTT a gente vai procurar grandes players no mercado para que a gente possa desenvolver a parte externa através de parcerias. Porque a gente faz muito bem a parceria e acho que todos os nossos parceiros saem muito satisfeitos. Acho que o próximo passo seria esse, termos a nossa OTT.

BNC: OTT, para quem não sabe, é o transmissão digital distribuída pela uma plataforma…
ROSSI: Grosseiramente para uma pessoa entender é um Netflix do basquete. Onde a pessoa se cadastra, paga-se ou não, mas você acaba tendo um big data (banco de dados) e consequentemente você faz a sua distribuição via essa plataforma. É um sistema complexo de billing (pagamento), sistema complexo de confecção desses jogos. Então nós estamos à procura de um parceiro. Essa é a próxima meta.

BNC: A Liga hoje é uma entidade consolidada, é uma instituição consolidada de credibilidade, patrocínio. A gente viu o que aconteceu aqui. Como é que vocês vão tentar traduzir essas questões de modernidade, de governança, transparência para os clubes que estão um pouquinho atrás em relação a isso? Como é que vocês estão pensando em multiplicar esse conhecimento para os clubes?
ROSSI: Então, Bala. A gente atua em diversas áreas. Nós gostaríamos muito de ajudar mais financeiramente, mas é impossível isso no momento atual. Porém, a gente procura fazer boas práticas. No mês passado esteve aqui o vice-presidente do Orlando Magic na área comercial mostrando para os clubes, em um evento fechado, como uma entidade como o Orlando Magic é a décima franquia em arrecadação financeira da NBA mesmo sem participar dos últimos 5 playoffs. Como ele consegue fazer dinheiro? E ele mostrou, os clubes ficaram bem impressionados. Então através dessas boas práticas a gente acha que mostra para os clubes que eles mesmos podem fazer o dinheiro. Acho que Franca é um bom exemplo disso hoje. Franca aproveita bem toda essa parte de exemplo que vem da Liga e a gente espera sempre que os clubes possam se desenvolver. Fora isso, nós temos outros trabalhos de consultoria externa onde a empresa contratada vai, mapeia toda a parte de processo, de qualidade. Isso já foi feito e estamos na fase de execução. Mas no fundo, acho que os clubes começaram a se identificar cada vez mais com o profissionalismo que a Liga vem impondo. Lembrando que a Liga são os clubes. Então, acho que isso é importante.

BNC: Essa questão que a Liga são os clubes e esse profissionalismo que a Liga impõe. Vocês acham, também, indo além do basquete, que é um espelho que vocês estão dando para o Brasil, de que apesar do momento econômico do país, do momento político do país, é possível avançar? Dá para ver que a Liga está em um outro patamar em relação a gestão esportiva no Brasil?
ROSSI: A gente assume isso. Tanto é que o nosso mote, um deles é a renovação. A maior renovação do esporte brasileiro. A gente assume isso sim. Com muita dificuldade, muita transparência. Nós não falamos, nós executamos. Muitas vezes somos criticados por não falar o que estamos fazendo. Mas a gente tenta fazer, errado ou não, mas nós fazemos. Isso graças a independência. A Liga é independente, transparente e a Liga é feita por clubes. Então fica fácil de nós implantarmos a gestão profissional que a gente quer. Fora isso, é importante dizer que nós adotamos boas práticas por iniciativa nossa, por conceito. Então, nós temos BDO que nos faz hoje um trabalho de auditoria já há três ou quatro anos. Nós temos Ernst & Young que nos faz um trabalho de consultoria. Então, assim, com certeza a Liga adota as boas práticas que particularmente eu não vejo acontecer em outras modalidades ainda. Esperamos que em breve que com esse modelo de distribuição de conteúdo possa facilitar a vida de outras modalidades como voleibol e handebol por exemplo.

BNC: Para fechar, eu prometo. Dez anos atrás a Liga foi lançada, na época do blog inclusive, você imaginava que chegaria nesse ponto que chegou hoje? Você imaginava que chegasse nesse ponto? Nesse patamar que a Liga chegou de credibilidade. O patrocinador nada mais é do que uma chancela de credibilidade, não é o dinheiro, é uma chancela de credibilidade.
ROSSI: Mais do que a chancela de credibilidade, a gente não vende patrocínio. A gente vende para os investidores uma alternativa de de retorno do dinheiro que ele está colocando. Não necessariamente acompanha só uma placa na quadra. Acompanha todo um brand content, conteúdos, Jogo das Estrelas. A gente tem todo um pacote que a gente percebe que em todos esses anos os nossos patrocinadores e investidores saem muito satisfeitos. No final de cada temporada distribuímos para cada patrocinador o retorno de mídia. Eles têm um material muito grande para poder analisar onde o dinheiro dele está sendo investido. E o retorno que a gente tem é muito salutar, sabe. Você sentar com o patrocinador e ele mostrar que está satisfeito depois de uma temporada, que acertou no seu investimento, eu acho bacana. Só lembrando também que sempre falo que em momento de crise o investidor quer saber exatamente onde o dinheiro dele está indo e da forma que ele está gastando. Nesse caso do NBB, eles sabem exatamente onde o dinheiro dele está sendo investido.

BNC: Você esperava que chegasse assim 10 anos depois? Sonhar você sempre sonhou.
ROSSI: Eu acho que a foto da Liga Nacional em uma linha do tempo de 0 a 10 acho que nós somos 4. Acho que nós temos muita coisa para fazer.

BNC: Sério? Quatro? Está maluco?
ROSSI: Quatro. Acho que nós temos muita coisa para fazer. Acho que nós temos que melhorar as arenas, nós temos que melhorar as gestões dos clubes, nós temos que dar condição de experiência agradável dentro da quadra de entretenimento para o nosso público. Nós temos que estar em multiplataforma, que estamos fazendo agora. Nós temos que distribuir o nosso conteúdo de uma forma saudável para o cara que não é do basquete, que não é consumidor do Bala Na Cesta. Nós temos que dar experiência incrível para o cara que não é do Bala. Lógico que depois ele vai consumir o Bala Na Cesta, mas ele tem que gostar da experiência que está tendo e nesse sentido a gente tem esse desafio muito grande. Por isso que eu falo que é quatro. A nossa foto hoje é quatro e nós temos que caminhar. Mas você fala assim, nós estamos um pouco mais avançados que as outras modalidades? Sim, nós estamos. Mas é muito pouco perante o que a gente quer fazer. Sou um otimista e um sonhador.

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