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Bala na Cesta

Cristiano Felício coroa trajetória de luta com contrato de mais de R$ 100 milhões com o Bulls

Fábio Balassiano

01/07/2017 07h00

A noite de ontem foi especial para Cristiano Felício. Camisa 6 do Chicago Bulls, ele recebeu proposta de renovação da equipe logo na primeira hora da abertura do mercado de agentes-livres da NBA (00:01 já deste sábado) e não titubeou. O pivô que completa 25 anos no próximo dia 7 de julho assinou com a franquia de Illinois por 4 anos e US$ 32 milhões (pouco mais de R$ 100 milhões), coroando uma história de superação pessoal incrível.

Felício, natural de Pouso Alegre (MG) e de família bem humilde, surgiu para o basquete no Minas que disputava o NBB em 2011/2011. Chamou a atenção de todos (olha o que escrevi dele em 27/11/2011) com as médias de 8,8 pontos e 5 rebotes naquela temporada. Para alguém que recém tinha completado 19 anos e que já batia de frente com gigantes experientes por aqui, era um começo e tanto.

Felício foi tentar a sorte na Universidade de Portland, mas acabou não acontecendo devido a problemas burocráticos. Voltou ao Brasil, mas ficou como reserva absoluto do Flamengo. Em duas temporadas jogou 12,8 e 14,8 minutos em 2012/2013 e 2013/2014, respectivamente. Não mais do que isso. Foi campeão de tudo com a equipe (NBB, Liga das Américas e Intercontinental), mas não tinha muito espaço. No Draft de 2015 seu nome estava inscrito, mas nenhuma das 30 equipes da NBA se interessou.

Parecia, ali, que sua carreira estava travada, parada, quase que sem rumo, mas Felício conseguiu um contrato para jogar a Liga de Verão pelo Chicago. Ligas de Verão da NBA são para jovens jogadores recém-draftados e aqueles que precisam mostrar seus talentos para as franquias para conseguir contratos. Cristiano foi tentar, foi arriscar, foi mostrar que tinha valor.

Impressionou tão rápido a diretoria do Bulls que no meio do campeonato recebeu uma ligação de seu agente. Para assinar um contrato de dois anos com a franquia. Era julho de 2015, sempre o mês da sorte de Cristiano (mais aqui). "Ficamos impressionados com seu comprometimento e com seu potencial. Estamos animados em trabalhar com ele e traremos o atleta para nossa pré-temporada", disse à época ao site do time o manda-chuva Gar Forman, um dos maiores entusiastas do brasileiro.

Seu contrato, porém, não era garantido, muita gente aqui do Brasil achava que ele seria cortado a qualquer momento e Cristiano teria que mostrar nos treinos e nos jogos as suas qualidades. E elas foram testadas, aprovadas e chanceladas. O técnico Fred Hoiberg, mesmo muito contestado, colocava aos poucos o brasileiro para jogar. E todos gostavam do que viam. Em 2015/2016, 10,4 minutos de média, mas um final animador. Nos 4 últimos jogos da temporada, médias de 12 pontos, 6,5 rebotes e mais de 25 minutos na quadra.

No campeonato seguinte, Felício não começou muito bem, perdeu um pouco de espaço na rotação com a boa performance do veterano Robin Lopez, mas aos poucos recuperou a confiança e desempenhava bom papel mesmo com um Chicago totalmente mal arrumado e recheado de brigas internas. Terminou com 15,8 minutos de média e 4,8 pontos de média.

Seu impacto no jogo não é medido tanto pelos números, mas sim por sua eficiência defensiva assustadora e por como ele consegue concluir as jogadas de corta-luz em direção a cesta (converte mais de 70% de seus arremessos assim). Não era raro vê-lo nos melhores momentos da rodada com enterradas ferozes e com Dwyane Wade, veterano jogador e um de seus maiores incentivadores, sempre a aplaudi-lo.

Ninguém, porém, sabia o que iria acontecer no mercado de agentes-livres desta temporada. Que Cristiano receberia um oferta, todos imaginavam. Mas de quem? De quanto? Pra onde ele iria? Não durou 24h o suspense.

Em renovação e apostando no seu desenvolvimento, o Chicago ofereceu um contrato longo, merecido e justo para Cristiano Felício. O brasileiro de Pouso Alegre agora sabe que todo esforço valeu a pena. Lutou muito, sempre foi tratado com desconfiança, mas nunca parou de treinar e acreditar.

Sua história de superação, de infância humilde e muitas portas fechadas ao longo da carreira tem, neste primeiro dia de julho, um dia para ser lembrado como um dos mais felizes de sua vida. Cristiano Felício merece demais.

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