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Bola de 2018 foi testada ao menos 10 vezes mais que Brazuca e Jabulani

Na Vitrine

25/05/2018 04h00

O ano era 2010 e o mundo se apaixonou por uma bola chamada Jabulani. Imprevisível, ela era o terror dos goleiros e a alegria dos atacantes. Gols improváveis, com efeitos impossíveis, fizeram a festa das torcidas. Ela, foi, porém, um desastre para quem a criou. Para a Adidas, era um problema ter uma bola descrita por jogadores (como o brasileiro Felipe Melo) como bola de supermercado.

Oito anos depois, chega a Telstar 18. E, segundo a empresa, as chances do que aconteceu em 2010 se repetir são mínimas. Testes em um laboratório ultra-moderno (e super-seguro) na sede da empresa, no interior da Alemanha, defendem a tese.

Desde 2008, a empresa passou a usar uma perna mecânica que pode simular milhares de chutes idênticos em um mesmo dia para confirmar se uma bola se movimenta sempre da mesma forma quando aplicada força idêntica. A Jabulani já passou por esse processo, mas como bolas são projetos de quatro anos, foi a Brazuca, a bola usada na Copa do Mundo do Brasil, a primeira completamente criada com essa tecnologia.

Mais do que isso: em 2014, o Adidas Future Lab, o tal "laboratório secreto", trabalha com a perna robótica em conjunto com o sistema Hawk Eye – é o mesmo que cuida, por exemplo, dos lances polêmicos dos torneios de tênis e de uma das tecnologias de linha de gol aprovadas pela Fifa.

O UOL Esporte foi convidado pela Adidas para visitar o local no início do mês. Os cientistas presentes falaram em, pelo menos, testes dez vezes mais frequentes do que em gerações anteriores de bolas de Copa do Mundo. Como o laboratório precisa analisar não apenas o trajeto da bola, mas suas rotações dentro do próprio eixo, é preciso calcular oito parâmetros ao mesmo tempo entre o chute e o gol. Até 2014, essa análise era feita frame a frame, manualmente. Cada sessão precisava de uma semana para ter seus resultados aferidos. Hoje, com o Hawk Eye, é possível fazer o trabalho dez vezes mais rápido.

"É impossível falar em um número de horas que passamos trabalhando com a nova bola. São centenas de envolvidos, equipes internas e externas. O que posso dizer é que é a bola testada com mais cuidado que já fizemos", diz Holger Kraetshemer, diretor de tecnologias futuras da Adidas.

É verdade que a Jabulani também encarou esse processo. Mas outro diferencial da Telstar 18 foram os testes fora do laboratório. Testes em que altura da grama, orvalho, chuva, vento e até a poeira entram em cena. Após um ano de testes controlados, a bola da Copa de 2018 foi testada por dois anos por profissionais patrocinados pela empresa. No total, 600 jogadores de 31 times em 12 países diferentes usaram a Telstar 18 antes de seu lançamento – além do teste final, na Copa do Mundo sub-20 de 2017.

Segundo a empresa, esse cuidado gerou resultados positivos para a bola nos testes para aprovação pela Fifa. A Telstar ficou abaixo de todos os padrões de variação aceitos pela entidade. Incluindo metade do vazamento de ar aceito sob pressão, apenas 1% do índice de encharcamento e 50% a menos de deformação. Nada disso, é claro, garante um voo regular.

A Adidas sabe disso. A Jabulani, por exemplo, foi anunciada como a bola mais redonda da história, pela dificuldade que apresentava em se deformar. Falar sobre a bola de 2010, porém, é complicado na sede da empresa. Durante as apresentações sobre a nova bola na sede de Herzogenaurach, tanto Kraetshemer quanto o vice-presidentes de produtos Dean Lokes, os dois responsáveis para mostrar a Telstar 18 para os jornalistas, admitiram que não podiam falar sobre o que aconteceu há oito anos porque não estavam na empresa (Kraetshemer) ou participaram do projeto (Lokes).

Ambos, porém, estavam à frente da Brazuca. Aceita por unanimidade, ela foi a base da Telstar. "Com a Brazuca, já tínhamos um bom produto. Por isso, quando falamos de material e textura, as duas bolas são quase a mesma. A construção é a maior diferença: a bola continua com seis painéis, mas agora com padrões mais longos e com desenho diferente, que dão mais estabilidade. E uma carcaça completamente remodelada. Na antiga, havia sobreposições de camadas que não mais existem no novo modelo. Novamente, todas essas mudanças geram estabilidade".

Críticas

Para quem chegou até aqui, é bom deixar claro: nem todos esses testes tornam a bola imune às críticas. Após o amistoso entre Espanha e Alemanha, em março, o AS, da Espanha, publicou que tanto De Gea quanto Ter Stegen falaram que o voo da nova bola era imprevisível. "Poderia ser melhor, porque se mexe muito", disse o arqueiro do Barcelona. "Ela se mexe de uma maneira diferente", analisou o goleiro do Manchester. Pepe Reina, do Napoli, reserva de De Gea, também opinou. "Na Copa, aposto que vamos ver 35 gols de fora da área, porque não há quem entenda (a movimentação)".

Nesta semana, o tetracampeão Taffarel, treinador de goleiros da seleção brasileira que vai à Rússia, também falou da Telstar 18. Na avaliação da comissão técnica da seleção, a bola da Copa apresenta variações maiores de trajetória do que a usada nas Eliminatórias.

Por Bruno Doro
Do UOL, em Herzogenaurach (Alemanha)

*Repórter viajou a convite da Adidas

Créditos das fotos
Jabulani: AFP
Telstar 18: Joosep Martinson – FIFA/FIFA via Getty Images
Brazuca: Fifa
Espanha x Alemanha: Odd Andersen/AFP

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