CBF abusa da falta de transparência e deixa "Pacto pelo Esporte" em xeque
Na noite da última quinta-feira (05), às pressas, a CBF divulgou em seu site o nome do ex-secretário nacional de futebol Gustavo Perrella como novo diretor de desenvolvimento e projetos da entidade. Isso ocorreu, no entanto, apenas três meses após o filho do ex-senador Zezé Perrella (MDB-MG) assumir tal função na entidade e somente depois de a “Folha de S. Paulo” revelar a distribuição do cargo ao político envolvido no escândalo da apreensão de 445 kg de cocaína em seu helicóptero, em 2013.
A omissão do nome do polêmico novo funcionário no organograma é apenas mais um dos atos que revelam o excesso de falta de transparência da confederação.
Em sua defesa, a Confederação informa que cumprir o artigo 18-A da Lei Pelé – que cobra transparência de confederações e entidades esportivas – não é necessário, uma vez que a mesma só se faz obrigatória para aqueles que recebem verba pública.
Internamente, no entanto, é claro para todos que o vazamento do cargo dado a Gustavo Perrella não caiu bem. Oficialmente, o nome não foi divulgado no site porque Gustavo gostaria de se familiarizar com a função antes de ser anunciado oficialmente. Fato é que o mesmo já recebe pelo cargo há três meses, mesmo longe de estar entrosado com a pasta.
A situação coloca em xeque o “Pacto Pelo Esporte” e os contratos de patrocínios firmados entre a confederação e empresas signatárias do movimento, como Gol e Itaú. Novamente baseado no artigo 18-A da Lei Pelé, o pacto obriga que tais empresas só injetem verbas em entidades esportivas em conformidade com os termos de transparência.
Além de omitir o organograma, a CBF ainda opta por não divulgar seu Estatuto e não tem atletas com voz na gestão, como orienta a lei. Ainda longe dos melhores exemplos de governança, a confederação ressalta que não aderiu ao Pacto, mas dependeria do mesmo para receber as verbas de quem participa do acordo. No entanto, o discurso está longe da prática .
Procurado pela reportagem para comentar o fato de financiarem a CBF mesmo longe dos termos de transparência, a Gol adotou discurso ameno.
“A GOL preza por processos éticos e transparentes em todos os projetos nos quais está envolvida. A empresa continuará investindo para que o esporte brasileiro siga evoluindo, através de iniciativas como o Pacto pelo Esporte que não tem caráter punitivo ou fiscalizador, mas sim age como um vetor de mudanças promovidas pelo diálogo e comprometimento das partes no longo prazo. A GOL, desde o início do Projeto de Governança, Riscos e Conformidades (GRC) da CBF, vem acompanhando o processo de governança e segue apoiando as ações que conduzem às melhores práticas”, comentou.
Alinhado à empresa aérea, os responsáveis pelo “Pacto pelo Esporte” adotaram tom semelhante, dizendo que não há intenção de punir ou cobrar quem descumpre o documento assinado em outubro de 2015.
“O Pacto pelo Esporte é uma iniciativa de formato inédito no país e no mundo, reunindo atualmente 27 empresas patrocinadoras do esporte. A iniciativa não tem caráter punitivo ou fiscalizador, a intenção do acordo é ser um vetor para uma mudança estrutural no setor esportivo. As empresas estão engajadas para promover esta mudança e sabem que a transformação acontecerá a partir do diálogo e comprometimento das partes no longo prazo. Em relação a CBF, o diálogo com as empresas que são signatárias e patrocinadoras da entidade vem se estabelecendo em reuniões periódicas, onde as ações para a melhoria da governança e transparência tem sido apresentadas. A equipe do Pacto já esteve em reunião com a CBF e na ocasião foram apresentadas mudanças como a criação da Diretoria de Governança da entidade, além da criação de indicadores de gestão para medir a adequação da entidade aos itens do Pacto pelo Esporte. Ressaltamos que as empresas encontram-se em conformidade com o acordo assinado, cabendo observar que o Pacto traz claramente a regra de respeito aos contratos firmados”, informou o grupo, destacando a brecha em que a CBF se apoia – “contratos assinados anteriormente não serão questionados”, independente da falta de transparência.
Gol e Itaú renovaram seus vínculos antes de outubro de 2017, data limite para adequação das confederações ao prazo.
Com os argumentos de não punir e trabalho a longo prazo, o pacto que defendia uma moralização nas relações “empurra” a discussão e permite que os dias atuais mostrem-se pouco diferentes daqueles que antecederam a assinatura do termo e eram marcados por patrocínios a empresas que insistiam em não abrir seus dados.
Procurado pelo UOL Esporte, o Itaú não respondeu aos questionamentos até o fechamento da reportagem.
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