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Bala na Cesta

A impossibilidade de analisar a seleção brasileira com este formato das eliminatórias

Fábio Balassiano

03/07/2018 06h07

A seleção brasileira masculina terminou ontem a primeira fase das eliminatórias das Américas visando o Mundial de 2019 na China. Com uma vitória de 98-71 sobre a frágil Colômbia, o time do técnico Aleksandar Petrovic se classificou levando apenas uma derrota para a segunda etapa (o revés de sexta-feira contra a Venezuela).

Nos próximos dias a FIBA divulgará as datas e horários dos duelos, mas vale dizer que no próximo grupo que se formará (com seis times) os três primeiros já estarão direto no Mundial do ano seguinte. Para mais informações sobre o formato das Eliminatórias, clique aqui.

De todo modo, a pergunta que fica é: como analisar o desempenho do time do técnico Aleksandar Petrovic, que tem exatamente seis jogos oficiais como treinador da seleção brasileira masculina adulta. Eu respondo colocando uma imagem pra explicar meu raciocínio.

A imagem acima mostra a convocação da seleção espanhola pro jogo de ontem válido pela eliminatória europeia pro Mundial contra a Bielorrussia. Conhecem alguém? Citem quantos que vocês conhecem que estão faltando! Muitos, né? E como que se analisa o trabalho do técnico Sérgio Scariolo, que teve 5/10 dias de treino com um núcleo totalmente novo e que certamente não será usado no Mundial? Desculpem, mas fazer análise nesse cenário é impossível.

E o caso do Brasil de Petrovic é idêntico. Poucos dias de treino, muitos jogadores convocáveis faltando (Leandrinho, Augusto Lima, Raulzinho, Cristiano Felicio, Nenê etc.) e apenas dois jogos pros caras fazerem – quando antes, quando havia Copa América (acabou a Copa América aliás?), eram no mínimo 30 dias de treino e uma pancada de jogo para gerar entrosamento e intensidade. Beira o inacreditável que uma das poucas coisas que funcionavam no Mundo FIBA (o calendário e suas competições continentais) tenha sido alterado para isso aí.

Agora pensem na cabeça do técnico, recém chegado ao país, que tem que convocar 12/15 atletas pra jogos insossos em Colômbias, Paraguais e afins e que na hora do filé mignon do Mundial provavelmente terá que chamar 8/9 caras completamente diferentes. Como que administra isso?

Como que analisa um time que em quatro jogos recentes teve no perímetro jogadores tão diferentes como Ricardo Fischer, Yago, Leandrinho, Rafa Luz, Scott Machado, Marcelinho Huertas, Vitor Benite, Leo Meindl, Jimmy, entre outros? Se é óbvio que o time precisa ganhar corpo, entrosamento, também é cristalino que com este formato esdrúxulo das eliminatórias é quase impossível que isso aconteça neste momento, sinceramente falando. Basquete não é um esporte de juntar grandes peças e pronto, mas sim de encaixá-las com jogos, treinos, problemas e situações colocadas pelos adversários. Essa evolução não tem como vir neste momento devido ao calendário FIBA.

Sendo assim, este texto não é uma defesa para Petrovic, a quem nem conheço, mas sim uma tentativa de ser um pouco mais racional ao se analisar um trabalho que não tem um ano e nem 10 jogos oficiais (com grupos totalmente diferentes) realizados. Li tanta coisa de sexta-feira, quando de fato o Brasil não jogou bem contra a Venezuela, pra cá que achei melhor colocar um pouco de luz na discussão. O tema Marquinhos, convocado, cortado após pedido do atleta e nunca mais chamado merece um capítulo à parte, ok? Voltarei ao tema em breve.

A conclusão é óbvia, mas vale registrar. Um pouco mais de paciência e um torneio grande, longo e com o elenco completo creio que será o mais apropriado para fazermos uma análise a respeito do trabalho do técnico e sabermos realmente a quantas anda a seleção brasileira. E a este torneio damos um nome: Mundial de 2019.

Por enquanto, o negócio do time de Petrovic é mesmo somar vitórias, sejam elas como forem, para chegar ao Mundial e aí sim ter tempo de treinar, se preparar e jogar com um pouco mais de continuidade.

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