Como Karolina Pliskova chega ao topo do mundo (depois de outra chance perdida por Halep)
Quando Angelique Kerber caiu diante de Garbiñe Muguruza nas oitavas de final em Wimbledon, ficou decidido: o circuito feminino teria uma nova número 1 depois do slam britânico. Como Karolina Pliskova já estava eliminada, bastava a Simona Halep alcançar as semifinais para garantir também a liderança do ranking.
Não que fosse a tarefa mais fácil do mundo. A romena precisava passar por Victoria Azarenka e Johanna Konta. Bateu a bielorrussa, mas faltava a britânica. Venceu o primeiro set no tie-break. Foi ao game de desempate também na segunda parcial. Teve 5/4 e saque. Esteve a dois pontos do número 1. Não conseguiu. A tenista da casa venceu quatro pontos seguidos, forçou o terceiro set e acabou triunfando por 6/7(2), 7/6(5) e 6/4.
O resultado deu a Karolina Pliskova a liderança do ranking – algo que será confirmado na próxima segunda-feira. A tenista tcheca, de 25 anos, será mais uma "número 1 sem slam". Até a metade do ano passado, aliás, Pliskova tinha um histórico de decepções nos quatro torneios mais importantes do circuito. O que mudou, então, e permitiu que ela chegasse ao posto mais alto do ranking?
Welcome to World No.1 @KaPliskova! ☝️ pic.twitter.com/oqQrqaGF2G
— WTA (@WTA) July 11, 2017
A maior mudança foi seu desempenho nos slams. A começar pelo US Open do ano passado, quando alcançou a final após bater gente como Venus (oitavas) e Serena Williams (semi). No Australian Open, parou nas quartas. Em Roland Garros, onde seu tênis deveria ser menos eficiente, foi até a semi. A derrota na segunda rodada em Wimbledon (para a semifinalista Rybarikova) foi o pior resultado entre os quatro.
E se falta um slam, sobra consistência em torneios menores. Em sua soma atual de pontos, Pliskova conta os títulos de Cincinnati, onde bateu Kuznetsova, Muguruza e Kerber; Brisbane, onde superou Vinci, Svitolina e Cornet; Doha, onde derrotou Cibulkova e Wozniacki; e Eastbourne, com vitórias sobre Kuznetsova e Wozniacki. Vitórias grandes não faltaram. "Apenas" títulos grandes.
É cruel, mas compreensível. Até que conquiste um slam, Pliskova não terá o mesmo reconhecimento da maioria de suas antecessoras no topo. São os títulos nos quatro grandes, afinal, que marcam. Vencer um slam é o momento máximo de glória de um tenista. Ainda falta isso à tenista tcheca. Como faltou para Safina, Jankovic e Wozniacki.
Não é só isso. Não dá para ignorar que o caminho de Pliskova até o topo foi descomplicado por uma série de fatores: a gravidez de Serena, a maternidade de Azarenka, o doping de Sharapova, a lesão de Kvitova e a péssima, péssima fase de Kerber. Ah, sim: e as chances perdidas por Simona Halep, que esteve a dois games do número 1 em Roland Garros e a dois pontos do topo em Wimbledon.
Pliskova, contudo, tem méritos. Vários. Tem 1,86m de altura e não nasceu com o dom de se movimentar como algumas de suas colegas mais ágeis (vide Sharapova e seu 1,88m). Precisa compensar com golpes fortes, sempre medindo o risco na busca por winners sem exagerar na dose e, ao mesmo tempo, sem perder o controle do ponto. Não é fácil. A tcheca evoluiu muito nisso, e os resultados apareceram nos últimos anos. Sua irmã gêmea, Kristyna, #44 do mundo, ainda sofre.
Karolina também desenvolveu um saque invejável, que lhe dá muitos pontos de graça. E que ninguém diga que o saque vem naturalmente para alguém tão alto (vide Sharapova, seu 1,88m e suas muitas duplas faltas). E a tcheca tem uma inteligência tática para ler partidas e um controle mental raros no circuito feminino. Mostra pouco suas emoções – mesmo quando está ganhando – e quase nunca perde jogos por nervosismo. Falta o carisma que a WTA gostaria de ver (e vender) numa número 1? Sim. Falta tênis? Nem tanto.
Sobre Halep, escrevo aqui um pouco do mesmo que opinei após a final de Roland Garros, quando a romena abriu 6/4 e 3/0, depois esteve a dois games do título e terminou vendo Jelena (ou Alona, aparentemente, agora que a moça quer ressaltar as raízes ucranianas) Ostapenko levantar o troféu.
Nesta terça, Halep venceu o primeiro set contra Johanna Konta, mas nunca esteve no controle da partida. Sem um saque dominante ou golpes ultrapotentes, a romena foi agressiva sempre que conseguiu. A britânica, no entanto, não lhe permitiu tanto assim. Konta sacou bem e agrediu em quase todas devoluções. Ou errava ou tomava o controle dos pontos. Halep não conseguiu sair da defesa.
Mesmo assim, a romena teve 5/4 e saque no tie-break do segundo set. Faltavam dois pontos, e a agressividade de Konta levou a melhor outra vez. Uma derrota doída para a romena, mas é difícil condenar alguém que comete apenas nove erros não forçados em 36 (!!!) games. Agora, com o placar nas mãos, parece fácil julgar e dizer que Halep precisava correr riscos, mas quem garante que o resultado seria outro? A romena poderia atacar mais, errar mais e facilitar a vida de Konta. Quem sabe?
E o que mais?
As semifinais estão definidas com Muguruza x Rybarikova e Venus x Konta. Muguruza foi imponente outra vez (hoje contra Svetlana Kuznetsova), enquanto Rybarikova foi inteligente e deixou Coco Vandeweghe se autodestruir, especialmente depois que a partida foi transferida para a Quadra Central. Não que a eslovaca tenha menos mérito por isso. Ela, aliás, já derrotou Muguruza na grama (Birmingham/2015) e pode muito bem fazê-lo outra vez. Será?
Enquanto isso, Venus venceu a pancadaria com Jelena Ostapenko e está em sua décima semifinal de Wimbledon – um feito enorme. A pentacampeã deve encontrar mais problemas com Johanna Konta, que saca melhor do que a letã e vem sendo a tenista mais regular da temporada de grama. Sem falar, é claro, na torcida britânica.
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