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Bala na Cesta

Profissão perigo? Na NBA, cargo de técnico é sinônimo de estabilidade

Fábio Balassiano

18/10/2017 06h30

Nós, brasileiros, estamos mais do que acostumados a abrir os sites na segunda-feira e nos depararmos com a seguinte notícia (ou uma variação dela): "O técnico X não resistiu a mais um resultado negativo e foi demitido do Y, clube que dirigia há 2/3 meses". Até o momento, no Brasileirão deste ano, já foram 21 trocas em 27 rodadas, uma média absurda de 0,75 demissão/rodada. A última foi a de Cuca, que não ficou seis meses após retornar ao Palmeiras com o qual foi campeão nacional em 2016.

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A NBA, por sua vez, prefere a segurança a periculosidade do cargo. A liga nunca apresentou uma estabilidade tão grande aos cargos técnicos principais das equipes. Do campeonato passado (2016/2017) para este que começou ontem nos Estados Unidos com as vitórias do Cavs contra o Celtics (102 a 99 no jogo que viu a lesão gravíssima e bem triste de Gordon Hayward, que fazia a sua estreia vestindo a camisa dos Celtics) e do Rockets contra o Warriors (122 a 121) não houve NENHUMA troca no comando das 30 franquias, feito que aconteceu pela última vez em 1970/1971, quando a liga tinha apenas 17 times (13 a menos que em 2017/2018).

As últimas mexidas aconteceram após a temporada 2015/2016, quando sete comandantes foram demitidos ou não tiveram seus contratos renovados pelas franquias. Um deles, Dave Joerger, saiu de um time (o Memphis Grizzlies) direto para outro no torneio seguinte (o Sacramento Kings em 2016/2017). Na média dos últimos quatro anos, pelo menos três equipes mudaram seus treinadores ou com o campeonato em andamento ou após a finalização da disputa.

O melhor exemplo de estabilidade atende pelo nome de Gregg Popovich. Um dos melhores técnicos de todos os tempos, ele dirige o San Antonio Spurs desde 1996/1997. Com 1.150 vitórias em temporadas regulares ao longo de 21 anos com o time texano, Pop precisa de apenas 25 para superar George Karl e Phil Jackson, tornando-se o quinto técnico com o maior número de vitórias na história da liga. Caso consiga 61, ultrapassa Pat Riley, o quarto com 1.220. Com ele no comando, o Spurs alcançou 50+ vitórias nos últimos 18 (recorde histórico), tem campanhas positivas por 20 anos seguidos (também recorde) e joga playoff de forma seguida há 20 anos (o recorde é de 22 do Sixers).

Outros que chegam a marca de no mínimo quatro anos no mesmo time são Erik Spoelstra e Rick Carlisle, respectivamente o Miami Heat e o Dallas Mavs desde 2008/2009, Dwane Casey (no Toronto Raptors desde 2011/2012), Terry Stotts (Portland Trail Blazers desde 2012/2013), Mike Budenholzer (Atlanta Hawks desde 2013/2014), Steve Clifford (Charlotte Hornets desde 2013/2014), Doc Rivers (no Los Angeles Clippers desde 2013/2014), Brad Stevens (no Boston Celtics desde 2013/2014) e Brett Brown (no Philadelphia 76ers desde 2013/2014). Destes, Pop, Spoelstra, Budenholzer, Clifford, Stevens e Brown dirigiram a equipe em que estão atualmente em toda carreira na NBA.

Atualmente a NBA possui seis técnicos com títulos já conquistados: Gregg Popovich (cinco pelo San Antonio Spurs), Steve Kerr (dois com o Warriors), Erik Spoelstra (dois com o Heat – na foto acima), Tyronn Lue (um com o Cavs), Rick Carlisle (um com o Mavs) e Doc Rivers (hoje comandante do Clippers, ele foi campeão com o Celtics em 2008).

Na maior liga de basquete do planeta (arrisco-me a dizer que é a melhor liga profissional de todos os esportes), contratações e demissões têm um motivo, uma razão, uma "chave" para acontecer (e não por justificativa às pressões da torcida, como vemos por aqui). Há "projetos" de reconstrução, há times que precisam ganhar rápido, há times que sabem que ganharão por muito tempo. E aí o treinador é escolhido para liderar, na quadra, aquilo que a administração da franquia visualiza para seu específico cenário.

É óbvio que pode ser apenas coincidência ou um certo exagero de termos os 30 técnicos de 2017/2018 iguais aos de 2016/2017, mas a estabilidade da NBA não é "de agora" e fala muito sobre a maneira profissional, e não passional, como os times são dirigidos por lá.

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