Topo

Saque e Voleio

As mulheres superpoderosas do US Open

Alexandre Cossenza

06/09/2017 01h44

O relato deste texto não tem nenhum furo, nenhuma bomba. "Apenas" grandes histórias que, embora já contadas, precisam (pelo menos para mim) deste registro no Saque e Voleio – até porque o US Open foi especialmente generoso com mulheres que superaram momentos duríssimos e brilharam em Nova York em 2017. A escritora sênior da WTA Courtney Nguyen fez um resumo recentemente e reproduzo os casos aqui.

A começar pela história mais conhecida de todas. Venus Williams, hoje com 37 anos, foi diagnosticada com Síndrome de Sjögren, uma doença autoimune, em 2011. Batalhou, passou um bom tempo jogando sem condições físicas ideais até que derrotou a síndrome e desde 2015 vem voltando a conquistar bons resultados nos torneios do grand slam. Nesta temporada, foi vice-campeã em Melbourne e Wimbledon. Agora está nas semifinais após uma vitória em uma partida espetacular sobre Petra Kvitova: 6/3, 3/6 e 7/6(2). Para mim, o melhor jogo da chave feminina até agora.

Falando nesse jogão, o que dizer de Petra Kvitova, que foi assaltada em dezembro do ano passado em sua casa e teve a mão esquerda dilacerada (vejam a foto assustadora abaixo) por um bandido? Por uma conjunção mágica de coisas, conseguiu se recuperar e voltar às quadras em maio, no Torneio de Roland Garros. No evento seguinte, em Birmingham, conquistou um título. Agora, em Nova York, derrubou Garbiñe Muguruza em outra partida fantástica (que também pode ser considerada a melhor) antes de tombar diante de Venus.

No outro jogo desta terça-feira, a vencedora foi Sloane Stephens, que teve uma fratura por estresse no pé no ano passado. Nada tão grave quanto Venus e Kvitova, mas o bastante para atrapalhar seu sonho de buscar uma medalha olímpica. Foi ao Rio no sacrifício, perdeu na primeira rodada e ficou longe das quadras por 11 meses. Foi parar no 957º posto do ranking e agora, com três excelentes semanas em sequência, já volta para o top 40. Foi semifinalista em Toronto e Cincinnati e conquistou uma vaga entre as quatro do US Open ao derrotar Anastasija Sevastova por 6/3, 3/6 e 7/6(4). Outro jogão.

Sevastova, hoje com 27 anos, abandonou o tênis em 2013. Queixava-se de dores nas costas e nos braços. Passou um ano e meio longe do circuito, mudou-se da Letônia para a Áustria e foi estudar gestão de turismo e lazer. Sentiu falta do jogo e decidiu voltar em 2015, mesmo zerada e jogando ITFs minúsculos. E voltou mais forte. Foi subindo aos poucos. Entrou no top 50 em 2016 e alcançou o top 20 em 2017. Em Nova York, deu uma lição tática e abateu Maria Sharapova de virada. Por pouco, não avançou para o grupo das últimas quatro.

As quartas de final desta quarta-feira não são menos interessantes. A sessão noturna no Ashe começa com Madison Keys x Kaia Kanepi. A primeira, americana, jogou no sacrifício em 2016 por causa de uma lesão no punho. Fez duas cirurgias e demorou a ter resultados nesta temporada. Em Stanford, engrenou e foi campeã. Depois, foi às oitavas em Cincy e agora já repete sua segunda melhor campanha da vida em um slam. Se triunfar, iguala o melhor resultado – a semi em Melbourne/2015.

Kanepi, por sua vez, é uma veterana de 32 anos que já esteve em cinco quartas de final de slam, mas sofreu com fascite plantar nas últimas duas temporadas. Além disso, contraiu o Vírus Eppstein-Barr, que causa mononucleose infecciosa, em 2016. Jogou pouco e ganhou menos ainda. Um ano atrás, estava em casa lendo livros, levando seu cachorro para passear e considerando aposentadoria. Terminou a temporada fora do top 300 e voltou em 2017, jogando torneios de US$ 25 mil. Precisou passar pelo qualifying do US Open e agora está entre as oito melhores.

Por último, a partida com menos histórias de bravura está longe de ser a menos interessante. Afinal, o número 1 do mundo vai estar em jogo quando a tcheca Karolina Pliskova, atual líder do ranking, enfrentar Coco Vandeweghe, que terá a torcida americana a seu lado. Pliskova, a mais nova integrante do perseguido clã das número-1-sem-slam, precisa vencer mais dois jogos para alcançar a final e manter a posição. Caso perca antes, o posto vai para Garbiñe Muguruza. E quem vai dizer que esse torneio feminino não está espetacular?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.