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Alexander Zverev: campeão de Masters, top 10 e a maturidade que chegou

Alexandre Cossenza

22/05/2017 04h02

Bombas a mais de 200 km/h o tempo inteiro no primeiro saque; um canhão no forehand; outro na esquerda; a mão leve para usar a curtinha perfeita de qualquer lado; uma movimentação rara para um tenista de 1,98m; e o sangue frio para derrotar Novak Djokovic em uma final de Masters 1.000 sem ceder um break point sequer. Ponto após ponto, Alexander Zverev, 20 anos, mostrou todos os recursos neste domingo, na final de Roma. Fez todos os muitos recursos de seu jogo funcionarem ao mesmo tempo. Uma combinação imbatível que fez do alemão o primeiro atleta nascido nos anos 1990 a vencer um Masters e, de bônus, o colocou no top 10 pela primeira vez.

O talento de Zverev nunca esteve em dúvida. O rapaz tem o pacote completo e faz tudo sem fazer força. Não por acaso, é o queridinho dos técnicos (especialmente do meu amigo Sylvio Bastos). A consistência é que lhe escapou em momentos importantes antes deste domingo. A cabeça fria para superar esses momentos também. Mas Sascha já tinha vitórias grandes aqui e ali. Ele, aliás, foi o responsável por uma das duas derrotas de Roger Federer em torneios oficiais este ano. Faltava fazer isso em um torneio grande. Contra um grande. Com pontos e um troféu em jogo. Não falta mais.

Na decisão do torneio romano, Zverev foi maiúsculo por 1h21min. Sacou como quase sempre, com uma média (!!!) de 203 km/h no primeiro serviço, plantou-se na linha de base distribuindo pancadas profundas e martelou Djokovic com golpes de fundo em velocidade média de 122km/h (contra 113 km/h do sérvio). Fez mais winners (16 a 11), errou menos (14 a 27) e só perdeu nove pontos com o saque – diante do melhor devolvedor do planeta e em uma quadra de saibro.

A impressão que dava para quem via o jogo é que Djokovic tentava se segurar até que o bom momento do garotão passasse. Como em tantas ocasiões, talvez o sérvio só precisasse de um vacilo para tomar o controle das ações. No entanto, apesar da cor da indumentária escolhida em Roma, a carruagem de Zverev nunca virou abóbora. O encanto não se desfez. O ex-adolescente – completou 20 mês passado – jogou como homem feito. Um "veterano de 20" desbancando o campeão que fez 30 anos um dia depois. A maturidade chegou.

"O que acontece com Novak Djokovic?" é a pergunta mais comum hoje em dia quando o sérvio sofre uma derrota. Neste domingo, a resposta é simples. Zverev aconteceu. Não houve lapso mental, não houve aquele game afobado de três erros não forçados, não houve ansiedade à beira do maior título da carreira. Pelo contrário. Sascha fechou a conta logo no primeiro match point, cortesia de um erro bobo do número 2 do mundo.

Difícil prever o quanto esse título muda na mentalidade de Zverev daqui em diante. Alguns campeões dão um tremendo salto após o primeiro grande feito. Outros, nem tanto. Concreto mesmo, por enquanto, é que Sascha se coloca no bolo de candidatos em Roland Garros. Depois de um começo pouco animador, com uma derrota por 6/1 e 6/1 para Nadal em Monte Carlo e outro revés diante de Hyeon Chung em Barcelona, o alemão se encontrou no saibro europeu. Foi campeão em Munique, avançou às quartas em Madri e levantou o troféu em Roma. Nada mau…

Coisas que eu acho que acho:

– A derrota de Nadal diante de Thiem não deve preocupar demais os fãs do espanhol. Após três títulos (MC, Barcelona e Madri), o desgaste ficou evidente. Além do que já comentei sobre o jogo no Twitter, vale citar que a pausa antes da final em Roma deve fazer bem ao atual número 4 do mundo. A cabeça fresca e a confiança de quem bateu quase todo mundo nos últimos meses fazem Nadal ainda mais perigoso.

– O revés de Thiem diante de Djokovic, por sua vez, deixa duas coisas bem óbvias: o desgate da sequência de jogos e a dificuldade do austríaco com alguém que joga mais colado à linha de base. É aquela velha história do "jogo que não casa". Além disso, o austríaco é um grande tenista, mas ainda oscila mais do que gostaria. Por mais que tenha sido uma atuação invejável do sérvio, o 6/1 e 6/0 fez Thiem voltar à terra após a estupenda apresentação contra Nadal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.