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Olhar Olímpico

Murilo diz ter consciência tranquila e nega que tenha se dopado

Demétrio Vecchioli

16/05/2017 11h57

Murilo concedeu entrevista coletiva nesta terça-feira (Foto: Demétrio Vecchioli)

Menos de uma semana depois da divulgação de que Murilo foi flagrado em exame antidoping pelo uso do diurético furosemida, o campeão mundial de vôlei convocou a imprensa nesta terça-feira para se explicar. Ao lado do advogado Marcelo Franklin, que já defendeu Cesar Cielo, Maria Elisa e Ana Cláudia Lemos em casos parecidos, Murilo negou ter consumido qualquer substância dopante.

"Eu sinceramente estou com a consciência tranquila. Minha preocupação é como que isso foi dar positivo, como que isso foi aparecer. Pedi para falar com vocês (jornalistas), porque sempre presei pela transparência. Seria fácil enviar uma nota oficial, esperar a amostra B, mas achei importante olhar no olho de vocês", justificou Murilo, que ainda aguarda a abertura da contraprova, o que deve acontecer daqui a uma semana e pode vir a inocentá-lo.

Antes da fala de Murilo, Franklin, que é conhecido por defender atletas da acusação de doping e sempre blindá-los da imprensa, ressaltou que o jogador do Sesi havia solicitado falar com os jornalistas, algo inédito em casos assim. Mas ele impediu que Murilo respondesse algumas perguntas, sob a alegação de que não poderia adiantar a um eventual tribunal a estratégia da defesa.

Quando o blog perguntou se os suplementos consumidos por Murilo já foram enviados para análise, o jogador olhou para Franklin, esperando aprovação de sua resposta, e disse que "ainda não". Foi alegando contaminação de suplementos que o advogado evitou penas duras a Cesar Cielo e mais três nadadores e, mais recentemente, a jogadora de vôlei de praia Maria Elisa e à corredora Ana Cláudia Lemos.

O advogado também não permitiu que Murilo respondesse se acreditava que o teste surpresa e o fato de o resultado analítico adverso da amostra A ter "vazado" podiam ter relação com o fato de ele ser bastante crítico à gestão da Federação Internacional de Vôlei (FIVB).

Apesar de Murilo e Franklin não terem se alongado no assunto, chama atenção o fato de a FIVB nunca ter realizado exame antidoping surpresa enquanto ele estava na seleção brasileira – e o ponteiro serviu à equipe por mais de uma década – , mas ter ido procurá-lo agora.

Mesmo sem fazer parte de um grupo de controle (ele não precisava informar seus deslocamentos) e já aposentado da seleção, Murilo foi procurado primeiro no Sesi e depois em casa para o exame surpresa em 10 de abril, em meio à semifinal da Superliga. Dias antes, o jogador havia postado no Twitter que a FIVB precisava investigar o suposto doping de jogadores do time russo nos Jogos Olímpicos de Londres – uma punição à Rússia poderia dar o ouro ao Brasil.

O resultado da análise da amostra A de Murilo foi informado a ele em 4 de maio, um dia depois de seu aniversário de 36 anos. A informação foi revelada na última quarta-feira pelo jornal O Globo, antes de a FIVB abrir a contraprova, o que deve acontecer na semana que vem, no Canadá, onde fica a sede da Agência Mundial Antidoping (Wada).

Antes mesmo do resultado da amostra B, Murilo sabe que já teve a imagem manchada. "Eu acho que um caso de doping sempre é difícil para o atleta. Quando se fala em doping, vem à cabeça o uso de esteroide, consumir algo que te faça ficar muito grande, que te permita levar vantagem e isso acaba sim manchando a imagem de qualquer atleta. Mas vocês sabem que não houve aumento de performance minha no ultimo ano", comentou o jogador, que tem lidado com lesões.

No dia seguinte à divulgação do caso de doping, o Sesi anunciou que renovou com Murilo por mais um ano, para ele jogar como líbero – Serginho está montando seu próprio time. O antigo ponteiro, porém, disse não pensar no que fará se vier a ser suspenso, o que poderia abreviar sua carreira. "Não tem nem a confirmação do problema. A partir do momento que houver a analise para-se para pensar. Seria muito sofrimento pensar nisso agora. Tem que ter um pouquinho de paciência."

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.